10/10/2015
Editor HTML Online O livro Olimpíada Paulista de Física para o Ensino Médio (Volume 2), organizado pelos professores Luiz Roberto Marim e Arnaldo Dal Pino Júnior, é um apanhado de questões dessa competição, resolvidas e comentadas, para auxiliar os alunos que pretendem participar do desafio a se prepararem para a prova. Um esforço louvável de professores dedicados a uma nobre causa. Não é fácil reunir pessoas em torno de um projeto tão específico. E também não é fácil publicar um livro no Brasil, o que eles conseguiram com o apoio de uma importante universidade, a Unesp, e de uma agência de fomento, o CNPq.
Podemos sentir, já nos agradecimentos, que muita gente acredita nesse trabalho. São mencionados o Instituto Tecnológico de Aeronáutica, a Associação Paulista de Professores de Física, os professores de escolas que devem ter que se empenhar ao máximo para motivar os alunos e, é claro, os pequenos gênios que se dispõem a abdicar de horas de lazer diário para estudar, estudar e estudar mais um pouquinho de física até estarem prontos para fazer bonito na competição.
A prova não é fácil e as questões são de meter medo em qualquer adulto pós-graduado em áreas não correlatas à física. Mas o livro promete um profundo mergulho em perguntas de diversos níveis de dificuldade e garante, de saída, que se você não gosta de física é porque ninguém te explicou de maneira simples os complexos fenômenos que a física estuda. Sim! Faltou poesia na sua relação entre a matéria, a energia e as leis que regem essa interação.
Quando comecei a ler as questões, fui transportada para as aulas que eu tive no colegial com o professor Américo (infelizmente não saberei citar o sobrenome), um docente do cursinho da Poli que viajava 300Km até a divisa de São Paulo com o Paraná, para dar aulas semanais a estudantes, podemos dizer, não muito empolgados com sua disciplina. Eu sempre soube que não construiria uma carreira no pavimento das ciências exatas, mas conseguia achar aquele esforço bonito e prestar o mínimo de atenção às explicações que agora estão sendo solicitadas por esse livro, diante do qual me encontro com lápis e borracha a postos.
E aí me deparo com a seguinte questão: “Paulo e João estão brincando, cada um com sua bola de basquete...”. Esses dois personagens sempre estão brincando. Guilherme e Ian, Gustavo e Miguel, Alice e Júlia nunca estão brincando, mas Paulo e João, sempre, sempre na farra!
Voltando à questão: “Paulo e João estão brincando, cada qual com a sua bola de basquete, dentro de um ônibus...” Oi? O que esses meninos estão fazendo brincando com uma bola de basquete dentro de um ônibus? Eles não deveriam estar sentados com os cintos de segurança atarraxados? Sentem-se por favor meninos. É perigoso ficar brincando de bola enquanto o ônibus anda a uma velocidade nem sempre constante... Ah, lembrei! Velocidade constante... É importante usar cinto de segurança porque se houver uma colisão, um corpo em movimento tende a continuar em movimento e com a parada brusca do veículo, seu corpo continuará se movimentando e só o cinto pode frear a sua massa (magra! Diga-se de passagem) e a impedir de se espatifar contra o primeiro obstáculo que encontrar. Ótimo! Mas a questão não é essa. A questão é para ver qual bola, a de Paulo ou a de João, chegará primeiro ao solo se um abandonar a bola de uma altura de 1 metro e meio e o outro lançar a bola horizontalmente para frente, no mesmo sentido da velocidade do ônibus. É claro que mais de 20 anos depois de ter tirado 8,0 nas provas do Américo (eu me esforçava porque ele se esforçava também), eu já não tenho mais o repertório necessário para resolver essa questão e, então, vamos para a próxima...
“Um brasileiro foi em viagem de férias durante o mês de janeiro para o Canadá. Ao partir do aeroporto, os termômetros marcavam 36°C. Ao chegar ao seu destino, a temperatura era de 14°F. Qual o valor em graus centígrados da diferença de temperatura enfrentada pelo turista?”
Poxa vida, joga no Google “conversão de Celsius em Fahrenheit (oC em oF)” que essa é simples! E se precisar, o resultado da busca ainda mostra tabelas e fórmulas complementares! Pode confiar, eu já usei!
Não, meu bem, não pode jogar no Google. Não, meu bem, é preciso fazer todo o cálculo na mão. Mas na vida real, esse cálculo só será necessário se todos os computadores do mundo explodirem junto com a internet... “Não é pela necessidade do cálculo, mas pela beleza do raciocínio lógico, querida”, disse a voz do Américo em alto e bom som ecoando na minha memória dos antigos tempos de escola. Ah, tá. Entendi... E, se é bonito, eu quero ver.
E assim eu comecei a ler as respostas e não só as perguntas do livro de questões resolvidas e comentadas da Olimpíada Paulista de Física. E amei! Agora eu sei por que a Carolina pode manter o líquido no interior do canudo tapando a extremidade superior do plastiquinho com o dedo. Sei porque a linha do Equador é o melhor local para se instalar uma base lançadora de foguete e sei também qual é a ordem de grandeza dos fios de cabelo que tenho em minha cabeça em comparação com o número de folhas de uma árvore.
Acho que encerro aqui a minha imersão em questões de física do ensino médio. O livro tem muito mais questões como essas, prontinhas para te surpreender e abrir a porta para inesquecíveis conexões perdidas na poeira do tempo.
Parabéns aos professores organizadores, a todos os professores de física do Brasil e aos alunos que aceitam participar dessa empreitada de peito aberto e sorriso largo. O professor Luiz Roberto Marim garante que o esforço vale a pena e que testemunha, há anos, uma correlação entre os primeiros colocados em Olimpíadas e os primeiros lugares na classificação de processos seletivos de universidades de projeção nacional e internacional. Então, mãos à obra e boníssima sorte a todos!
Título: Olimpíada Paulista de Física para o Ensino Médio (Volume 2) Autores: Luiz Roberto Marim e Francisco Carlos Rocha Fernandes Editora: Livraria da Física Ano: 2012 Páginas: 248
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