REVISTA ELETRÔNICA DE JORNALISMO CIENTÍFICO


Editorial
Caatinga, futebol e esperança
Por Carlos Vogt
10/06/2013

São quase 830.000 km² de área, o que significa cerca de 10% do território nacional e mais ou menos 70% da região Nordeste. A caatinga distribui sua extensão por 9 estados, do Piauí ao norte de Minas Gerais, tem um clima semiárido, chuvas no máximo em 5 meses do ano, rios intermitentes, temperatura alta, entre 25 e 30 graus em média e uma biodiversidade única, ameaçada, constante e sistematicamente, de extinção pelo desmatamento, pela ação predatória da indústria primária da produção de carvão vegetal.

Catalogadas até o momento, entre a fauna e a flora, há mais de 2 mil espécies, com uma riqueza que contraria o que por muito tempo se afirmava sobre sua diversidade: além de única, a caatinga é, entre as regiões semiáridas, a mais rica do mundo em variedades de espécies.

Entre estas está o tatu-bola (Tolypeutes tricinctus), como outras ameaçado de extinção e que, além da caatinga, é também habitante natural do cerrado, onde o conheci, nas terras das fazendas de Sales Oliveira que percorria, menino, com meu pai, seleiro e pescador, nas viagens de charrete, para os compromissos do profissional e do amador.

E não é que o tatu-bola virou o mascote da copa de 2014 e ganhou o nome de Fuleco, para o qual votaram 1.7 milhões de pessoas, preterindo outras alternativas de nomes como Amijubi e Zuzeco que melhor ficaram sem individualizar ninguém e muito menos a bola-tatu que o tatu-bola passou a protagonizar.

Tive um cachorrinho cocker spaniel dourado cujo nome era Cobi como o do mascote das Olimpíadas de 1992 em Barcelona, este um pastor catalão em estilo cubista inspirado na tela de Picasso em que faz sua leitura pessoal do quadro Las Meninas, de Velazquez.

O meu Cobi já se foi há alguns anos, como se foi também aquela olimpíada e com ela seu mascote. Hoje, os dois Cobis devem brincar, dormir, sonhar e farejar os campos sagrados das lembranças, do imaginário, das saudades, fazendo xixi no muro das recordações.

O Fuleco também vai passar quando a copa do mundo tiver terminado e, quem sabe, o Brasil for outra vez campeão. Mas o tatu-bola e a caatinga, seu habitat natural, estes não podem ter eventualidade de efeméride, mesmo que espetacular e exitosa. Precisam ficar e, permanecendo, dar, na singularidade de seus modos de ser, vida à vida, como do segundo se faz o eterno, como do frágil se faz o seguro, como do quebrado se faz o contínuo, como do interrompido se faz a fluidez, como do que vai se faz o que volta e tudo que assim inova, renova e é sua perda e sua salvação.