Ainda
é comum imaginar a figura solitária do “nerd”, com dificuldades em encontrar
outras pessoas que compartilhem os mesmos interesses e curiosidades, como a
paixão por histórias de ficção, tecnologia e conhecimento. Mas esse rótulo tem
sido cada vez mais questionado, e até há uma certa popularização de elementos
da “cultura nerd” ou “geek”. Com o
aumento desse público curioso, um canal brasileiro vem fazendo sucesso no
YouTube e já conta com mais de um milhão de assinantes. Trata-se do Nerdologia, produzido pela Amazing Pixel, com
direção de Alexandre Ottoni e Deive Pazos e apresentação do biólogo,
pesquisador e divulgador científico Atila Iamarino. O
Nerdologia surgiu no fim de 2013 como uma ideia para aproximar a ciência dos
jovens, seguindo uma temática definida e uma linguagem leve, por meio de vídeos
de cinco minutos e muitos recursos visuais. Iamarino, que também é um dos
fundadores do Scienceblog Brasil, explica que já escrevia sobre ciências em
blogs e percebeu que a audiência poderia ser ampliada com a utilização de
produtos visuais. O
biólogo relembra que o sucesso começou com uma participação no programa de
áudio Nerdcast, em que começou a conversar sobre
ciência. “Foi uma experiência muito
legal. O público se engajou com o conteúdo, as pessoas participam. E é um
contraste de conteúdo, pelo menos até 2010 e 2011, quando começaram a surgir podcasts de ciência. Vimos que podíamos fazer
diferente. Fizemos um episódio de ciência
dos super-heróis que
foi o mais comentado e o mais baixado por muito tempo”, diz. Com
o sucesso, surgiu a proposta de desenvolver vídeos para o YouTube, após o
pesquisador se voluntariar a gravar sobre um filme. “Na época, o filme que estava em alta era o World War Z, sobre zumbis, área que adoro pois meu trabalho é com
epidemiologia e infecção. Fiz um vídeo de dez minutos sobre o filme e, no meio,
aproveitei para falar sobre a ciência envolvida, como vírus, bactérias, venenos.
Mandei e me perguntaram se não teria como cortar a parte do filme e falar só
sobre a ciência”, lembra.Entre
as curiosidades, Iamarino descontrai ao lembrar que seu público gosta de
discussões sobre disputas de personagens com base na ciência, e que religião é
sempre um tema delicado. No episódio Quem tem mais poder? entre Hulk, Goku e Super Homem, se
usada a fórmula E=MC² o personagem Goku perderia a briga. “Falei que se eles fossem
brigar e medir poder, que brigassem com o Silas Malafaia para acabar com uma
fonte de ódio no país, e não tinha nada a ver com religião. Mas chegamos ao fim
do vídeo e havia dois comentários falando ‘Atila, você não devia falar assim do
senhor Silas Malafaia’. Mas também tive 10 mil comentários falando que eu não
podia falar que o Goku perderia do Superman e do Hulk. Aprendi, não falo de
religião”, diz. Iamarino
também explica que o engajamento com o público é muito grande quando se utiliza
a linguagem adequada, mas alerta que as universidades e pesquisadores não
precisam, necessariamente, criar um canal no YouTube para divulgar ciência. Nem
por isso, também, devem negligenciar a importância da divulgação científica
para promoção de seus trabalhos, bastando procurar os centros ou pessoas que já
fazem divulgação científica. Como
exemplo, ele narra o caso de uma pesquisadora que publicou, junto com seu
artigo, um vídeo curto expondo seu experimento e que, por coincidência, estava
relacionado a um dos episódios do Nerdologia. “O vídeo tinha aproximadamente 60 visualizações
no YouTube, mas estava com uma licença que eu podia usar. Inseri no episódio do
Capitão América, falando da pesquisa dela, do artigo, citando-a. Já são quase
400 mil visualizações até agora. O fato de ela ter produzido o material, e ter
deixado disponível, me ajudou, dentro do que faço, a falar do trabalho dela”. Além
do grande público presente no YouTube, o pesquisador comemora que seus vídeos
não se restringem ao ambiente online, e estão presentes no Hospital Emílio
Ribas, como um episódio sobre vacinas, e também são transmitidos em salas de
aula para introduzir discussões científicas. Ele ressalta que, inclusive, esse
é um dos papéis do canal, de induzir a curiosidade e o debate.
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