Por Carlos Vogt
O Brasil tem muitas urgências, entre elas as relativas à inovação e ao desenvolvimento tecnológico e à consequente possibilidade de transformar o conhecimento produzido em nossos centros de ensino e pesquisa em riqueza, isto é, em valor econômico e social. Já se disse e tem-se repetido à exaustão que, no cenário da economia globalizada, é cada vez mais incerto e inseguro o futuro dos países exportadores de matéria-prima e que a produção de valor agregado é o único caminho viável para a competitividade de nossos produtos nos mercados internacionais. Para isso, o conhecimento é indispensável e o domínio de todo o processo que vai dele ao produto final comercializável é intrinsecamente constitutivo dessa imperiosa necessidade. Assim, ciência, tecnologia e inovação são peças fundamentais dessa arquitetura que hoje liga o conhecimento à riqueza das nações.
O Brasil acordou tardiamente para essa realidade e, mesmo acordado, demorou uns dez anos para despertar e dar-se conta de que definitivamente não podia mais continuar simplesmente a produzir com tecnologia importada, sem cultura de investimento de risco e sem uma agenda efetiva de investimento em inovação. Contudo, o problema da exploração da biodiversidade brasileira continua e a biopirataria é constante em nossas florestas e matas. Encontros e reuniões nacionais e internacionais têm se sucedido buscando soluções institucionais que respondam adequadamente à necessidade de preservação de nossos direitos, dos direitos das populações silvícolas – inseridas no cenário de uma outra diversidade que caracteriza o país, desta vez social – da vida das espécies vegetais, animais e microrgânicas e, ao mesmo tempo, possibilite, de forma associativa, como é próprio da ciência, a bioprospecção necessária à transformação dessa riqueza natural e cultural em riqueza material e social.
Transformar conhecimento em riqueza é, assim, um dos grandes desafios que só poderemos enfrentar se não perdermos de vista que esse processe só se torna parte constitutiva da cultura de uma sociedade quando, nessa cultura científica, se enraíza também a convicção de que a contrapartida dinâmica da transformação do conhecimento em riqueza é a consequente transformação da riqueza em conhecimento.
* Publicado como a V parte (p. 29-30) do ensaio “A quem pertence o conhecimento?”, in Vogt, Carlos, A utilidade do conhecimento, ed. Perspectiva, São Paulo, p. 13-30.