Células-tronco aplicadas para a reabilitação
oral
O No
Brasil, 26 milhões de pessoas - 14,4% da população
- já perderam todos os dentes, segundo dados do Ministério
da Saúde. Diante desse número, o acesso à reabilitação
oral seria o sonho de grande parte da população. Uma
pesquisa da área odontológica, realizada por um casal
de pesquisadores da Universidade Federal Paulista (Unifesp), em
parceria com o Instituto Forsyth, da Universidade de Harvard, e
o Massachusetts General Hospital, refere-se justamente ao desenvolvimento
de uma terceira dentição através do uso de
células tronco adultas. Os estudos realizados até
agora em ratos poderão abrir um leque de alternativas clínicas
à prótese.
A
pesquisa, publicada na edição de julho do importante
periódico de odontologia, o Journal of Dental Research
(Vol.83, n.7), utilizou células-troncos adultas retiradas
da estrutura dentária de ratos para desenvolver uma terceira
dentição. As células de um animal doador foram
implantadas em outro indivíduo, resultando em baixo risco
de rejeição, ao contrário das tentativas feitas
com células embrionárias, em estágio inicial
de desenvolvimento. O uso dessas células adultas é
um expressivo avanço em relação a outras tentativas
de desenvolver dentes biológicos.
Para
o trabalho, os pesquisadores retiraram células-tronco de
germes dentais - dentes em estágio inicial de formação
-, que foram cultivadas em laboratório e depois agregadas
a moldes feitos de polímero biodegradável. Estes moldes
foram então implantados no abdômen dos ratos, pois
esta região é altamente vascularizada e permite nutrir
o implante. Doze semanas depois o molde havia sido absorvido pelo
organismo e dentes haviam se formado. Atualmente, a indução
do crescimento dos dentes está sendo testada na mandíbula
dos ratos e os resultados devem ser divulgados ainda neste ano.
"O
diferencial desta técnica é conceitual, porque almejamos
a regeneração tecidual e não a reparação
de um dano", esclarece Silvio Duailibi, pesquisador da Unifesp
que integra o estudo da terceira dentição. Os primeiros
testes foram feitos pelo Instituto Forsyth, em 2002, quando os especialistas
conseguiram regenerar coroas dentárias de porcos também
por meio de terapia com células-tronco. O passo seguinte
será utilizar células do próprio rato, sem
a necessidade de se buscar um doador, para só depois realizar
testes em humanos.
Por
enquanto, o estudo consumiu cerca de US$ 120 mil dólares
e já rendeu uma patente do estudo foi depositada em junho
no Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI).
A
pesquisa poderá estar concluída em dez anos. No entanto,
para o estudo ganhar fôlego e ser testado em humanos, será
preciso um investimento de cerca de R$3 milhões. "Estamos
confiantes que os órgãos fomentadores estão
sensibilizados com nossa causa. Esperamos que eles liberem esses
recursos para prosseguirmos com esse projeto e ajudar milhões
de brasileiros no futuro", conclui Mônica Duailibi, professora
da Unifesp que integrou a equipe de pesquisa.
O estudo poderá abrir um leque de alternativas clínicas
à prótese, mas contrasta com a precariedade de recursos
odontológicos disponíveis para a população
de baixa renda. Segundo o presidente da Associação
Brasileira de Odontologia, Norberto Francisco Lubiana, o contraste
é fruto da negligência histórica do poder público
com a atenção à saúde bucal. Para ele,
a ciência produziu meios para o entendimento dos fatores que
levam à destruição dos dentes, mas os governantes
brasileiros ainda não transformaram os resultados da evolução
científica em ações efetivas de proteção
da dentição natural.
Planos
concretos
A reabilitação oral faz parte do programa nacional
de saúde bucal, o Brasil Sorridente, lançado no mês
de março. O programa envolve um investimento de R$ 1,2 bilhão
até o fim de 2006 e uma de suas metas é a construção
de 354 centros odontológicos com laboratórios de prótese
dentária, em municípios estratégicos que servirão
de referência para suas regiões. Haverá também
outras iniciativas como a adição de flúor na
água encanada e a distribuição de kits - compostos
por escova e creme dental - para 500 mil alunos da rede pública
de ensino. Atualmente, cerca de 45% da população brasileira
não têm acesso a escovas de dente, de acordo com dados
do Ministério da Saúde.
Para
amenizar o problema, o governo lançou o programa "Brasil
Sorridente" que pretende literalmente preencher essa lacuna,
através da construção de laboratórios
de prótese dentária em todo o país. A medida,
porém, mostrou que o Brasil possui um imenso contraste entre
as tecnologias que estão sendo desenvolvidas na área
e as ações efetivas de proteção da saúde
bucal da população.
"Nós
achamos certíssima a medida do governo em construir laboratórios
de prótese dentária em várias cidades do país,
pois esta é a tecnologia disponível neste momento
para a cura" afirma Silvio Duailibi. Ele acrescenta que apesar
dos sérios problemas financeiros, o governo brasileiro também
deve investir em pesquisas com o objetivo de desenvolver novas linhas
terapêuticas.
Leia
mais sobre o assunto:
http://www.comciencia.br/200405/reportagens/05.shtml