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A história do homem também é a história das águas | |||||||||||||||||||||||||
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A
disponibilidade de água doce para consumo humano e para uso na agricultura
sempre ocupou um lugar privilegiado entre as prioridades a serem consideradas
pelas sociedades antigas para a fixação em determinados locais. Mas foi
nas origens das primeiras sociedades que as ofertas de água doce exerceram
um papel muitas vezes determinante na dinâmica da vida humana e no desenvolvimento
técnico e material.
Data de aproximadamente 3.100 a.C. o surgimento da civilização Suméria, na região banhada pelos rios irmãos Tigre e Eufrates, no atual Iraque. Estes rios, através de seu regime de cheias e vazantes anuais, provê as terras adjacentes com matéria orgânica fertilizante. Nesta região, os sumérios, após um razoável esforço de desbravamento, conseguiram que a agricultura fornecesse frutos abundantes. De fato, o cultivo da terra na região da bacia dos Rios Tigre e Eufrates, um feito creditado ao empenho humano coletivo, deu resultados excelentes. Tanto que os Sumérios conseguiram desenvolver um modo de vida próprio: graças à abundância das colheitas eles obtinham mais alimento do que o necessário para a sobrevivência imediata. O armazenamento deste excedente dava aos sumérios algumas vantagens na época: a liberação de alguns indivíduos da lavoura para o trabalho com a arquitetura e a escrita. Se por um lado o desbravamento e a colonização da bacia do Tigre e Eufrates foram necessários para a produção do excedente agrícola, por sua vez a administração e compartilhamento da água doce foram os responsáveis pela manutenção e continuidade do regime. As águas da bacia eram drenadas por uma intrincada malha de diques e canais que as faziam passar por todas as propriedades produtoras. A administração geral das águas era a tarefa maior das autoridades públicas. O assunto era tão importante para os sumérios que um estado de guerra crônica afligiu suas cidades, a partir do momento em que o crescimento urbano e demográfico exigiu a expansão dos campos cultivados. Mas isso só aconteceu depois de 600 anos do surgimento do império, ou seja, por volta de 2.500 a.C. O domínio dos rios Tigre e Eufrates e seus tributários menores era questão militar em todas as principais cidades sumérias e nunca teve uma solução. Ao contrário do Egito faraônico, onde havia um poder central forte, capaz de neutralizar forças políticas regionais, na Suméria, as cidades-estado (Ur, Uruk, Lagash e Umma, as mais importantes) detinham o controle dos exércitos e guerreavam entre si. A tônica da vida suméria no segundo milênio antes de Cristo parece ter sido a disputa entre cidades pelo domínio da água. Uma escultura em baixo-relevo escavado na região mostra o Rei Eannatum, da cidade de Lagash, celebrando uma vitória sobre a cidade de Umma. A obra mostra exércitos equipados e treinados, capazes de praticar uma guerra cruel e letal. Havia escudos e elmos (talvez metálicos). O artista mostra os exércitos vitoriosos organizados em falanges, escudos lado a lado, e pontas de lanças saindo por entre os soldados. Corpos de soldados vencidos do exército oponente jaziam mortos no chão. Há indícios de que a disputa tenha sido originada pelo controle de um canal na fronteira de dois estados. Há uma hipótese geral, no estudo das origens das diferentes sociedades, de que a produção de um excedente agrícola é necessária para que os agrupamentos humanos cresçam. E a produção de excedente agrícola foi possível em locais peculiares da Terra: regiões restritas, onde uma conjugação de fatores naturais favoreceu notavelmente o desenvolvimento da agricultura. A maioria destas regiões está demarcada por bacias hidrográficas. Os rios e suas dinâmicas anuais de cheias-vazantes propiciaram a fartura nas agriculturas nas sociedades Suméria, Acadiana e Egípcia.
Na China da Dinastia Shang (pré-Confúcio) os grupos humanos localizavam-se junto à bacia inferior do Rio Amarelo - na planície norte - junto com seu tributário na margem direita, o Rio Wei. Na época de Confúcio (551 - 479 A.C.) a China havia se expandido e, ao sul, ocupava também as bacias dos Rios Hwai e Han, bem como terras baixas da bacia do Yangtsé. Embora a importância da presença de água doce nestas duas últimas civilizações citadas tenha sido grande, não é tão claro que tenha havido uma agricultura tão bem sucedida quanto no mundo sumério ou egípcio.
A controvérsia quanto à necessidade de excedente agrícola, logo de terras irrigadas, para o crescimento de centros populacionais na antigüidade se estende entre arqueólogos, historiadores e outros pesquisadores. Em regiões como a Síria, existiram grandes povoamentos aparentemente sem o concurso de nenhum rio ou bacia dominantes. Contudo, pode-se afirmar que as dificuldades enfrentadas para a garantia da subsistência de povos que habitaram regiões secas foram muito maiores do que as enfrentadas por povos que se fixaram nas margens de rios. |
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Atualizado em 10/09/2000 |
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