Atualmente, um dos desafios da
administração pública é atender de maneira eficiente, rápida e satisfatória as
demandas crescentes e diferenciadas advindas da sociedade. Os governos têm sido
pressionados a apresentar maior eficiência na aplicação do recurso público,
maior efetividade nos resultados esperados dos serviços e programas sociais,
além de prestar informações e serviços à sociedade de forma transparente e
democrática. Porém, tal meta é impossível de ser alcançada sem um processo de
informatização das operações internas nos órgãos governamentais.
Neste contexto, o surgimento e
a expansão da internet a partir da década de 90 causaram um impacto
significativo na maneira de realizar as tarefas nas mais diversas áreas e, no
âmbito da administração pública o Governo Eletrônico (e-Gov) facilita o processo
de tomada de decisão, controle, transparência, monitoramento e avaliação de
políticas públicas, que são desafios do atual cenário mundial. Com as fundações
estaduais de amparo à pesquisa (FAPs), nos diferentes estados brasileiros, não
é diferente. Para auxiliar o diagnóstico, planejamento, gestão e avaliação das
diferentes modalidades de apoio, as FAPs devem adotar sistemas de informação
específicos, ou seja, possuir uma solução organizacional, administrativa e
científica capaz de permitir soluções aos desafios e problemas criados no
ambiente político-social.
Com essa motivação, a Fundação
de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato
Grosso do Sul (Fundect) e o Laboratório de Engenharia de Software (Ledes) da
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) iniciaram em 2002, o
desenvolvimento de uma plataforma computacional intitulada Sigfap (Sistema de
Informação e Gestão de Projetos da FAP) a fim de permitir a gestão dos projetos
de pesquisa e inovação, além de facilitar o trâmite desde a submissão da
proposta até a fase de prestação de contas (parcial e final).
O Sigfap é uma ferramenta
genérica, que pode ser facilmente instanciada e customizada para atender às
FAPs respeitando suas características regionais. Utiliza modelo de
desenvolvimento incremental e está constantemente sendo evoluída com a
finalidade de atender às novas demandas das FAPs. Atualmente são seis estados
brasileiros que fazem uso do Sigfap, sendo que em cada FAP são utilizadas
siglas customizadas: Mato Grosso do Sul (SIGFundect), Amazonas (SIGFapeam),
Pará (SIGFapespa), Piauí (SIGFapepi), Sergipe (SIGFapitec) e Mato Grosso
(SIGFapemat).
A seguir será apresentado o
histórico que originou o Sigfap. São apresentados trabalhos correlatos no
domínio, arquitetura da ferramenta e principais funcionalidades. A rede Sigfap
criada no contexto do Confap (Conselho Nacional das Fundações Estaduais de
Amparo à Pesquisa) é apresentada. Por fim, as conclusões e os agradecimentos.
Histórico
e contextualização
Um sistema de informação pode
ser definido como um conjunto de componentes inter-relacionados para coletar,
recuperar, processar, armazenar e distribuir informação com a finalidade de
facilitar o planejamento, o controle, a coordenação, a análise, a avaliação e o
processo decisório nas organizações. São mais conhecidos pelos benefícios que
trazem para a gestão dos negócios, tentando eliminar os desperdícios, as
tarefas demasiadamente repetitivas de maneira a melhorar o controle dos custos,
a qualidade do produto ou serviço, maximizando os benefícios alcançados com a
utilização de tecnologia da informação. O Sigfap vem ao encontro desse
princípio, transferindo a tecnologia à modalidade de gestão de projetos de
pesquisa.
Em 2006, o projeto Sigfap foi
apresentado ao Confap (Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa)
como um caso de sucesso na informatização do processo de submissão e
acompanhamento de propostas da Fundect. Os resultados positivos que o sistema
trouxe para a Fundect motivaram outras FAPs a realizar parcerias visando
customizá-lo para atender sua realidade. A identificação dessa nova demanda fez
com que o sistema original fosse ampliado. A primeira instância do sistema foi
implantada na Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Pará (Fapespa) no
final de 2007. No ano seguinte foi instanciado o Sigfap para a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam), em 2009 para a Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí (Fapepi) e em 2010, foi implantado para a
Fundação de Apoio à Pesquisa e à Inovação Tecnológica do Estado de Sergipe
(Fapitec) e para Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Mato Grosso
(Fapemat).
Em reunião realizada em maio
de 2011, no Fórum Nacional Consecti e Confap, realizado em Belo Horizonte,
novas FAPs demonstraram o interesse em aderir à rede Sigfap para aperfeiçoar e
desenvolver colaborativamente o sistema: Fundação Araucária de Apoio ao
Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Paraná, Fundação de Amparo à
Pesquisa e ao Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Estado do Maranhão
(Fapema), Fundação de Apoio à Pesquisa do Estado da Paraíba (Fapesq), Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal) e Fundação de Pesquisa do
Estado de Tocantins (Fapt).
