Iran Machado

Doutor em geociências pela Universidade Uppsala, na Suécia, é professor colaborador da Unicamp. Exerceu, ao longo da carreira, diversas funções no Departamento Nacional da Produção Mineral, na Companhia de Pesquisa de Recursos Minerais e no Centro de Gestão e Estudos Estratégicos. Publicou, junto com Silvia Figurerôa, o livro História da mineração brasileira. Nesta entrevista, aponta alguns destaques da história da mineração na Amazônia.

Por Job Batista Filho

Quando começou a mineração na Amazônia?

A história da mineração na Amazônia teria iniciado em 1612, com a descoberta de ouro por garimpeiros no rio Gurupi, na divisa do Pará com o Maranhão. Todavia, nessa época, o interesse dos portugueses era mais voltado para as drogas do sertão – guaraná, salsa, urucum, pau-cravo, gergelim, cacau, baunilha e castanha-do-Pará – recursos mais abundantes e aplicados na medicina e na culinária.

Já no final do século XIX, em 1855, garimpeiros exploraram ouro no Amapá, no leito do rio Calçoene. Em 1912, foi registrada a exploração de diamante na região do Maú-Tacutu, em Roraima. Em 1937, garimpeiros exploraram diamante no Araguaia-Tocantins, no Pará e na serra do Tepequém, em Roraima.

A mineração organizada despontou em 1941, com a descoberta de manganês na Serra do Navio, no Amapá. Em sociedade com a empresa americana Bethlehem Steel, a empresa brasileira Icomi implantou um empreendimento de mineração que duraria décadas. Em 1952, garimpeiros descobriram grandes jazidas de cassiterita em Rondônia, onde grandes empresas (Mineração Taboca, Cesbra) atuaram com equipamentos modernos (dragas de grande porte, retroescavadeiras, monitores hidráulicos) e estrutura empresarial eficaz.

Dando um salto no tempo, chegamos à descoberta de minério de ferro em Carajás, em julho de 1967, pela Cia. Meridional de Mineração, subsidiária da U.S. Steel, uma das maiores siderúrgicas dos EUA. Este foi o evento mais relevante de toda a história da mineração na Amazônia (revelando anos mais tarde reservas da ordem de 18 bilhões de toneladas de minério de ferro de alto teor), um divisor de águas para se chegar ao momento atual, quando o estado do Pará passa a competir com Minas Gerais na maior arrecadação da CFEM (Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Minerais) do país.

Quais fatores são mais marcantes quando se compara a história da mineração de Minas Gerais e a da Amazônia?

São vários fatores, tais como a fisiografia de Minas Gerais sendo mais adequada à ocupação humana desde o século XVI, quando os portugueses organizaram as bandeiras que partiam da capitania de São Paulo em direção ao norte. A partir do final do século XVII, com a descoberta do ouro na região (que se tornaria Vila Rica), o fluxo do transporte do ouro e diamante até Paraty (Caminho Velho) e, mais tarde, até o Rio de Janeiro (Caminho Novo), favoreceu a criação de vilas e povoados ao longo desses trajetos.

Outro fator relevante diz respeito aos recursos humanos e à presença de autoridades portuguesas encarregadas da administração da colônia. Havia um intercâmbio mais intenso entre a capitania de São Paulo e a futura capitania de Minas Gerais com Salvador, sede do Brasil colonial e, ainda, com a corte portuguesa em Lisboa. As cidades de Belém e Manaus tinham muito menos contato com a administração colonial e com a corte do outro lado do Atlântico. Assim, o progresso era inevitavelmente mais lento na região amazônica.

Dizem que as empresas e governos estrangeiros têm melhor conhecimento geológico do subsolo da Amazônia e de seu potencial mineral do que o governo e a ciência nacional. É verdade?

Não. Isto é um mito criado há muito tempo acerca dos nossos recursos naturais. Há pessoas que acham que a NASA e o USGS dispõem de informações mais avançadas do que nós sobre a localização de recursos minerais e energéticos devido a equipamentos mais modernos, inexistentes em nosso país.

Se fosse verdade, as melhores jazidas e os melhores campos de petróleo teriam sido requeridos por empresas americanas. A propósito, os países mais ativos em matéria de exploração mineral no Brasil são o Canadá e a Austrália, que não possuem tecnologias mais modernas que os EUA.