Primeira obra disponível para download gratuito é A percepção dos pesquisadores sobre a importância de divulgar a ciência por meio da imprensa, de Carla Gomes.
Como parte de seu trabalho de formação e produção na área de jornalismo e divulgação científica e cultural, o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo da Unicamp lança a Estante Labjor (clique aqui para conhecer), uma coleção de livros digitais de acesso livre. A partir da seleção de dissertações defendidas no programa de Mestrado em Divulgação Científica e Cultural do Labjor – e também de teses e ensaios escritos em outros centros dedicados à área –, a ideia é que as pesquisas escolhidas passem por nova edição e adaptação, sendo assim formatadas como livros para download.
A obra que inaugura a Estante Labjor é A percepção dos pesquisadores sobre a importância de divulgar a ciência por meio da imprensa, de Carla Cristina Gomes de Souza Oliveira, dissertação de mestrado defendida em 2018 sob orientação da pesquisadora Simone Pallone. Carla Gomes é diretora do Núcleo de Comunicação Institucional no Instituto Agronômico de Campinas (IAC), formada em direito e jornalismo pela PUC-Campinas e especialista em jornalismo científico pelo Labjor.
A imagem do cientista que prefere não se relacionar com jornalistas para evitar riscos à sua imagem frente aos seus pares ou à imagem da instituição em que atua é recorrente, explica Carla. “Atualmente, com a crise em relação ao orçamento para a ciência no Brasil, a pouca comunicação com a população em geral vem sendo apontada como uma das causas do não reconhecimento da relevância social da ciência. Esse silêncio da classe científica sobre seus afazeres e resultados é considerado uma das razões para a pesquisa nacional não constar nas agendas governamentais e para a precariedade da profissão e dos institutos e universidades”, afirma.
Diante desse quadro e da observação das pesquisas de percepção pública da ciência e da tecnologia que revelam o interesse da população brasileira pelo assunto mas também confirmam a falta de conhecimento acerca do tema, a inquietação que motivou Carla foi a seguinte: qual é a percepção dos pesquisadores, principais fontes de informação na área científica, sobre o relacionamento com os jornalistas e a divulgação de seus trabalhos por meio da imprensa?
Em busca dessa resposta, Carla selecionou a população do estudo, composta por pesquisadores da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (APTA), a maior instituição de pesquisa agropecuária estadual, que reúne 623 cientistas. Entre suas descobertas, identificou, entre os desafios à divulgação científica, as debilidades administrativas das instituições científicas que, por carência de recursos humanos, acabam sobrecarregando os cientistas com tarefas burocráticas, tomando-lhes tempo e energia que poderiam ser direcionados à própria pesquisa, evidentemente, mas também à sua divulgação. Além disso, entre os pontos negativos que a autora detectou na análise de questionário, verificou uma reclamação constante quando o desafio é a divulgação científica: a atividade não ser valorizada pela instituição onde o pesquisador atua, tampouco considerada para fins de promoção na carreira.
Ainda assim, Carla verificou que os cientistas manifestam-se favoravelmente à divulgação feita pela imprensa e também aderem a outras ações de divulgação científica. A frequência média de contatos com a imprensa é de 4,9 vezes por ano, por pesquisador.
Por que então ainda é tão incipiente a percepção da população sobre a presença da ciência no cotidiano?, indaga Carla. “Onde está o gargalo? Estará na falta de estratégia da ciência nacional, que resulta, por exemplo, na ausência de incentivos das instituições de pesquisa e ensino e das agências de fomento ao não colocarem a divulgação científica como fator de promoção na carreira? Está na abordagem feita aos cientistas por jornalistas da imprensa e das assessorias de comunicação institucional? Na estrutura da imprensa, com cortes de veículos especializados e enxugamento das redações? Na carência da educação da população, que não a qualifica o suficiente para perceber a ciência?”
São questões que a autora levanta para próximas investigações. Você, leitor(a), pode a partir de agora contar com a Estante Labjor para publicá-las da forma mais acessível ao público em geral.