Documentário conta o trabalho árduo e minucioso realizado no resgate do acervo do Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruído por um incêndio em setembro de 2018
Por Lívia Mendes Pereira
“Na noite de 2 de setembro de 2018, um incêndio tomou conta do Palácio Imperial de São Cristóvão. Grande parte do acervo se perdeu. Mas da tragédia nasce uma outra história”. Essas são as palavras que iniciam o documentário Resgates, publicado em 2019 no canal do Youtube da UFRJ, um ano após o incêndio de grandes proporções que atingiu o Museu Nacional, em São Cristóvão, na zona norte do Rio de Janeiro. Uma produção da Coordenadoria de Comunicação Social da universidade, o documentário conta, a partir do olhar dos funcionários e pesquisadores do museu, a trajetória de um ano de resgate do acervo, daquilo sobrou dos escombros e da motivação de reconstrução da memória de um símbolo cultural do país.
Criado em 1818 por D. João VI, o Museu Nacional é considerado a primeira instituição de pesquisa do país e também o primeiro museu. Abrigava cerca de 20 milhões de itens, abrangendo áreas de pesquisa em arqueologia, geologia, paleontologia e zoologia. Grande parte foi destruída pelo fogo, sendo a área expositiva e o acervo de antropologia os mais afetados – mas após um trabalho árduo vários itens foram recuperados.
O documentário apresenta depoimentos de funcionários e pesquisadores que fizeram parte do esforço de recuperação. Todos lembraram com carinho da relação que criaram com a Quinta da Boa Vista, na região do subúrbio do Rio de Janeiro. Para a maioria deles, desde a infância, os espaços do museu foram como um ambiente de casa, um lugar de acolhimento e transformação.
Passada a madrugada do desastre, em que bombeiros lutaram contra as chamas, foi preciso reerguer e recuperar os ânimos para gerir um protocolo organizado de ação, com objetivo de salvar o máximo possível de itens. Foi criado, então, o Núcleo de Resgate de Acervo Científico. Dividido por etapas e procedimentos, o Núcleo realizou o mapeamento das salas, a triagem dos materiais retirados – com registros em fichas e fotografias – a limpeza dos materiais em peneiras, que foi realizada principalmente com a ajuda dos alunos da instituição.
Os pesquisadores enfatizaram a dificuldade em conviver com a tragédia, relatando momentos de altos e baixos. Uma das pesquisadoras lembrou que, mesmo que a equipe toda tivesse experiência com trabalho de campo na retirada de fósseis de rochas, o trabalho nos escombros foi diferente. No campo os especialistas sabem exatamente quais equipamentos devem ser utilizados e conhecem a composição das rochas – mas nos escombros cada ação era um desafio. Foi preciso criar estratégias novas e pensar sobre elas durantes semanas, até que o trabalho de retirada dos materiais fosse executado.
Todo o trabalho de recuperação serviu como mensagem simbólica de que nem tudo está perdido. Como umas das pesquisadoras lembrou, o conhecimento científico sempre será realizado – de uma forma ou de outra. Seja na própria difusão das informações científicas ligadas às áreas de estudos do acervo, seja no debate sobre a preservação e a memória diante de perdas como essa. Sendo assim, as ações de resgate demostraram a perda de algumas informações, mas não a total ausência delas.
O documentário traz uma mensagem importante sobre o valor que o investimento público em cultura e ciência tem na manutenção e preservação. Ele também faz um alerta para que não se deixe morrer o papel social do Museu Nacional e de tantos outros espaços de cultura espalhados pelo país.
Deve-se lembrar que o museu não é somente composto por uma estrutura física, mas é constituído também por pessoas – pesquisadores, funcionários, professores, alunos e o público. Portanto, toda comunidade que existe em torno do museu deve ser valorizada e incluída nas ações de cuidado e manutenção de seu legado social, educativo e cultural.
Serviço:
Resgates
35 minutos
UFRJ