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Investindo no genoma
Incentivo à pesquisa
Papel da bioinformática
Política científica
Despertando interesse
A casa de Salomão - artigo
Reflexões sobre o Genoma Humano
Perfil - Andrew Simpson
Bioética - artigo
Glossário
Brasil ganha
capa da Nature com o seqüênciamento do genoma da
bactéria Xylella. Fonte:
Nature. |

A Xylella
causa o entupimento dos vasos da laranjeira pela produção
de goma xantana. Fonte
Fapesp.
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Ramo de uma laranjeira
atacada por Xylella. As manchas amareladas nas extremidades
das folhas são regiões em que a bactéria se fixa e desenvolve. O ramo
inteiro pode ser comprometido, junto com seus frutos. Fonte Fapesp. |
Cana-de-açúcar,
um dos principais produtos da agricultura brasileira, tem partes de
seu genoma em processo de seqüenciamento. Ilustração
Nelson Yoneda. |
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Abrindo espaço para
a genômica no Brasil
Neste
momento em que a mídia divulga com grande destaque o primeiro rascunho
completo do genoma humano, o Brasil assiste ao evento na posição de quem
entende do assunto. Isto porque, por ação de órgãos de incentivo à ciência
e tecnologia, em especial a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de
São Paulo (Fapesp), o país investiu nos últimos anos na área de genética
molecular e pôs o pé no grupo dos países que desenvolvem projetos de seqüenciamento
genético. Entrou, por sinal, com o pé direito, pois em fevereiro deste
ano tornou-se o primeiro a completar o genoma de uma bactéria que provoca
doenças em plantas (fitopatógeno), cujo nome, aliás, acabou se tornando
popular: a Xylella fastidiosa.
Causadora
da praga do amarelinho, a Xylella foi
escolhida pela Fapesp como organismo para seu projeto genoma piloto por
uma conjunção de fatores. Para citar os mais importantes: pelo fato de
não haver no mundo, à época, outra pesquisa de seqüenciamento de um fitopatógeno,
sua importância econômica (cerca de 30% dos laranjais paulistas são afetados
pelo amarelinho) e o tamanho de seu genoma (2,7 milhões de pares de bases,
relativamente pequeno). Prova de que a escolha foi acertada é a fala de
Peter Johnson, responsável por um dos maiores programas de financiamento
de pesquisa do departamento de Agricultura norte-americano: "Meus caros,
tenho para vocês uma boa e uma má notícia. A boa é a de que foi concluído
o seqüenciamento do primeiro fitopatógeno no mundo. A má é a de que não
fomos nós que fizemos, mas um grupo brasileiro".
O reconhecimento da
importância da pesquisa vem também pela publicação, este mês, do artigo
científico descrevendo os resultados do projeto, na revista Nature,
que aliás já havia publicado, em 1997, uma notícia dando conta do início
do projeto, com destaque para o ineditismo da pesquisa com a bactéria.
A publicação do artigo, como bem sabem os cientistas, é um importante
fator de certificação do mérito da pesquisa e certamente fará aumentar
as citações internacionais dos pesquisadores envolvidos no projeto e indiretamente
da ciência brasileira. Enquanto isso, outros projetos genoma financiados
pela Fapesp já estão em andamento.
Como
conseqüência direta do Genoma
Xylella, surgiu, em 1999, o Genoma
Xylella Funcional, que busca estudar apenas os genes de caráter
patogênico da bactéria, ou seja, aqueles que mantêm relação com a praga
do amarelinho. Desta etapa participam cerca de 20 laboratórios, que no
prazo de um ano deverão apresentar seus primeiros resultados. Eles foram
selecionados entre os cerca de 100 que apresentaram propostas à Fapesp.
Como exemplo das pesquisas, há o estudo da biossíntese de goma xantana,
substância viscosa produzida pela Xylella e uma das possíveis causas
do entupimento dos vasos da laranjeira, o que causa o amarelinho.
Outro estudo em curso,
utilizando novos métodos de microscopia eletrônica,
é o da adesão bacteriana no trato bucal da cigarrinha que transmite a
Xylella e sua influência na propagação da doença.
