No final dos anos 1990, a equipe do Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo reunia-se semanalmente para debater pautas futuras. Cada repórter dizia no que estava trabalhando, as ideias eram discutidas por toda a equipe, matérias eram programadas. De tempos em tempos, no entanto, chegava a notícia de que naquele dia a reunião seria “conceitual”, o que acontecia sempre que o editor Evaldo Mocarzel sentia a necessidade de repensar a proposta do caderno. Eram reuniões longas, seguiam noite adentro, com debates acalorados entre os repórteres, críticos e colaboradores freelancers, que eram convocados às pressas para a conversa. Continue lendo Um sentido para o jornalismo musical→
Escrever sobre música para o grande público é uma atividade desafiadora para qualquer autor. Os motivos são muitos porém o principal é a evidente constatação que a linguagem musical não é dominada e codificada pela grande maioria da população. Ao tratar especificamente da história da música erudita brasileira, a qual é um objeto de análise extremamente amplo, tanto com relação ao longo período de tempo a ser coberto como também com relação ao grande volume de produção, há o agravante de termos diversas lacunas documentais a serem preenchidas ou em fase de pesquisa. Continue lendo História concisa da música clássica brasileira, de Irineu Franco Perpetuo→
Uma das vertentes da musicologia, ciência que estuda os diversos aspectos envolvidos no fazer musical, é a exploração da vida musical em determinada região. No caso específico deste artigo, trataremos de Manuel José Gomes (Santana do Parnaíba, 1792-Campinas, 1868), o Maneco Músico, que, apesar de viver grande parte de sua vida em Campinas, SP, teve uma atividade representativa da prática musical do Brasil no século XIX. Continue lendo ‘Maneco Músico’, pai e mestre do maestro Carlos Gomes→
Ao longo de diversos períodos, estilos e práticas de diferentes tradições musicais no Ocidente, a relação entre a música e a expressividade ocupou lugar de destaque tanto na investigação teórica de cunho estético-filosófico quanto em questões de ordem prática, relacionadas ao cotidiano de intérpretes e criadores. Historicamente, do ponto de vista da teoria da música, os desdobramentos dessa relação direcionaram-se para um amplo debate em torno da semanticidade da música, o que por sua vez fomentou o desenvolvimento de uma noção da música enquanto linguagem que reverberou de forma intensa na própria prática musical. Continue lendo Affetto e a atualidade de um princípio musical→
Por Daniel A. Gross, ilustração de Ellen Weinstein, tradução de Amin Simaika.
Publicado originalmente na revista Nautilus
Em uma noite do fim do verão de 2015, no South Street Seaport, uma quadra na extremidade sul de Manhattan (Nova York), centenas de pessoas colocavam fones de ouvido para mergulhar em seus próprios mundos. Era uma noite clara, perfeita para uma caminhada, mas elas não estavam interessadas nas lojas ou restaurantes. Estavam muito ocupadas sintonizando e curtindo uma “discoteca silenciosa”. Continue lendo A tecnologia não diminuiu a qualidade social de se ouvir música→
Entre a materialidade dos instrumentos e a imaterialidade dos sons, a música se apresenta como uma das diversas possibilidades de manter a memória de um povo, ou grupo, viva. No Brasil, são diversos grupos a atuar neste sentido, seja na resistência e na divulgação de uma memória cultural mais ampla, como a afro-brasileira, seja na representação de tradições mais jovens, como de escolas de samba do interior. Em todas elas, a música é instrumento de uma memória já construída, e, também, objeto de uma ressignificação permanente, que envolve palco, avenida e o próprio corpo. Continue lendo Do terreiro à avenida: experiências musicais garantem preservação e divulgação da memória cultural→
Com pitadas de transgressão, a computação dá suporte à criação e à composição sonora. O instrumento não é mais um objeto passivo, mas algo que também cria respostas, e a ideia é usar as inovações tecnológicas para potencializar os processos criativos.