Resenhas A Conversação e Inimigo do Estado Ética
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Hacker Ethic and the Spirit of the Information Age
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A Conversação (The Conversation). EUA, 1974. Dir. Francis Ford Coppola. Com Gene Hackman, John Cazale, Frederic Forrest, Harrison Ford. Inimigo do Estado (Enemy of the State). EUA, 1998. Dir. Tony Scott. Com Will Smith, Gene Hackman, Jon Voight, Lisa Bonet. por Rafael Evangelista
Em A Conversação, Gene Hackman, sob a direção de Francis Ford Coppola, interpreta Harry Caul, um especialista em sistemas de escuta que, a partir da gravação da conversa de um casal que passeia por uma praça, questiona-se sobre as conseqüências de sua profissão. Caul, à medida em que trabalha na gravação e torna mais clara a conversa, passa a envolver-se com o caso, contrariando a regra que anuncia logo no início do filme a um assistente: "Não interessa o que eles falam. Eu só quero gravar tudo". Com o desenrolar da história, descobrimos que Harry Caul, no passado, viu uma de suas gravações resultar na morte de uma família. A tragédia fez com que ele mudasse de cidade e procurasse não se envolver com o que grava. "No trabalho não podemos ter sentimentos, nos limitamos a fazê-lo", diz ele em determinado momento. No entanto, não é isso o que acontece. A conversa no parque mostra-se reveladora de um possível assassinato. O final da história surpreende e a entonação não percebida de uma frase dita no parque contém a informação crucial. Já Inimigo do Estado é a história do advogado Robert Dean, interpretado por Will Smith, que, sem saber, recebe de um antigo colega um disquete que contém a gravação do assassinato de um senador. O político manifestava-se contra a aprovação de uma lei que permitiria uma maior vigilância, por parte do Estado, de conversas telefônicas e gravações de imagens dos cidadãos por satélites. O autor do assassinato é um chefe da Agência Nacional de Segurança norte-americana, o que coloca o sistema da Agência atrás de Dean. Segue-se, então, uma demonstração impressionante de como é fácil vigiar os passos e as conversas de qualquer um.
Hackman também participa do filme, com um personagem que é uma clara citação do vivido em A Conversação. Se esquecermos o passado relatado por Brill - o nome falso do personagem de Hackman que vai ajudar Dean - podemos entender que ele é Harry Caul em 1998. Estão lá os mesmos óculos de grossos aros pretos com estilo anos 70 e o mesmo galpão de trabalho que usa o personagem de A Conversação. Até a cena da conversa no parque que aparece no início filme de Coppola é refilmada (inclusive com as distorções da gravação da conversa), uma agradável surpresa para quem viu o filme mais antigo. Enquanto Inimigo do Estado é um típico suspense de ação, A Conversação é um drama introspectivo e psicológico, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Inimigo do Estado é um bom filme e A Conversação é excelente. A dica é ver os dois (A Conversação primeiro). É irônico como, no filme dos anos 70, quando o Estado ainda era mais forte do que as corporações, quem contrata os serviço de escuta são particulares. No filme mais atual, quando a relação se inverteu, quem faz a espionagem são agentes do Estado. A sensação que fica é que, se alguém estiver interessado em monitorar a sua vida e tiver recursos para isso, certamente vai conseguir. As câmeras embutidas nas televisões, descritas por George Orwell na ficção 1984, estão, na verdade, espalhadas por todos os lugares, inclusive no espaço. Numa sociedade onde a informação é tudo, a tecnologia se dispõe a fornecê-la, em sua totalidade. |
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