Para Nelson Brissac Peixoto
Nunca mais construir a imitação da excedência da luz,
nunca, digo, não por vontade de indivíduo pleno ou por
[ensejo,
antes por imposição de pessoa, pacto de imagens,
[planificado e plano,
este que transforma um guarda-roupa de subjetividades
num ícone errante de dor, angústia, programa de saudades.
Nunca mais o cão alarido atrás de grades familiares,
solo de andarilhos, pose de esfinges, solidão de bares,
nesses de gravuras que vendem fórmulas prontas de
[dramas finos,
esses que se fazem das mãos cheias de despojos,
como museus de bobagens nos bolsos de meninos:
pedra de bugalho, guimba de cigarro, luz de vaga-lume,
[canto de cigarra, entulho de desejos.
Posturas, pois, sem erros e atropelos, ali no lugar devido,
como um navio atracado ameaça navegar o cais,
salão em que o mocinho se encontra com o bandido,
e os dois são únicos no mesmo enredo, são um e muitos
[em muitas capitais.
Se já não há perguntas com respostas para a embriaguez
[das circunstâncias,
por simplicidade de método, para encurtar o não,
resumo o programa em que se fundem a linguagem com
[o outro, a imagem com o chão:
agarrar a tolice, como o samurai a mosca, com a espada
[da bebida,
trocar o aéreo pelo sóbrio, a chama pelo jogo, a sombra
[pelo líquido,
ser paciente e boi, nos olhos, no cansaço, nas faltas e
[abundâncias,
ruminar detalhe por detalhe, grama por grama, areia por
[estrela, símbolo por ação,
desconstruir o sonho pela vida, a vida pelo enigma, o enigma
[pelo óbvio,
ser banal e bobo na banalidade de ser um e múltiplo, mas
[não ser ubíquo,
resistir heróica e inutilmente à utilidade da palavra,
como pássaro se perde de si próprio no canto solitário que
[a gaiola agrava.
Nunca mais o estilo decidido, nunca mais a ilusão do real
[pelo real,
tampouco a explosão semântica do símbolo cindido,
no modo ambíguo de falar de si para esconder-se mais;
agora não será preciso correr com o espelho sobre o objeto
[mudo,
no movimento vão de armazenar o mundo,
de construir represas para conter os furos,
de fabricar armários de guardar cascalhos;
não penetrar paisagens pela dimensão da profundidade que
[elas não têm,
ser lateral e plano na exclamação cruzada de suas
[molduras,
ficar parado e móvel nas ruínas de cenários como um
[cenário em ruínas,
habitar a interface do mundo com o muro,
ver e estar sendo visto: janela de néon, poltrona de
[vacâncias, moinho de securas.
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