Por Luiz Zanin Oricchio, publicado originalmente no Estado de S. Paulo e republicado aqui com autorização do autor
Quando a democracia está ameaçada, é hora de dar viva à democracia. Este é o título da mostra do Itaú Cultural, que fica no ar durante seis meses. Basta entrar no site, preencher um pequeno cadastro e ver os filmes, de forma gratuita. São 12 títulos, de épocas diferentes, que se debruçam sobre a democracia brasileira, ajustando o foco sobre o processo eleitoral. Foram selecionados pelo crítico Carlos Alberto Mattos.
Temos desde a intervenção de Glauber Rocha nas eleições para governador do Maranhão, de 1966, até o recentíssimo Sementes – Mulheres Pretas no Poder, de 2020, documentário sobre o assassinato de Marielle Franco, dirigido por Ethel Oliveira e Júlia Mariano, que mostra a batalha dessas mulheres em se fazer representar em um universo político machista e racista.
Maranhão 66 é um dos títulos mais interessantes da época da ditadura. O filme foi encomendado à produtora de Luiz Carlos Barreto, que repassou a tarefa a Glauber. Ele alterna o discurso condoreiro de José Sarney com cenas de extrema pobreza no Maranhão. A dura realidade desconstrói o ufanismo da fala oficial.
Uma curiosidade é o doc Pinto Vem Aí, de Olney São Paulo, sobre os preparativos do comício em Feira de Santana de Francisco Pinto, deputado cassado pela ditadura por, supostamente, haver insultado o ditador chileno Augusto Pinochet. Ditadores têm esprit de corps, e se protegem entre si.
Braços Cruzados, Máquinas Paradas, de Sérgio Toledo Segall e Roberto Gervitz, testemunha o ambiente das greves operárias do final dos anos 1970, que desafiaram o governo e ajudaram a precipitar o fim da ditadura.
Já no período democrático, o destaque fica para Entreatos, exemplo de cinema direto sobre os bastidores da campanha que levou Lula à presidência da República pela primeira vez.
Neste ano, em que teremos o pleito mais tumultuado dos últimos tempos, vale muito a pena ver ou rever esses filmes. Cada qual à sua maneira, apresentam um fragmento de compreensão desse quebra-cabeças chamado Brasil.
Mostra Viva a Democracia
Itaú Cultural Play
Em www.itauculturalplay.com.br
Em www.itauculturalplay.com.br
Maranhão 66
Documentário, 1966
De Glauber Rocha e Fernando Duarte
Duração: 11 minutos
Classificação indicativa: 10 anos (violência)
Pinto vem aí
Documentário, 1977
De Olney São Paulo
Duração: 25 minutos
Classificação indicativa: 12 anos (drogas lícitas, medo)
Braços cruzados, máquinas paradas
Documentário, 1979
De Sergio Toledo Segall e Roberto Gervitz
Duração: 76 minutos
Classificação indicativa: livre
Terceiro milênio
Documentário, 1980
De Jorge Bodanzky e Wolf Gauer
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: livre
Doces poderes
Drama, 1995
De Lúcia Murat
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 16 anos (cenas de sexo)
Entreatos
Documentário, 2004
De João Moreira Salles
Duração: 117 minutos
Classificação indicativa: livre
Vocação do poder
Documentário, 2005
De Eduardo Escorel e José Joffily
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 12 anos (exposição de cadáver)
Gretchen – Filme de Estrada
Documentário, 2009
De Eliane Brum e Paschoal Samora
Duração 90 minutos
Classificação indicativa: 12 anos (droga lícita, ato criminoso, conteúdo sexual)
A cidade é uma só?
Documentário, 2013
De Adirley Queirós
Duração: 79 minutos
Classificação indicativa: 10 anos (linguagem Imprópria)
Eleições
Documentário, 2018
De Alice Riff
Duração: 100 minutos
Classificação indicativa: 12 anos (linguagem imprópria)
Camocim
Documentário, 2018
De Quentin Delaroche
Duração: 76 minutos
Classificação indicativa: 12 anos (drogas lícitas, linguagem imprópria)
Sementes – Mulheres pretas no poder
Documentário, 2020
De Éthel Oliveira e Júlia Mariano
Duração: 105 minutos
Classificação indicativa: 12 anos (violência e temas sensíveis)
Classificação indicativa: 12 anos (violência e temas sensíveis)
Luiz Zanin é crítico de cinema. Estudou filosofia na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) e psicologia clínica e psicanálise no Instituto de Psicologia da USP. Trabalha na Rede TVT e no jornal O Estado de S. Paulo.