Ascenção e queda de satélites e estações espaciais
   
 
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Ascenção e queda de satélites

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Poema
 


Satélites artificiais são lançados em órbita da Terra com diversos fins. Os principais são:

Brasilsat, o satélite brasileiro de telecomunicações.
Fonte: EMBRATEL

* Satélites de comunicações servem para transmissões à distância, como nas "transmissões via satélite" de televisão. Um exemplo é o satélite brasileiro Brasilsat

* Satélites de sensoriamento remoto estudam a superfície terrestre, através de poderosas lentes. Podem produzir fotos da superfície com precisão de até um metro, como as presentes no site da Terraserver. Orbitam a uma altitude acima de 480 km.

* Satélites meteorológicos, como o GOES, são usados para a previsão do tempo.

* Satélites de posicionamento global são usados por navios e aviões (ou por qualquer pessoa) para determinar sua posição em qualquer ponto da Terra. ·

* Satélites de pesquisa científica, como o Hubble, são usados principalmente para observações astronômicas.

* Satélites para fins militares, incluindo satélites espiões.

A altitude da órbita dos satélites varia de acordo com sua função e com o tipo de órbita que descrevem. O Brasilsat, por exemplo, descreve uma órbita geoestacionária, ou seja, sua velocidade é a mesma que a velocidade de rotação da Terra, de forma que ele sempre se situa sobre o mesmo ponto do globo. Satélites geoestacionários situam-se a cerca de 36 mil quilômetros de altitude. Para se ter uma idéia, o diâmetro da Terra é de 12 mil e 800 quilômetros.

Já os satélites de baixa órbita terrestre (LEO) estão a apenas entre 320 e 800 quilômetros de altura. Estando muito próximos, sua velocidade deve ser grande para que não caiam: esse tipo de satélite pode dar uma volta ao redor da Terra em uma hora e meia. Os satélites de sensoriamento remoto são, em geral, de baixa órbita.

Se os satélites viajassem no vácuo perfeito e apenas a gravidade da Terra os influenciasse, poderiam girar ao redor de nosso mundo por um tempo praticamente infinito. Mas a atmosfera da Terra eleva-se até mesmo às alturas dos satélites, apesar de ali a sua densidade ser extremamente baixa. O atrito com a atmosfera faz com que a velocidade do satélite diminua com o tempo e ele vá descendo em direção à superfície. O resultado é que os satélites têm uma vida útil, depois da qual mergulham em direção à Terra.

Para que não ocorra um acidente grave, os satélites são trazidos artificialmente à superfície, através de motores no próprio satélite, para que caiam em lugar seguro (ou seja, no meio do oceano). O atrito com a atmosfera, durante a queda, despedaça o satélite e aquece seus fragmentos até a incandescência. Para um observador no solo, os pedaços visíveis aparecem como meteoros, ou estrelas cadentes, riscando o céu.

Acidentes com satélites

A estação espacial norte-americana Skylab
Fonte: Nasa

Mas nem sempre as coisas saem como os operadores querem. Vários casos de quedas descontroladas de satélites e estações espaciais já aconteceram.

O caso mais famoso é o do Skylab, a primeira estação espacial norte-americana, lançada em 14 de maio de 1973. Ela foi usada para pesquisas científicas e permaneceu tripulada até 8 de fevereiro de 1974.

À medida que a década de 70 chegava ao fim, aproximava-se também o período de atividade solar máxima. A quantidade de energia produzida pelo Sol não é constante. Entre outras variações, observa-se uma oscilação na sua atividade com um período de 11,2 anos.

Estávamos chegando ao fim de um desses períodos, e a atividade solar alta aqueceu um pouco a atmosfera terrestre, que dilatou-se. A densidade atmosférica na altura da órbita do Skylab aumentou. O satélite não estava projetado para orbitar nessa nova condição e começou a cair.

Os técnicos da NASA foram tomados de surpresa. Manobras de última hora, feitas por controle remoto da superfície da Terra, tentaram evitar que o satélite despencasse sobre uma área habitada. Conseguiram, mas por pouco. Vários pedaços do satélite caíram sobre o Oceano Índico, mas alguns atingiram o território do sudoeste da Austrália, esparsamente habitado. Felizmente, ninguém foi atingido.

O caso do Skylab foi o mais famoso, mas não foi o mais perigoso. O satélite militar espião soviético Cosmos 954 atingiu o solo em 1978 e tinha um terrível agravante: continha um reator nuclear compacto, usado para gerar a energia necessária para o seu funcionamento. Lançado em 18 de setembro de 1977, durou pouco: em janeiro de 1978, o aparelho e seu conteúdo radioativo despencaram sobre o norte do Canadá, espalhando dezenas de milhares de partículas radioativas sobre uma área de 124 mil quilômetros quadrados. Felizmente, era uma região gelada e inóspita, e ninguém foi atingido e as autoridades conseguiram evitar a contaminação dos moradores. O rastreamento dos destroços radioativos e a proteção à população contra a contaminação radioativa mobilizou homens, carros e helicópteros, mas apenas 0,1% do material radioativo foi retirado.

