Estresse
oxidativo e envelhecimento
O envelhecimento resulta de lesões oxidativas produzidas por radicais livres; por isso, diz-se que "o homem não envelhece, mas oxida". Maria Edwiges Hoffmann Radicais
livres e envelhecimento
Como os elétrons possuem a tendência de se organizar em pares, a existência de elétrons desemparelhados confere uma alta reatividade à qualquer tipo de radical livre. Além dos radicais livres, existem outras espécies altamente reativas de oxigênio nas células, como o oxigênio singlete, um potente oxidante formado pela radiação ultra-violeta, que contém um elétron excitado para níveis mais elevados de energia. Em sua reatividade, os radicais livres podem ser comparados com comedores compulsivos, que atacam o que encontram pela frente, sem muita seletividade. Na busca do elétron que lhe falta, o radical livre ataca qualquer molécula orgânica que encontra, para roubar um elétron, ou átomo de hidrogênio. Os radicais
livres de oxigênio e o oxigênio singlete atacam os principais
constituintes das células, como os lipídeos das membranas
celulares, as proteínas estruturais e enzimas, e o próprio
DNA, a molécula portadora da informação genética.
Os componentes celulares são oxidados e degradados através
de reações em cadeia, onde são formados novos radicais
livres intermediários, que atacam outros compostos sucessivamente,
causando vastas lesões nas estruturas celulares.
A teoria do envelhecimento cientificamente mais aceita é a teoria do envelhecimento pelos radicais livres, que propõe que reações desencadeadas por radicais livres são responsáveis pelos danos moleculares subjacentes ao processo de envelhecimento. Sob essa perspectiva, o envelhecimento seria, em última análise, conseqüência de um processo de oxidação celular generalizado; por isso costuma-se dizer que "o homem não envelhece, mas oxida". Estresse
oxidativo A exposição à radiação ultra-violeta do sol, gera tanto radicais livres de oxigênio como oxigênio singlete na epiderme, causando o envelhecimento cutâneo. Estudos epidemiológicos revelam que pessoas que trabalham sob exposição solar apresentam uma maior incidência de problemas de pele, desde a formação de rugas até o desenvolvimento de câncer de pele, caracterizando o envelhecimento acelerado pelo sol. As células, por outro lado, possuem mecanismos de defesa contra os radicais livres, representados por enzimas e compostos antioxidantes. As enzimas antioxidantes são proteínas capazes de promover a transformação dos radicais livres gerados nas células em produtos mais estáveis e menos tóxicos. Os compostos antioxidantes são assim chamados por sua capacidade de reagir diretamente com os radicais livres, através de doação de elétrons, ou redução, impedindo sua ação oxidante sobre os constituintes celulares. Vários compostos antioxidantes naturais, como a vitamina C (ácido ascórbico), a vitamina E (a-tocoferol), os carotenos e polifenóis, atuam na eliminação dos radicais livres formados no interior das células, protegendo-as contra a formação de danos oxidativos. A questão crítica para a vida celular é o equilíbrio entre os processos de produção e de eliminação dos radicais livres. Os radicais livres não são sempre prejudiciais à vida da célula. Nas pequenas quantidades em que são produzidos normalmente (concentrações micromolares), eles funcionam como sinalizadores químicos de vários processos, como a divisão celular e o relaxamento vascular. Entretanto, quando ocorre um desequilíbrio entre os processos de produção e eliminação dos radicais livres nas células, cria-se uma condição de estresse oxidativo, em que predomina a formação de lesões oxidativas nos constituintes celulares.
