Documentário ‘Raça Humana’

Por Fabíola Mancilha Junqueira

Dez anos depois da aprovação da lei que normatizou as cotas no ensino superior federal (lei n. 12.711/2012) e doze anos depois da produção e lançamento, o documentário Raça Humana, com roteiro e direção de Dulce Queiroz, disponível no YouTube, continua atual. Produzido pela TV Câmara em 2010 e vencedor da 32ª edição do Prêmio Vladimir Herzog de Anistia e Direitos Humanos na categoria documentário, o filme apresenta fatos, entrevistas e discussões com alunos, lideranças, representantes políticos, professores e pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB), sobre a questão das cotas raciais, ingresso, presença e processo de formação de jovens negros na universidade.

A equipe acompanhou a rotina da UnB durante três meses em 2009, ouvindo aqueles que lutam contra e a favor das cotas raciais. O documentário contextualiza a questão. Dois anos depois do primeiro vestibular do país considerando cotas raciais e sociais (da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, em 2002), a Universidade de Brasília adotou o sistema, em 2004, reservando 20% das vagas a estudantes negros. A medida causou polêmica, lutas a favor, contra e ações na justiça. Em 2009 a discussão chegou ao Supremo Tribunal Federal. 

Entre os entrevistados estão aqueles que entendem o sistema de cotas como uma forma de reconhecimento e valorização pessoal, uma oportunidade de luta contra o preconceito propondo a igualdade entre grupos raciais, a possibilidade de concorrer a uma vaga em universidade pública considerando candidatos com o mesmo nível de igualdade histórica e escolar. Por outro lado, há aqueles que veem o sistema de cotas raciais como uma afronta à constituição, como o germe da separação que distancia a igualdade criando guetos, como uma injustiça em relação a estudantes que se esforçaram nos estudos para atingir uma alta nota no vestibular.

O filme apresenta a perspectiva pessoal, com trechos de histórias de vida, de alunos cotistas que viram o ingresso na universidade como uma oportunidade de mudar a realidade, interrompendo o ciclo de exclusão vivido por familiares de gerações anteriores. E apresenta também relatos sobre a intensificação do racismo e a rotina das aulas, enfrentando dificuldades no relacionamento com colegas e professores.

Um exemplo do racismo presente na universidade foi o caso de Ari Lima, em 1999. Em 20 anos do curso de pós-graduação em antropologia ele foi o primeiro aluno reprovado em uma disciplina obrigatória, mesmo após tirar nota máxima nas avaliações. Nesta época o debate sobre as questões raciais era praticamente inexistente.

O documentário relembra também momentos importantes como a Marcha Zumbi dos Palmares em 1995 e a terceira reunião mundial contra o racismo ocorrida na África do Sul, a Conferência de Durban, em 2001. 

A equipe acompanhou reuniões com a reitoria da UnB, manifestações, e a reunião para a votação do estatuto da igualdade racial na câmara dos deputados. Estatuto que impactaria a distribuição de vagas nas demais universidades brasileiras.

Em geral, os argumentos dos entrevistados giram em torno de perspectivas históricas, sociais, filosóficas e biológicas, acerca da origem do que se compreende por inteligência ou merecimento e opiniões pessoais sobre o que se entende por raça e diferença entre cotas sociais e raciais.

Raça Humana (2010 – 41 minutos)
Direção e roteiro: Dulce Queiroz
Montagem e finalização: Joelson Maia
Produção: Pedro Henrique Sassi e Pedro Caetano
Disponível aqui [https://youtu.be/ovZVqvkyBbo]