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Astronomia: uma visão geral do Universo
Amâncio Friaça e outros (org.)

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Astronomia: uma visão geral do Universo
Amâncio C. S. Friaça, Elisabete dal Pino, Laerte Sodré Jr. E Vera Jatenco-Pereira (org.).
Edusp, São Paulo, 2000

por Roberto Belisário

Todos os meses são anunciadas descobertas e fatos científicos relevantes em Astronomia, o que faz dela uma das áreas do conhecimento mais efervescentes atualmente. Só de um ano para cá podemos citar, entre as mais importantes: a observação de vários planetas fora do sistema solar [1], a primeira vez em que uma sonda espacial orbita ao redor de um asteróide (a sonda ao redor do asteróide Eros; deverá pousar nele em 12 de fevereiro) [2], a observação de 12 novas luas de Saturno e 10 de Júpiter [3], e a descoberta de que a densidade de matéria no Universo está no limiar do necessário para que o Cosmos continue a se expandir para sempre (hipótese do "Universo plano") [4], o que elevou bastante a credibilidade de uma nova e revolucionária teoria sobre o Big Bang e a evolução do Universo, a Teoria do Universo Inflacionário de Alan Guth [5].

Essas descobertas aparecem na mídia de forma fragmentada e não raras vezes falha [6]. No jornalismo científico, a complexidade do assunto, muitas vezes, impede uma postura crítica do leitor frente às notícias e reportagens. Além disso, na mídia, a escolha dos assuntos e o teor dos textos estão muitas vezes impregnados de sensacionalismo. Tudo isso torna difícil de se ter uma percepção da importância dos assuntos e separar o joio do trigo.

O livro Astronomia: uma visão geral do Universo, organizado pelos pesquisadores da USP, Amâncio C. S. Friaça, Elisabete dal Pino, Laerte Sodré Jr. e Vera Jatenco-Pereira, é uma oportunidade para o leitor adquirir uma base adequada para compreender as novidades na área e de poder apreciar, em sua verdadeira plenitude, o formidável desenvolvimento da astronomia atual.

Cada capítulo foi escrito por um autor, todos cientistas, especializados nos diversos assuntos. Não se trata de um texto comum de divulgação em Astronomia: a linguagem não invoca as metáforas e simplificações ou os artifícios literários característicos da maior parte dos textos de divulgação científica. A Astronomia, entretanto, é lúdica por si só e o leitor pode testemunhar isso através dos textos. Além disso, com essa abordagem ganha-se em precisão dos conceitos e informações e na fidelidade à prática de citar referências.

Há que se notar que, sendo escrito por vários autores, o nível de complexidade dos textos é bem variado. Alguns contêm fórmulas que podem torná-los pouco permeáveis ao leitor sem formação em Matemática (como o capítulo 7, sobre estrelas). Mas a maior parte é bastante acessível.

Não é só isso que diferencia esse texto da maioria dos outros. Grande parte do que chega até nós sobre astronomia vem do Hemisfério Norte e contêm disparates como ensinar a orientar-se pela Estrela Polar, invisível para nós, ou identificar as fases da Lua de maneira inversa à do Hemisfério Sul [7] - além de usar termos de comparação como "do tamanho do Estado da Pensilvânia". Todos os autores desse livro são brasileiros, vantagem indiscutível numa ciência cujos elementos referenciais mudam de um hemisfério para outro.

A obra faz um panorama geral do conhecimento atual sobre o Cosmos, começando com uma exposição da Mecânica Celeste e da Astronomia de Posição (que descreve fenômenos devidos ao movimento dos astros - eclipses, sucessão dos dias e das noites, etc.). O restante, a maior parte do livro, fala sobre Astrofísica, numa abordagem de dentro para fora - começando pelo nosso Sol familiar, passando para o Sistema Solar em geral, as outras estrelas, a nossa galáxia, chegando às profundezas do espaço cósmico e, finalmente, ao Universo como um todo. No início, após uma deliciosa introdução geral, aparece um texto sobre os principais instrumentos astronômicos, importante para o leitor saber de onde vêm todas essas descobertas fantásticas. No final, há um pequeno atlas com belas imagens coloridas.

O conteúdo do livro reflete o estágio atual da Astronomia. Várias questões em aberto são mencionadas, mostrando que as fronteiras da ciência estão em constante movimento. Muitos tópicos que há pouco eram tratados superficialmente e como curiosidade em obras do gênero (quando tratados) aqui mereceram capítulos à parte, pois nos últimos anos, tornaram-se assuntos importantes. Por exemplo, há um capítulo sobre o destino final das estrelas (anãs brancas, supernovas, pulsares e buracos negros) e um sobre galáxias ativas e quasares (imensos objetos arcanos e distantes que despejam no Cosmos energia em quantidade até hoje inexplicada), refletindo as teorias atuais que identificam os quasares com núcleos de galáxias.

Foi incluída, ainda, uma seção sobre as implicações da teoria do caos na astronomia moderna e um capítulo inteiro sobre a distribuição das galáxias no Universo, onde se discute a importantíssima descoberta, feita nos últimos anos, de que a distribuição da matéria no espaço cósmico não é homogênea: os grupos e supergrupos de galáxias aglomeram-se em "paredes" com enormes espaços vazios entre elas, fazendo com que o Cosmos se assemelhe a uma esponja.

Este livro pode servir tanto como uma leitura interessante sobre Astronomia como uma obra que o leitor pode consultar quando quiser conhecer mais profundamente algum assunto. Mesmo levando a um pequeno acréscimo na dificuldade do texto, a precisão e a atualidade das informações tornam-no muito recomendável.

 

[1] Ver, por exemplo, Jean-Francois Augereau, Jornal da Ciência de 16/01/00, item 11, e Revista Com Ciência, seção de notícias de 02/02/01.

[2] Site do projeto NEAR-Shoemaker

[3] Revista Com Ciência, seção de notícias de 12/01/01

[4] Roberto Belisário, O Universo não é chato, Observatório da Imprensa de 05/05/00.

[5] Alan Guth, O Universo Inflacionário, editora Campus, 1997

[6] Roberto Belisário, Desastre Jornalístico, Observatório da Imprensa de 20/05/00.

[7] Por exemplo, para saber se a Lua está no quarto minguante ou crescente, basta lembrar que, nesta fase, a sua parte iluminada lembra a letra D maiúscula. Porém, no Hemisfério Norte ela tem esse aspecto no quarto crescente.

Atualizado em 10/12/00
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