Portanto,
o estado de estresse oxidativo pode resultar tanto de uma produção
excessiva de radicais livres, como da diminuição da capacidade
celular de defesa antioxidante. Não existem provas científicas
de que o envelhecimento seja decorrente de uma perda progressiva da capacidade
de defesa antioxidante das células, com o passar do tempo. Antioxidantes
previnem o envelhecimento? Estudos realizados na Universidade de Tufts, em Boston, Estados Unidos, mostraram que o consumo de vitamina E e de chá verde reduz o risco de câncer e de doenças cardio-vasculares, as principais causas de mortalidade entre os idosos. Esse fato foi atribuído à ação antioxidante da vitamina E e dos polifenóis presentes no chá verde. Outros estudos deste mesmo grupo de pesquisadores, relacionaram o consumo de moranguinhos, espinafre e vinho tinto, com o aumento da capacidade antioxidante do soro sanguíneo humano, devido aos compostos fenólicos presentes nestes alimentos. Inúmeros trabalhos científicos mostram que o consumo de vitamina C (ácido ascórbico) reduz o risco das doenças crônicas da idade como o câncer, doenças cardiovasculares e catarata. Pesquisadores americanos têm, inclusive, recomendado um aumento da dose diária de vitamina C para consumo populacional, visando a prevenção de doenças nos idosos. A suplementação de vitamina C na dieta tem sido também recomendada para pessoas que estão sujeitas à uma maior produção de radicais livres, provenientes do metabolismo dos componentes do fumo, do álcool, de medicamentos quimioterápicos, e outras drogas, bem como para pessoas submetidas a tratamentos de radioterapia. Além da proteção conferida contra as doenças e os efeitos tóxicos da quimio e radioterapia, a vitamina C também apresenta efeitos benéficos quando aplicada diretamente sobre a pele, na forma de produtos cosméticos. Vários trabalhos científicos relacionam a aplicação tópica de complexos de vitamina C com a indução da síntese de de colágeno na pele e a diminuição de rugas. Entretanto, o consumo de mega-doses de vitamina C é um assunto controverso, pois em algumas condições particulares, como na presença de cobre e ferro livres, essa vitamina pode funcionar como um sistema pró-oxidante em vez de antioxidante, gerando mais radicais livres. Uma outra família de antioxidantes naturais de grande interesse popular é a dos compostos carotenóides, como o b-caroteno da cenoura, e o licopeno, constituinte dos tomates e derivados industrializados. Estes compostos têm a capacidade de desativar o oxigênio singlete, protegendo as células contra a radiação ultra-violeta. Entretanto, o uso de b-caroteno como suplemento da dieta tem sido desencorajado pelos médicos, em vista da incerteza sobre o seu papel na defesa do organismo contra as doenças crônicas da idade, principalmente pelos seus efeitos colaterais tóxicos observados em um amplo estudo populacional. Já o licopeno, tem se revelado um poderoso antioxidante natural capaz de reduzir o risco das doenças degenerativas da idade e de problemas cutâneos induzidos pela radiação ultra-violeta. O interesse científico pelo licopeno foi despertado a partir dos estudos epidemiológicos com populações da região do Mediterrâneo, que consomem regularmente tomate na sua alimentação. A pesquisa revelou que estas populações apresentavam uma incidência de doenças crônicas da idade mais baixa do que populações de outras regiões. Estudos sobre o consumo de dietas ricas em tomates por humanos realmente confirmaram a capacidade do licopeno de reduzir o risco de doenças em idosos, como as doenças cardio-vasculares e o câncer, incluindo-se o câncer de mama e de próstata. Uma vantagem do licopeno, sobre outras vitaminas antioxidantes, é a sua estabilidade ao calor, de maneiras que o cozimento dos tomates não causa a degradação do licopeno; desta maneiras os produtos industrializados de tomates, como molhos e pastas, conservam o poder antioxidante do tomate fresco. Apesar das inúmeras razões a favor do uso das vitaminas antioxidantes C e E pelos idosos, os médicos são cuidadosos na sua recomendação como suplementos da dieta. Além dos problemas de possíveis efeitos colaterais, ainda não há comprovação científica segura, através de estudos populacionais realizados por longo tempo com um grande número de pessoas, provando que a suplementação destas vitaminas na dieta realmente diminui os riscos das doenças associadas ao envelhecimento.
Por outro lado, médicos e cientistas são unânimes em recomendar o consumo de alimentos ricos em antioxidantes naturais (vitamina C, vitamina E, licopeno, polifenóis e outros) para prevenir as doenças crônicas da idade. A alimentação anti-envelhecimento deve incluir frutas, vegetais, nozes, soja, lentilha, chá verde, e um copinho de vinho tinto de vez em quando. Com todos os progressos científicos na área, a ciência não descobriu ainda nenhuma pílula milagrosa anti-envelhecimento. As recomendações da medicina geriátrica não diferem muito dos conselhos de nossas avós: para viver mais e melhor é preciso ter uma alimentação adequada, fazer exercícios físicos regularmente, e dormir bem à noite. Saiba
mais: Maria Edwiges Hoffmann é Bioquímica e divulgadora científica |