Resenhas A Conversação e Inimigo do Estado Ética
e Poder na Sociedade da Informação Cibercultura The
Hacker Ethic and the Spirit of the Information Age
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A Conversação (The Conversation). EUA, 1974. Dir. Francis Ford Coppola. Com Gene Hackman, John Cazale, Frederic Forrest, Harrison Ford. Inimigo do Estado (Enemy of the State). EUA, 1998. Dir. Tony Scott. Com Will Smith, Gene Hackman, Jon Voight, Lisa Bonet. por Rafael Evangelista Câmeras, microfones, escutas telefônicas, sistemas de computadores interligados, satélites e até, aparentemente inofensivos, telefones celulares são alguns dos aparelhos tecnológicos que podem ser utilizados para se obter informações sobre qualquer cidadão. Em busca de aumentar o controle sobre a crescente violência urbana, câmeras de monitoramento e modernos sistemas de vigilância estão hoje espalhados pelos mais diversos lugares, em grandes e pequenas cidades. Desde túneis, lojas de conveniência e grandes magazines até pacatas ruas de cidades interioranas e corredores de bibliotecas, são monitorados para se coibir roubos ou mesmo o tráfego de carros com excesso de velocidade. Isso tudo sem falar nos satélites que captam imagens da Terra com resolução de até um metro (estas podem ser vendidas comercialmente, já as imagens com resolução maior são restritas aos militares). A Conversação e Inimigo do Estado são dois filmes que, apesar de produzidos com um intervalo de 24 anos, tratam desse mesmo assunto, o fim da privacidade pela tecnologia. De certa forma são filmes que se complementam, o último atualizando o estado da tecnologia descrita pelo primeiro. Em A Conversação, Gene Hackman, sob a direção de Francis Ford Coppola, interpreta Harry Caul, um especialista em sistemas de escuta que, a partir da gravação da conversa de um casal que passeia por uma praça, questiona-se sobre as conseqüências de sua profissão. Caul, à medida em que trabalha na gravação e torna mais clara a conversa, passa a envolver-se com o caso, contrariando a regra que anuncia logo no início do filme a um assistente: "Não interessa o que eles falam. Eu só quero gravar tudo". O filme é um mergulho no drama de Caul, alguém que sabe como a privacidade é algo frágil e, por isso, torna-se um homem atormentado. Ele conhece todas as possibilidades da tecnologia (de meados dos anos 70, imagine a de hoje!) e sabe que é impossível não ser bisbilhotado. Sua paranóia é tão grande que acaba tendo uma vida vazia, não se ligando a nada e não revelando quem é e o que faz nem ao menos à mulher que ama. Quando ela tenta descobrir sobre a história pessoal de Caul ele a abandona. Com o desenrolar da história, descobrimos que Harry Caul, no passado, viu uma de suas gravações resultar na morte de uma família. A tragédia fez com que ele mudasse de cidade e procurasse não se envolver com o que grava. "No trabalho não podemos ter sentimentos, nos limitamos a fazê-lo", diz ele em determinado momento. No entanto, não é isso o que acontece. A conversa no parque mostra-se reveladora de um possível assassinato. O final da história surpreende e a entonação não percebida de uma frase dita no parque contém a informação crucial. Já Inimigo do Estado é a história do advogado Robert Dean, interpretado por Will Smith, que, sem saber, recebe de um antigo colega um disquete que contém a gravação do assassinato de um senador. O político manifestava-se contra a aprovação de uma lei que permitiria uma maior vigilância, por parte do Estado, de conversas telefônicas e gravações de imagens dos cidadãos por satélites. O autor do assassinato é um chefe da Agência Nacional de Segurança norte-americana, o que coloca o sistema da Agência atrás de Dean. Segue-se, então, uma demonstração impressionante de como é fácil vigiar os passos e as conversas de qualquer um.
Hackman também participa do filme, com um personagem que é uma clara citação do vivido em A Conversação. Se esquecermos o passado relatado por Brill - o nome falso do personagem de Hackman que vai ajudar Dean - podemos entender que ele é Harry Caul em 1998. Estão lá os mesmos óculos de grossos aros pretos com estilo anos 70 e o mesmo galpão de trabalho que usa o personagem de A Conversação. Até a cena da conversa no parque que aparece no início filme de Coppola é refilmada (inclusive com as distorções da gravação da conversa), uma agradável surpresa para quem viu o filme mais antigo. Enquanto Inimigo do Estado é um típico suspense de ação, A Conversação é um drama introspectivo e psicológico, vencedor da Palma de Ouro em Cannes. Inimigo do Estado é um bom filme e A Conversação é excelente. A dica é ver os dois (A Conversação primeiro). É irônico como, no filme dos anos 70, quando o Estado ainda era mais forte do que as corporações, quem contrata os serviço de escuta são particulares. No filme mais atual, quando a relação se inverteu, quem faz a espionagem são agentes do Estado. A sensação que fica é que, se alguém estiver interessado em monitorar a sua vida e tiver recursos para isso, certamente vai conseguir. As câmeras embutidas nas televisões, descritas por George Orwell na ficção 1984, estão, na verdade, espalhadas por todos os lugares, inclusive no espaço. Numa sociedade onde a informação é tudo, a tecnologia se dispõe a fornecê-la, em sua totalidade. |
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