Pesquisadores e comunidade envolvidos na Estação Ecológica
Atividades econômicas não podem ameaçar a biodiversidade
Pesquisas norteiam planos de conservação
 

Implantação da Estação Ecológica dos Tupiniquins envolve participação de comunidades e pesquisa sobre fauna e flora das ilhas

reportagem: Sara Nanni
fotos: Ibama
edição: Refael Evangelista e
Simone Pallone

É difícil imaginar que até mesmo as ilhas sofram os impactos das atividades humanas. Algumas estão longe do olhar dos homens, no entanto, correm o risco constante de ter sua biodiversidade comprometida. O turismo e a pesca industrial, por exemplo, já chegaram a algumas ilhas do litoral sul de São Paulo e são atividades que geralmente se desenvolvem de forma desordenada, sem levar em conta a preservação ambiental. Para assegurar a conservação dos recursos naturais dessas ilhas, foi criada a Estação Ecológica dos Tupiniquins, em 1986, sob responsabilidade do Ibama. Porém, apenas em 2000 foram iniciados trabalhos preliminares para a efetiva implantação da Estação através do projeto "Apoio à implantação da Estação Ecológica dos Tupiniquins (ESEC) e Área de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) da Queimada Grande e Queimada Pequena". Está mais perto a possibilidade de dar sentido real à definição de estação ecológica pretendida pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação, que busca aliar a preservação da natureza à realização de pesquisas científicas.

Até fevereiro deste ano foram feitas: a divulgação das ilhas através de cartazes, panfletos, palestras e oficinas de educação ambiental para as comunidades que vivem nas vilas e cidades ao redor; a sinalização com a colocação de placas; e o levantamento dos diferentes tipos de uso e usuários (como turistas e pescadores) e o impacto causado por eles. Além disso, houve coleta de dados adicionais da biodiversidade, com pesquisas sobre a vegetação, a ictiofauna (peixes) e os invertebrados existentes nas ilhas. "Listamos os problemas que existem e que estão impactando a estação e as outras ilhas", conta a bióloga Alineide Lucena, que colaborou com o projeto na área de educação ambiental.

Algumas das ilhas abrangidas pelo trabalho estão próximas às cidades de Peruíbe (SP) e Itanhaém (SP) - Ilhas de Peruíbe, da Queimada Grande, da Queimada Pequena, Ilhote das Gaivotas e o Parcél Noite Escura - e de Cananéia (Ilhas do Castilho e do Cambriú). O projeto de implantação das unidades foi financiado pelo Fundo Nacional do Meio Ambiente e pela Petrobras, e executado em parceria com o Ibama, pelo Centro de Estudos Ecológicos Gaia Ambiental, com a coordenação da oceanógrafa Danielle Palulo.

No projeto, foram consideradas as ilhas que ficam no entorno das Unidades de Conservação. Muitas apresentam sinais de degradação. É o caso das Ilhas do Bom Abrigo e da Figueira. Há também a área de preservação permanente Laje da Conceição, que pertence a Itanhaém, e a Ilha de Guaraú, que fica perto da Estação Ecológica da Juréia. Ambas são tombadas pelo Condephaat (Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico, Arqueológico e Turístico do Estado de São Paulo). Segundo a oceanógrafa Danielle Paludo, essa integração ocorreu porque a Estação Ecológica dos Tupiniquins é uma unidade de conservação descontínua, na qual a distância entre as ilhas chega a 200 quilômetros. Seu gerenciamento depende de ações em todo o mar regional.

Macho de fragata - ilhas servem para pouso e nidificação das aves marinhas

Todas as ilhas são formadas por rochas e vegetação de Mata Atlântica e são utilizadas por aves marinhas para pouso e nidificação (fazer ninhos). Nas Ilhas do Castilho, de Peruíbe e da Queimada Pequena é comum avistar, durante todo o ano, o atobá (Sula leucogaster), a fragata (Fregata magnificens) e o gaivotão (Larus dominicanus). Uma espécie migratória, o trinta-réis (Sterna hirundinacea), já foi encontrada em colônias reprodutivas no Castilho e é provável que faça ninhos na Queimada Pequena. Já foram vistos ninhos de espécies ameaçadas de extinção e que se tornaram raras, como do papagaio-da-cara-roxa (Amazona brasiliensis), na Ilha do Cambriú, e do trinta-réis real (Sterna maxima).

