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Uma pesquisadora e suas bananas nas conferências TEDx SP e TED Global
Por Milena Boniolo
10/09/2012

Para quem ainda não ouviu falar sobre as conferências TED ou TEDx e a forma inovadora e rápida de se espalhar ideias e inspirações, explico. O TED, inicialmente reunia três grandes áreas: tecnologia, entretenimento e design (daí a sigla). Teve início em 1984. É uma organização sem fins lucrativos cujo objetivo é o de espalhar ideias por meio de palestras que são disponibilizadas na internet, e tem como slogan a sentença “ideas worth spreading” (ideias que merecem ser espalhadas).

Hoje as palestras reúnem muito mais do que aquelas três áreas iniciais – numa conferência TED, pode-se ver de tudo no palco, desde cozinheiros, comediantes, artistas, empreendedores de sucesso, até cientistas. E, todos, mesmo os mais brilhantes pensadores, além do exemplo e da ideia a ser disseminada, têm de fazer algo ainda mais desafiador: apresentar-se em até 18 minutos.

Na atualidade, existem duas conferências anuais, uma em Long Beach, no estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e outra em Edimburgo, na Escócia. Durante quatro dias, mais de mil pessoas participam do evento, com até 50 apresentações que não são divididas em sessões temáticas, ou seja, as informações são compartilhadas com todos os participantes da mesma forma.

Já os eventos TEDx foram criados no mesmo estilo do TED Global, no entanto, são projetados de forma a estimular o diálogo e a troca de experiências localmente, seja por meio de palestras ou vídeos (TEDTalks). Os TEDx são elaborados de maneira independente do TED Global, de acordo com a comunidade local e suas necessidades.

O primeiro evento TEDx no Brasil foi realizado em São Paulo, em novembro de 2009, no Teatro Anhembi Morumbi, no bairro da Mooca . O TEDx SP foi gratuito e contou com a participação de 30 palestrantes e uma plateia de aproximadamente 700 pessoas que ficou atenta das 07h00 até as 20h00. Durante os intervalos, palestrantes e espectadores trocavam experiências. O desafio dos convidados para dar as palestras foi discutir, em no máximo quinze minutos, sobre “O que o Brasil tem a oferecer ao mundo hoje”.

Fui uma das convidadas a dividir o palco do TEDx SP com nomes como Paulo Saldiva, Fernanda Viegas, Osvaldo Stella, Regina Casé e Ronaldo Lemos, dentre outros. Acredito que o convite tenha surgido devido ao reconhecimento nacional do meu trabalho de mestrado, concluído no Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) no ano de 2008, sob orientação de Mitiko Yamaura; o trabalho recebeu o primeiro lugar do Prêmio Jovem Cientista, do CNPq, e abordou a aplicação de cascas de banana na remoção de poluentes da água.

Quando me falaram que eu só teria seis minutos para explicar o que eu tinha realizado, pensei que era uma brincadeira, mas após assistir alguns TEDTalks, vi que era possível e falei em cinco minutos e cinquenta e um segundos (veja a palestra).

Em linhas gerais, comentei que, frente ao cenário ambiental caótico em que vivemos, o Brasil tem a oferecer, além da criatividade, técnica. Como exemplo, citei meu trabalho de pesquisa e finalizei a apresentação com uma analogia do modelo acadêmico comparando as universidades com a cidade imaginária Laputa, do livro As viagens de Gulliver (de Jonathan Swift), na qual os pesquisadores possuem dois olhos, um virado para dentro e o outro para o alto, impossibilitando-os de enxergar os problemas reais ao redor de si.

Após essa experiência, fui convidada a participar do TED Global 2010, realizado em Oxford, na Inglaterra; lá o tempo foi ainda mais escasso, apenas três minutos. O evento em Oxford foi ainda mais intenso, visto que ao invés de um dia apenas, tínhamos quatro dias de imersão no mundo de novas, ousadas e inspiradoras ideias.

Também fui a outro evento TED e, dessa vez, fiquei na plateia. O TEDx Amazônia ocorreu em novembro de 2010 em Manaus, no Amazon Jungle Palace, com acesso apenas por barco; esse hotel possui um auditório flutuante localizado no Rio Negro, no qual 45 palestrantes e 400 espectadores dividiram suas experiências e emoções durante dois dias. Lá pude conhecer muitas ideias e palestrantes interessantíssimos. Destaco aqui dois nomes, Thiago de Mello (poeta amazonense) e José Claudio Ribeiro (castanheiro do Pará).

O primeiro nos ensinou, por meio de sua poesia, que não temos um caminho novo; o que temos de novo é o jeito de caminhar. Já o segundo, em maio de 2011, infelizmente, transformou-se num mártir, ao ser assassinado junto com sua esposa, por defender a floresta e suas castanheiras nas reservas extrativistas do Pará.

Findados tais eventos, resta uma dúvida: o que fazer com as informações recebidas? Como transformá-las em algo útil? Como sair do mundo das ideias rumo ao mundo real da aplicação e da geração de conhecimento? Informação não é conhecimento, espalhar ideias ainda não é transformar o mundo. De nada vale ouvir, sentir, conversar e fotografar se não causarmos uma mudança na qualidade de vida dos indivíduos ao nosso redor. O que conta são as pessoas e não as coisas.

Encerro aqui com trechos de “Ultimatum”, escrito em 1917 pelo excêntrico heterônimo de Fernando Pessoa, Álvaro de Campos:

“... Deixem-me respirar
Abram todas as janelas
Abram mais as janelas
Do que todas as janelas que há no mundo

Nenhuma ideia grande
Nenhuma corrente política
Que soe a uma ideia grão
E tu, Brasil...
O mundo quer a inteligência nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está o apodrecer da vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar
Porque não é nada

Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um mundo novo

Milena Boniolo é química, doutoranda da Universidade Estadual Paulista (Unesp) na área de recursos hídricos e desenvolvimento sustentável e foi agraciada pelo Prêmio Jovem Cientista, do CNPq, e pelo Sustentability Fellow, da Universidade da Califórnia.