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Entrevista
Aziz Ab'Saber
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Questão
hídrica: necessidade de estudos e soluções mais eficazes
Geógrafo,
professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
da USP, autor de diversas teorias e projetos inovadores na geografia brasileira,
tendo recebido o Prêmio Santista e o Prêmio Almirante Álvaro Alberto,
oferecido pelo CNPq, o prof. Aziz Ab'Saber demonstra grande preocupação
com meio ambiente.
Em abril deste ano,
Ab'Saber declarou que a frase mais triste que já ouviu ao longo de sua
vida foi "Mãe, nós não temos mais nada nesse mundo". A frase foi proferida
por uma criança para sua mãe, cujo barraco havia desmoronado após um temporal.
À época, o professor afirmou que gostaria de repetir tal frase a FHC,
ACM, Covas e outros políticos no poder. "As autoridades têm que aprender
a complexidade do metabolismo urbano para dar uma solução à cidade", disse.
Ab'Saber referia-se a conhecimentos básicos, como quantidades de lixo
e esgoto produzidas pela população.
Antes de autoridades
se darem conta, Ab'Saber já afirmava que despoluir o rio Tietê é uma grande
utopia. "Não adianta querer limpar o rio, pois seus afluentes, pré-poluídos,
continuarão nutrindo a insalubridade", afirmou.
Como os grandes geógrafos,
Ab'Saber não consegue discorrer sobre a questão hídrica de forma isolada.
Tudo no meio ambiente interage, e o papel que se joga no chão hoje, pode
ser a gota d'água para inundar as cidades amanhã.
Com Ciência - O
Brasil pode ser considerado um país rico em mananciais?
Ab'Saber - O Brasil, por sua extensão territorial e sua posição predominantemente
entre os trópicos, com "pequena grande" área subtropical, é um dos países
mais beneficiados por rios perenes do mundo. Ainda assim, há uma área
de cerca de 750 mil km2 - o nordeste seco -, em que as drenagens são intermitentes.
Trata-se de uma região grande, cerca de três vezes o estado de São Paulo.
Observado em seu conjunto, o Brasil tem riquezas de recursos hídricos
importantíssimos, atingindo seu ápice na Amazônia.
CC- A Amazônia
possui reservas de água gigantescas - o suficiente para abastecer 500
milhões de pessoas durante cem anos. Que condições favorecem essa riqueza
de recursos?
Ab'Saber - As precipitações dentro do território brasileiro são suficientes
para garantir a perenidade de quase 7,5 milhões de espaços territoriais,
sobretudo na Amazônia, onde as chuvas anuais variam entre 1600 e 3500
mm por quase 4 milhões de km2. Há regiões mais chuvosas, como Baixo-Amazonas
e noroeste da Amazônia, e menos chuvosas, como a faixa transversal que
vai de Roraima até as proximidades do Araguai. Mesmo assim, não houve
impecilhos para se formar a floresta contínua, devido à colaboração do
clima quente e úmido.
CC - Esse fenômeno
não ocorre em regiões próximas à Amazônia, como nordeste seco e Brasil
central. Quais as diferenças essenciais entre o cerrado (Brasil central)
e a caatinga (nordeste seco)?
Ab'Saber - As variedades climáticas em regiões próximas apresentam
características próprias. O nordeste seco apresenta drenagens intermitentes
sazonais e abertas ao mar e o Brasil central caracteriza-se por clima
tropical com uma estação chuvosa e outra relativamente seca, mas rios
perenes - essa é a grande diferença entre os domínios dos cerrados e o
das caatingas. As médias anuais de chuva no cerrado chegam a ser de duas
a três vezes mais que as da caatinga. Para comparar, a região que recebe
menos chuva no nordeste seco possui média pluvial anual de 268mm, sendo
850mm o máximo registrado.
CC - Como se comportam
as chuvas na região tropical atlântica?
Ab'Saber - No Brasil tropical atlântico, que começa na faixa dos climas
tropicais úmidos, na região costeira do nordeste, e vai se alargando na
direção da Bahia, os rios são longos e muitas vezes nascem em climas secos
e passam para o úmido. A partir do sul de Minas Gerais, essa área se interioriza
muito, passando pelo Estado de São Paulo e do Paraná - viabilizando o
clima subtropical e úmido deste estado e encerrando-se na porção oriental
de Santa Catarina. Quando chega no planalto das araucárias, continua havendo
chuva suficiente para manter cursos d'água importantes e perenes.
CC - O Sr. acha
que, entre outros motivos, a riqueza hídrica da Amazônia é pólo de atração
de interesses estrangeiros?
Ab'Saber - Sim. Uma das razões por que existe grande interesse em
fazer o Brasil perder sua soberania sobre a Amazônia é essa. Muitos países
não têm mais recursos hídricos disponíveis e, não sei porquê, acham que
poderiam transportar para suas terras as águas da Amazônia - o que implicaria
um custo imenso.
Situação
no Centro Sul ...
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