Por Camila Ramos e Adriele Eunice da Silva
Animais e plantas não-nativos extinguiram 30% de espécies em todo o mundo
O mosquito Aedes aegypti – vetor de doenças como dengue, febre amarela, zika e chikungunya – parece tão comum ao cotidiano dos brasileiros que esquecemos que essa é uma espécie invasora. O mosquito leva no nome seu país de origem, o Egito, e do continente africano pegou carona nos navios de tráfico negreiro e desembarcou na costa do Brasil colonial, ainda no século XVI.
Por aqui, o Aedes aegypti encontrou clima tropical, tornando sua adaptação ao novo espaço mais fácil. Hoje, é uma das espécies invasoras mais populares do Brasil e está presente em todos os municípios, gerando danos significativos à saúde humana.
Uma espécie exótica (ou seja, que não é nativa de determinada região) é classificada como invasora quando é capaz de se proliferar no novo local e causar danos ao ecossistema. “Espécies que têm crescimento rápido, reprodução precoce e grandes quantidades de descendentes têm alto potencial de se tornarem invasoras. Outras espécies se adaptam ao novo ambiente e, na ausência de inimigos naturais, se proliferam facilmente. Outras ainda são generalistas ou possuem grande plasticidade fenotípica e com isso formam populações em praticamente qualquer ambiente”, explica Rafael Zenni, professor de ecologia na Universidade Federal de Lavras.
Atualmente, a invasão de espécies exóticas representa a segunda causa mais frequente de extinção e perda de biodiversidade. De acordo com o documento da Estratégia Nacional de 2018, elaborado pela Comissão Nacional de Biodiversidade (Conabio), desde 1600 cerca de 30% de espécies foram extintas devido à invasão de outras.
Como carregamos essas espécies?
O ser humano tem um papel importante na introdução de novas espécies exóticas, às vezes acidentalmente. Qualquer pessoa pode levar consigo sementes em botas ou equipamentos sujos de lama; barcos podem levar animais incrustados no casco de um rio para outro, ou pelos oceanos; ou ainda, plantas e pets não-nativos da região podem ser soltos na natureza e iniciar o processo de invasão. “Espécies introduzidas em maior quantidade e frequência têm maior probabilidade de se tornarem invasoras do que espécies introduzidas poucas vezes ou a partir de uma quantidade pequena de propágulos, que são indivíduos ou ovos, por exemplo. Quanto maior a diversidade de espécies introduzidas, maior é a probabilidade de haver alguma com condições de se estabelecer e invadir”, comenta Zenni.
Outra forma é o tráfico ilegal de animais selvagens. Nesse caso, além de levar uma espécie exótica para um novo ambiente, a ilegalidade impede que medidas de prevenção e contenção sejam adotadas pelos meios reguladores. “É muito comum que esses animais acabem sendo soltos na natureza sem nenhuma forma de controle. O resultado é equivalente a uma loteria, na maioria das vezes os animais exóticos soltos na natureza irão morrer sem deixar descendentes, mas basta apenas um caso de um animal solto sobreviver e se reproduzir para começar um possível processo de invasão”, explica o professor.
Como resolver esse problema?
Além dos danos ambientais, o combate às espécies invasoras abala a economia local. Uma análise dos gastos dos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, África do Sul, Índia e Brasil resultou em uma perda de cerca de 330 bilhões de dólares por ano. Segundo consta no Ministério do Meio Ambiente, e de acordo com a estratégia nacional, só no Brasil são gastos em média 100 bilhões de dólares anuais em custos ambientais, sendo que esse valor pode aumentar caso sejam incluídos os gastos com espécies que afetam a saúde humana. Por isso, existem diversas iniciativas internacionais e nacionais para prevenir a introdução de novas espécies e controlar as invasoras atuais.
Em termos globais, a Convention on Biological Diversity (CBD) é um acordo entre países desenvolvido pela ONU e dentre os planos para proteção da biodiversidade está o controle e erradicação das espécies exóticas invasoras. No Brasil há planos específicos para mitigação desse problema. Dentre eles estão os Planos Nacionais de Prevenção, Controle e Monitoramento e também a Estratégia Nacional sobre Espécies Exóticas Invasoras.
Este último visa orientar a implementação de medidas para evitar a introdução de novas espécies e reduzir significativamente o impacto delas sobre a biodiversidade nativa brasileira. “A estratégia nacional e as ações do plano de implementação têm potencial de serem eficientes na diminuição dos prejuízos causados por espécies exóticas invasoras, porém dependem fortemente de um ambiente adequado para que avancem e sejam implementadas. Não basta ter um plano eficiente quando não há condições de implementação e garantia de continuidade dessas ações. O desafio de colocar as ações em prática passa principalmente pela abrangência e complexidade do tema, que exigem esforços amplos e integrados para que produzam resultados, e da vontade política de investir em ações para conservação da biodiversidade”, conclui Zenni.
Camila Ramos é jornalista graduada pela Unesp e aluna de especialização em jornalismo científico pela Labjor (Unicamp).
Adriele Eunice da Silva é bióloga e aluna do curso de especialização em jornalismo científico do Labjor/Unicamp.