Trabalhos correlatos
Atualmente, existem 25 FAPs no
Brasil e a maioria utiliza soluções computacionais individuais e/ou meios não
digitais para a gerência de fomento de projetos. A partir do levantamento
realizado em 2008, constatou-se a existência de sete sistemas informatizados
para apoiar a gestão de fomento de projetos: SAGe (Sistema de Apoio à Gestão de
Fomento), Gipa (Gerenciamento Informatizado de Programas e Ações), Sigep
(Sistema de Gerenciamento de Projetos), AgilFAP, inFAPERJ, Patronage e Sigfap.
Diferentemente dos demais
sistemas citados, uma das vantagens e desafios do projeto Sigfap é a criação de
uma rede e/ou comunidade das FAPs em regime mútuo de cooperação técnica,
objetivando o desenvolvimento de ações voltadas para a especificação,
implementação, implantação, manutenção, operacionalização e distribuição de um
único Sistema de Informação e Gestão de Projetos das FAPs denominado Sigfap.
São objetivos da rede:
·
propiciar transparência – pública – nas ações de CT&I;
·
facilitar a comunicação com a comunidade científica, empresarial e a
sociedade;
·
facilitar o processo de tomada de decisão na gestão das FAPs;
·
facilitar o processo de avaliação de mérito dos projetos por meio de
consultores ad-hoc; e
·
democratizar e facilitar a geração de informações, conhecimentos,
sabedoria e indicadores de CT&I.
1
Objetivos e
tecnologias
O Sigfap tem como objetivo
apoiar o planejamento, gestão, acompanhamento e avaliação de fomento de
projetos de pesquisa, automatizando os processos administrativos da FAP por
meio de uma plataforma de software, além de permitir o acompanhamento, em tempo
real, pelos atores envolvidos. Além disso, permite a divulgação, submissão,
avaliação e acompanhamento da execução de projetos de pesquisa, de extensão,
apoio a eventos e bolsas de diferentes modalidades (DCR - Desenvolvimento
Científico Regional, mestrado, doutorado, Pibic - Programa Institucional de
Bolsas de Iniciação Científica, Pibex - Programa de Bolsas de Extensão e
Inovação, etc).
Atualmente, o SIGFundect
contém 12.563 pesquisadores cadastrados, 793 projetos em andamento e 873
projetos concluídos. Toda a gestão científica e administrativa é realizada por
uma equipe de 15 servidores, o que não seria possível, sem o uso de uma
plataforma computacional.
O Sigfap
está organizado em duas áreas: área restrita do pesquisador e área administrativa
(gestão FAP), e contempla três grupos de usuários: pesquisadores, consultores ad-hoc e administradores. As
funcionalidades, disponibilizadas pela ferramenta via internet
para cada grupo de usuário, estão citadas a seguir.
·
Pesquisadores: são os coordenadores e membros de projetos e candidatos
às bolsas. Podem submeter propostas de projetos, submeter relatórios parciais e
finais, acompanhar o julgamento das propostas, visualizar o histórico de suas
atividades, preencher os formulários online de prestação de contas, verificar
datas de prestação de contas e gerar relatórios.
·
Consultores ad-hoc: são
pesquisadores especializados, responsáveis pelo julgamento do mérito de
propostas. Recebem convites de propostas para serem avaliadas, podendo aceitar
ou recusar. Podem emitir pareceres e visualizar o histórico de revisões
efetuadas.
·
Administradores: são os gestores e funcionários das FAPs. Podem avaliar a proposta, em função do mérito
e do enquadramento em função do edital, podem acompanhar e visualizar todas as
submissões, alterar o estado de cada proposta, gerar relatórios
administrativos, enviar projetos e relatórios para serem avaliados pelos
consultores ad-hoc e efetuar gestão
financeira e administrativa.
Cada FAP promove atividades de
fomento, apoio e incentivo às pesquisas científicas e tecnológicas em seu
respectivo estado. Para tanto, pesquisadores podem se cadastrar livremente no
Sigfap do seu estado e submeter propostas de projetos que serão enquadradas,
avaliadas e, no caso de serem selecionadas, se tornarão projetos de pesquisa
apoiados pela FAP.
