Por Eduarda A. Moreira
Pesquisadores do ICMBio apresentam resultados de estudos promissores em unidades de conservação da costa brasileira em livro disponível gratuitamente
O livro Monitoramento da Biodiversidade para Conservação dos Ambientes Marinhos e Costeiros, publicado pelo Programa Nacional de Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio, apresenta aplicações práticas dos dados de monitoramento ambiental no embasamento de instrumentos de gestão de unidades de conservação e de políticas públicas de conservação das espécies. Iniciativas de âmbito nacional, como a atualização da Lista Nacional de Espécies Ameaçadas e das Áreas Prioritárias para a Conservação, e ações locais de manejo, como a erradicação de roedores em Abrolhos, o controle de gatos em Fernando de Noronha e o ordenamento da pesca do camarão na área de proteção ambiental Costa dos Corais, são alguns dos destaques. Além do livro completo, também está disponível um sumário executivo que traz o resumo dos principais pontos discutidos.
A publicação apresenta informações valiosas sobre ações de conservação dos ambientes marinho e costeiro para um público amplo, utilizando linguagem simples e imagens didáticas. De acordo com Laura Masuda, organizadora do livro e integrante da equipe de Coordenação de Monitoramento da Biodiversidade do ICMBio, o principal objetivo é mostrar as diversas aplicações dos dados obtidos pelos pesquisadores ao longo de toda a costa brasileira. “O livro teve um grande sucesso ao reunir um conjunto aparentemente simples de informações, mas replicado no tempo e no espaço de forma ordenada e consistente, que apresenta um potencial enorme e traz informações qualificadas e extremamente relevantes”, destaca a diretora de Ações Socioambientais e de Consolidação Territorial do ICMBio, Kátia Torres Ribeiro.
Os ecossistemas marinhos e costeiros sofrem grandes impactos em consequência de pesca industrial, contaminação de bacias hidrográficas, especulação imobiliária em regiões litorâneas e obras de infraestrutura em regiões já sensibilizadas. Diante dessas pressões, a publicação reafirma a importância do monitoramento para avaliar o estado de conservação das espécies, propor unidades de conservação, dimensionar e articular fomento para cadeias produtivas da sociobiodiversidade, reconhecer direitos de comunidades tradicionais e avaliar o manejo de diferentes espécies e regiões.
“É um monitoramento simples, mas que repercute em um enorme conjunto de instrumentos de gestão”, destaca Kátia Ribeiro. Os dados sobre tartarugas marinhas, por exemplo, dão informações sobre o manejo das praias onde elas são encontradas e do aumento ou redução da população de determinada espécie, podendo até contribuir para discussões em fóruns internacionais de conservação e trazer recursos para iniciativas brasileiras de preservação.
Em circunstâncias inesperadas, as informações coletadas também podem ser úteis. Laura Masuda menciona o caso do vazamento de óleo que atingiu o sul da Bahia, em 2019. Ela conta que, a partir da comparação dos dados de monitoramento anteriores e posteriores ao incidente, muitas pessoas puderam pedir auxílio governamental por conseguirem comprovar a redução de renda causada pela diminuição da quantidade de caranguejos nos mangues da região. Essas informações foram importantes para uma aplicação que não era prevista inicialmente, e facilitaram o diálogo entre gestão, comunidade local e pesquisadores.
Monitoramento participativo
As comunidades locais desempenham um papel importantíssimo para o monitoramento ambiental. “São guardiãs da biodiversidade e são a linha de frente na resistência aos vetores pesadíssimos de transformação”, ressalta Kátia. A cada nova região monitorada, a equipe do ICMBio convida representantes das comunidades para encontros de discussão e construção coletiva da iniciativa. O monitoramento participativo conta com a colaboração dos moradores desde o planejamento e definição do delineamento amostral, até a coleta de dados, interpretação dos resultados e aplicação do conhecimento gerado. “Os grandes enfrentamentos têm sido feitos por essa junção entre conhecimento científico e técnico de qualidade, conhecimento ecológico local e valorização das vozes de quem vive desses recursos nesses territórios. Essa grande conjunção de forças tem permitido fazer resistências importantes, porém ainda insuficientes perante o que a gente tem visto no nosso litoral”, afirma Masuda.
As iniciativas do programa são baseadas em protocolos básicos, desenvolvidos e validados pela equipe, o que possibilita um monitoramento de longa duração. “A estratégia é ter uma série temporal e uma distribuição espacial amplas, criando uma base de dados que permite a comparação com os trabalhos de outros pesquisadores ou com dados mais recentes, trabalhando de forma mais assertiva em ações de conservação”, finaliza Laura.
Eduarda A. Moreira é doutora em ciências (USP) e cursa especialização em jornalismo científico no Labjor/Unicamp