As falhas mecânicas ou de projeto não são a única razão da queda dos satélites. Às vezes, a burocracia intervém. A descida do satélite científico norte-americano LDEF 1 deveria ter ocorrido em 1985 (fora lançado em abril de 1984 para uma missão de apenas 10 meses). Porém, foi adiada repetidamente até que, em 1986, um evento trágico desferiu um grande golpe na Nasa (a agência espacial norte-americana): o ônibus espacial Challenger explodiu no ar, logo após o lançamento e diante das câmeras e do público próximo à base, matando todos os tripulantes. Foi o pior acidente espacial da História.

Por causa disso, a descida do LDEF 1 foi adiada por vários anos. Até que o inevitável aconteceu: devido ao contínuo atrito com as camadas altas da atmosfera, o satélite desceu tanto que começou a despencar. Um acidente sério foi evitado por pouco: em janeiro de 1990, um vôo do ônibus espacial Columbia conseguiu resgatá-lo e colocá-lo dentro da nave, que desceu em segurança.

Até hoje a sorte esteve do nosso lado, mas o perigo já passou bem mais perto. Em 1990, os técnicos russos realizaram uma manobra com a estação espacial russa Salyut 7 que consumiu combustível demais. Para seu azar, naquele instante entrou em cena o mesmo algoz do Skylab: o pico da atividade solar devido ao fim de mais um período de 11,2 anos o que fez com que a atmosfera terrestre se expandisse novamente e o aumento da densidade atmosférica na posição do Salyut 7 ameaçou sua estabilidade. Sem combustível para manter-se em órbita na nova situação, a estação caiu em pleno território da Argentina. Alguns pedaços espatifaram-se a 400 quilômetros de Buenos Aires e a capital portenha viu um show de luzes quando os fragmentos atravessaram o céu como meteoros. Novamente, não foram registradas vítimas.

Mir: uma história diferente?

A estação espacial russa Mir
Fonte: Mircorp

 

Espera-se que tudo seja diferente com a queda da velha estação espacial russa Mir, situada a 390 km do solo. Lançada em 20 de fevereiro de 1986, os técnicos da Mircorp, a empresa internacional que gerencia a estação, deverão provocar uma queda controlada no próximo dia 6 de março. Os destroços deverão cair no Oceano Pacífico.

O objetivo principal do projeto Mir era o estudo dos efeitos da longa permanência humana no espaço. O recorde de permanência contínua é do cosmonauta russo Dr. Valeri Polyakov, que ficou 14 meses no espaço (de janeiro de 1994 a março de 1995). Juntamente com outras ocasiões em que esteve na Mir, Polyakov acumulou 22 meses fora da Terra. Outras atividades científicas realizadas a bordo da Mir incluem observações astronômicas, como o estudo de galáxias ativas, quasares e estrelas de nêutrons [1].

O colapso político e econômico da antiga União Soviética e depois da própria Rússia (a partir de 1991) foi seguido pela decadência de vários ícones do regime comunista soviético, incluindo o projeto Mir. Em agosto de 1999, a Mir ficou totalmente desocupada pela primeira vez, durante oito meses. Em 2000 o governo russo anunciou que a Mir será lançada à Terra e destruída.

Enquanto isso, estava sendo construída, com a participação de diversos países, entre os quais o Brasil, a Estação Espacial Internacional (ISS), que substituirá a estação russa. A própria Mir teve importância fundamental no desenvolvimento da ISS: a partir de 1995, astronautas norte-americanos permaneceram por dois anos na estação russa, para adquirir o conhecimento tecnológico e o treinamento necessários.

Espera-se que a descida da Mir seja diferente das quedas desastradas descritas acima e caia obedientemente no meio do Oceano Pacífico, onde seus destroços não atingirão nenhuma área povoada.

 

[1] Quasares são objetos imensos, distantes e antiqüíssmos, que produzem energia numa quantidade ainda inexplicada. Acredita-se que os quasares sejam núcleos de galáxias ativas (galáxias que produzem em seu núcleo certas radiações em quantidades não observadas nas galáxias normais). As estrelas de nêutrons são corpos com densidade dez trilhões de vezes maior que a do chumbo, e são um dos estágios finais possíveis da evolução natural das estrelas (Friaça et al., Edusp, 2000 - veja resenha).

   
           
     

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Atualizado em 10/02/2001

   
     

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