O jardim de Yvonne Primerano Mascarenhas

Por Pablo Aurelio Gómez García

Prólogo

A primeira vez que falei com Yvonne, eu acabara de defender minha tese de doutorado e ela era uma professora emérita, repleta de prestígio e reconhecimentos, que estava prestes a completar noventa anos. Pelas coisas que tinha ouvido, tinha a impressão de que a história de sua vida poderia ser do interesse de um grande número de pessoas, e aquela conversa confirmou minhas suspeitas. Além do atrativo que já por si tinha o personagem, sua trajetória reunia vários elementos notáveis. De maneira que sua biografia poderia servir, em primeiro lugar, para ilustrar —e com isso desmitificar— o ofício dos cientistas: no que consiste e como tem se transformado. Em segundo, para descrever sucintamente o campo da cristalografia: seus fundamentos, suas técnicas, suas aplicações e sua história. Em terceiro, para dar uma ideia de como e quando se produziu o estabelecimento da rede de centros de pesquisa no Brasil. E, por último, para ultrapassar o imanente campo das ciências e nos aproximarmos delas a questões do âmbito da epistemologia, da religião ou da ética. Funciona, em definitivo, como um texto de divulgação científica que tem como protagonista uma figura destacada da ciência brasileira do século XX. Quanto aos temas, estes são tratados de maneira muito concisa —algo menos que introdutória—; a intenção é provocar certo interesse no leitor e incitá-lo a consultar fontes mais detalhadas (preferivelmente as fontes principais pois estas costumam se explicar melhor que as secundárias; não há que ter-lhes medo). Ao longo de uma série de conversas em seu jardim, Yvonne concordou em me contar pedaços de sua vida que, complementados com uma pesquisa adicional e enriquecidos com certas intuições, eu reconstruí aqui em forma de relato.