Por Camila Carvalho de Carvalho
“A educação pública precisa ser um local onde ativistas feministas continuem fazendo o trabalho de criar currículos sem preconceitos”, apontou a escritora e professora bell hooks, ativista feminista e antirracista que faleceu em 2021, no livro O feminismo é para todo mundo.
Os pensamentos machistas, retrógrados, porém, ainda seguem firmes em muitos espaços, inclusive no ambiente escolar. No Brasil, as recentes reformas curriculares têm ido na contramão de uma escola responsável pelo desenvolvimento do cidadão e estímulo ao pensamento crítico.
Diante desse desafio, Chimamanda Ngozi Adichie ao ser provocada por uma amiga com perguntas sobre como ensinar sobre o feminismo aos filhos, escreveu um manifesto em forma de carta-resposta, intitulado Para educar crianças feministas.
O questionamento direcionado para a premiada autora nigeriana é devido a sua atuação e posicionamento feminista conhecido mundialmente. A sua apresentação no TEDx Euston conta com mais de 1,5 milhão de visualizações, sendo o seu discurso posteriormente publicado (no Brasil com o título “Sejamos todos feministas”) e musicado pela premiadíssima artista Beyoncé – emblemático, uma vez que a inspiração é um elemento chave da educação feminista.
Baseada em suas experiências e reflexões, Chimamanda elaborou 15 sugestões partindo da premissa central de que todas temos igualmente valor. Além disso, faz uso de uma operação matemática simples “posso trocar ‘X’ e ter os mesmos resultados?”, onde ‘X’ é igual ao gênero. A aplicação dessa fórmula traz à tona o machismo nas mais variadas situações do dia-a-dia.
Dentre as sugestões enumeradas, a autora coloca que o comportamento da mãe pode ser algo central no processo de educação de uma criança feminista. Esta deve se sentir completa, não ser definida pela maternidade, e respeitar os seus limites na execução das tarefas diárias. Isso inclui a divisão igualitária das tarefas, afinal, “o trabalho de cuidar da casa e dos filhos não deveria ter gênero”, aponta.
Discutida em maior profundidade na obra está a questão dos papéis de gênero, em que a frase “porque você é menina” nunca deveria ser a resposta para uma pergunta. Infelizmente, jamais saberemos o que poderíamos ter sido se os interesses “inapropriados ao nosso gênero” tivessem sido estimulados.
Para educar crianças feministas é uma leitura necessária a todos que acreditam que o feminismo tem que se fazer presente através da educação, sendo importante lembrar que ser feminista não é uma rejeição à feminilidade, mas a possibilidade de ser quem verdadeiramente se é. A autora ainda destaca que não há uma igualdade feminina convencional, e que a linguagem e as normas sociais devem ser constantemente questionadas. Para isso, é crucial o incentivo à leitura, o estímulo à aceitação da diferença e a não universalização das experiências pessoais. E que essa geração “seja cheia de opiniões, e que suas opiniões provenham de uma base bem informada, humana e de uma mente aberta”.
Camila Carvalho de Carvalho é formada em biologia (UFSCar), com mestrado em oceanografia biológica (FURG). Cursa especialização em jornalismo científico (Labjor/Unicamp)