Quanto ao processo de desenvolvimento do Sigfap, é
utilizado o modelo combinado incremental e evolutivo. As tecnologias utilizadas
são de uso livre e de código aberto: linguagem PHP, banco de dados PostgreSQL,
SQLite, WebServices, sistema operacional Linux Debian 4.0 “etch” e servidor web
Apache 2.2. A plataforma de hardware do Sigfundect é simples e constituída de
três servidores:
·
Um servidor web: processador Intel Xeon quad-core com clock de 1,86,
GHz; 8 GB de memória RAM DDR2; 2 (dois), discos internos padrão SAS 146 GB em Raid-1.
·
Um servidor de banco de dados: processador Intel Xeon quad-core com
clock de 1,86 GHz; 8 GB de memória RAM DDR2; 4 (Quatro) discos internos padrão SAS
146 GB (em cada um dos discos) Raid-1.
·
Servidor de backup: processador Intel Pentium 4 3.0 GHz; 2 GB de memória
RAM DDR2; 2 discos rígidos de 200 GB.
A arquitetura do Sigfap deriva do modelo MVC, composta por três
camadas principais: apresentação, controle e persistência. Atualmente existem seis
instâncias do sistema, sendo elas:
·
SIGFundect
·
SIGFapespa
·
SIGFapeam
·
SIGFapepi
·
SIGFapitec
·
SIFFapemat
A Figura
1 mostra as páginas iniciais da área restrita do pesquisador (a) e da área
administrativa (b) do SIGFundect. Para cada instância do Sigfap é possível
configurar a interface de modo a atender às necessidades da FAP por meio de
definição de cores, logotipos, algumas funcionalidades e outras configurações
como dados da FAP (nome, diretoria e endereço), informações para envio
automático de e-mails e acesso ao banco de dados.
Apesar de cada instância do
Sigfap estar hospedada no servidor de produção da FAP, todas possuem um núcleo
comum, ou seja, compartilham o mesmo código-fonte, conforme ilustrado na Figura
2. A
distribuição do código-fonte é realizada por meio da sincronização do
repositório no sistema de controle de versões Subversion (SVN - http://subversion.apache.org). Assim, novas funcionalidades
e alterações realizadas são aplicadas às várias instâncias automaticamente.
Cada instância possui um
arquivo de configuração, um diretório de templates
(definição de cores, logotipos e outras configurações de interface) e um banco
de dados próprio. Na Figura 2, é apresentado esse esquema. Para ser implementada uma nova
funcionalidade é necessário avaliar a viabilidade do desenvolvimento e análise
de impacto levando em consideração os requisitos de todas as FAPs. Caso seja
genérico, o requisito é implementado e disponibilizado na ferramenta, ficando à
disposição de todas as FAPs. Caso contrário, o requisito é implementado, mas
uma configuração deve ser feita para disponibilização na instância. Erros
reportados por qualquer FAP são sanados em todas as instâncias.
É importante
destacar que a titularidade, direitos autorais e outros direitos de propriedade
intelectual relativos ao Sigfap são de propriedade exclusiva da Fundect e da
UFMS, sendo sua utilização cedida aos membros da rede Sigfap. Os novos módulos
desenvolvidos e integrados ao Sigfap são de direitos dos autores e da FAP
responsável.
(a)
(b)
Figura 1. Página inicial do
SIGFundect: (a) área restrita do pesquisador e (b) área administrativa.
Figura
2 . Estrutura
e arquitetura do Sigfap.
Rede
Sigfap
A necessidade de
aprimoramento e evolução do Sigfap tornou-se uma constante para atender às
novas FAPs que desejam utilizá-lo, sendo necessário adesão ao Termo de
Cooperação Técnica da Rede Sigfap, assinado em dezembro de 2010. Para garantir
uma evolução organizada do Sigfap, a rede é constituída de três comitês: Comitê
Gestor (CGE), Comitê Técnico e Desenvolvimento (CTD) e Comitê de Versão e
Avaliação (CVA) (Figura 3). Seguindo o paradigma da engenharia de software livre
(ESL), cada FAP deve ter sua equipe específica de programadores para
implementar os requisitos de forma descentralizada, mas também compartilhada e
integrada, após aprovação pelo CTD.
O Comitê Gestor
(CGE) tem como objetivo gerenciar estratégica e politicamente a rede, definir
as políticas, diretrizes para o planejamento, acompanhamento e captação de
recursos financeiros para o desenvolvimento das atividades inerentes à rede
Sigfap. O Comitê Técnico e de Desenvolvimento (CTD) tem como objetivo definir
as regras, modelos e normas técnicas para especificação, desenvolvimento,
documentação e distribuição do Sigfap para as FAPs da rede a fim de garantir a
generalidade e eficácia do sistema. E, por fim, o Comitê de Versão e
Avaliação (CVA) tem como objetivo definir as regras e normas técnicas para validação,
padronização e distribuição do código do Sigfap para todas as FAPs da rede a
fim de garantir a unicidade do sistema.
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