A parte das ilhas que fica submersa também tem motivos para ser preservada. A tartaruga verde (Chelonia mydas) e a tartaruga de pente (Eretmochelys imbricata) usam essas áreas para descanso e alimentação e, principalmente durante o inverno. São freqüentadas também pelos lobos marinhos com a mesma finalidade. O fundo raso ao redor das ilhas é, ao mesmo tempo, abrigo e criadouro de peixes raros (como o mero e a garoupa) e de organismos aquáticos.

As ilhas também são importantes para os pescadores artesanais e recebem grande número de pescadores esportivos, levados pelas marinas e por operadoras de turismo dos municípios da região.

Impactos - O projeto, através de entrevistas com pescadores, piloteiros e gerentes de marinas, pôde confirmar que as principais atividades econômicas praticadas nas ilhas são a pesca e o turismo. Os arredores das ilhas são freqüentados pelos pescadores profissionais, esportivos ou tradicionais, turistas e mergulhadores. Questionários foram distribuídos com a intenção de saber, por exemplo, a freqüência com que é praticada a pesca esportiva e artesanal e os tipos de arte de pesca utilizados.

Ilha do Bom Abrigo

Assim, puderam ser identificados os problemas que afetam as unidades de conservação que compõem a parte marinha do litoral sul. No geral, as principais ameaças são a pesca predatória, as queimadas, as perturbações nos ninhais de aves marinhas, a poluição do mar (em especial por derivados de petróleo), os desmatamentos, a caça e a coleta de exemplares da fauna e da flora e a introdução de espécies exóticas de animais e vegetais. As Ilhas do Bom Abrigo e da Figueira são as mais atingidas pelo turismo relacionado à pesca esportiva e à caça submarina.

Embora a pesca esportiva seja praticada de forma irregular e possa causar impacto negativo ao ambiente (quando captura grande quantidade de peixes e mergulhadores procuram por peixes raros), a bióloga Alineide Lucena avalia que ela não é o principal problema das ilhas. "Há um consenso entre todos os pescadores a respeito da diminuição da produção pesqueira na região. A principal queixa de todos eles é a atuação ilegal e destrutiva dos grandes barcos atuneiros, arrasteiros ou parelhas, que praticam a pesca industrial", afirma Lucena. A pesca de parelhas é realizada por embarcações de grande porte em duplas e utiliza rede de arrasto. Embora seja proibida a menos de 1 milha da costa no estado de São Paulo, ela é muito praticada em áreas próximas das ilhas e da costa, prejudicando os pescadores artesanais. É grave o impacto ambiental causado nas áreas arrastadas, o que se comprova observando o rejeito da pesca, formado por grande quantidade de peixes e crustáceos ainda jovens

Educação ambiental – As ilhas da estação ecológica e as outras que foram incorporadas ao projeto, não possuem moradores. Assim, o trabalho de educação ambiental foi direcionado principalmente aos moradores da cidade de Cananéia e da Ilha do Cardoso. Mutirões de limpeza, na Ilha do Bom Abrigo e na praia de Peruíbe, tiveram a adesão de pescadores e operadoras de turismo. Inúmeras palestras levaram informações sobre a área de proteção ambiental e a estação às comunidades da Ilha do Cambriú, da vila do Pontal e às operadoras.

Dentre outros eventos, a Semana do Mar, realizada no ano passado, mobilizou alunos das escolas municipais de Cananéia em discussões que incluíram a vida marinha, a reciclagem de lixo e a fauna e a flora das ilhas. Com a realização destas e de outras atividades educativas, o que se deseja é conquistar o apoio do público no processo de implantação da estação ecológica.


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Atualizado em 30/08/2002

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