Além
dos projetos Genoma Xylella e Genoma Funcional, surgiram também
aqueles dirigidos a outros organismos. O primeiro deles foi o Genoma
Cana, iniciado em julho de 1999, com o objetivo de seqüenciar partes
escolhidas do DNA da cana-de-açúcar e identificar
cerca de 50 mil genes com características de interesse econômico, como
resistência a doenças, metabolismo da sacarose, resistência a geadas e
seca. Este projeto, que é coordenado pelo professor Paulo Arruda, da Unicamp,
conta também com um financiamento de US$ 500 mil da Copersucar
(assim como, no caso da Xylella, participou a Fundecitrus),
que disponibilizou seu Centro de Tecnologia para a realização de algumas
etapas da pesquisa. Até março deste ano foram depositados nos laboratórios
de bioinformática do projeto 68 mil partes
seqüenciadas e o objetivo é alcançar 300 mil até julho de 2003. Este prazo
será, muito provavelmente, reduzido, devido à maior velocidade de seqüenciamento
adquirida com o Genoma Xylella. Do seqüenciamento participam, além
do laboratório de bioinformática da Unicamp, coordenado pelos professores
João Meidanis e João Setúbal, também o laboratório da Universidade Federal
de Penambuco coordenado pela pesquisadora Kátia Guimarães.
Quase ao mesmo tempo
que o Genoma Cana surgiu o Genoma
Câncer, em parceria com o Instituto Ludwig de Pesquisa do Câncer,
o primeiro a entrar com um financiamento igual ao da Fapesp na pesquisa
(US$ 5 milhões cada). A pesquisa, que é coordenada pelo professor Andrew
Simpson, está baseada numa nova técnica de seqüenciamento, chamada ORESTES
(Open Reading Frame EST), desenvolvida e patenteada pelo Ludwig.
Os dados, que já resultam em 250 mil seqüências de genes,
estão disponibilizados no GenBank,
onde está a maior parte da informação do projeto Genoma Humano, e num
site
dedicado a este seqüenciamento. Deste projeto participam cinco centros
de seqüenciamento, localizados na
USP, Unifesp e USP/Ribeirão
Preto. Espera-se chegar, até o final do ano, a 1 milhão
de seqüências de genes.
Em julho deste ano,
o projeto Genoma Câncer contou com um aumento de 60% no orçamento,
sendo parte deste montante investido na área de bioinformática
e na criação de mais dois bancos de clones.
Esse projeto colocou o Brasil no segundo lugar no ranking do países
que mais descreveram seqüências genéticas expressas
em cânceres, ficando atrás somente do National Cancer Institute
(NCI), que desenvolve pesquisa homóloga nos Estados Unidos.
Finalmente, o mais
recente dos projetos genoma é o Genoma
Xanthomonas, coordenado pelo professor Fernando Reinach, que
procurará seqüenciar o código genético da bactéria Xanthomonas axonopodis
pv citri. Ela é causadora do cancro cítrico e parente próxima da
Xylella fastidiosa. Seu genoma, porém, é aproximadamente duas vezes
maior que o desta última, mas deverá ser concluído em menos tempo. A comparação
entre ambos gerará informações importantes sobre semelhanças e diferenças
de metabolismo, ciclos de vida e interação com seu hospedeiro comum, os
citros (sobretudo a laranja).
A organização do projeto
inclui 12 laboratórios, sendo os dois principais da USP e da Unesp/Jaboticabal,
onde serão armazenadas, processadas, comparadas e anotadas as seqüências
de DNA, usando o software do projeto da Xylella. Toda a parte de
bioinformática será feita pela Unicamp. Os outros laboratórios de seqüenciamento
serão selecionados por um comitê da Fapesp e depois agregados à rede Onsa,
formada por todos os laboratórios que participam de projetos Genoma financiados
pela agência.
Desse modo, o Genoma
Xylella e seus "descendentes" consolidam uma etapa importante da
pesquisa científica no país e abrem campo para novos
projetos...
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