Em cinco episódios, o documentário Tom da Caatinga revela aspectos naturais, sociais e culturais desse bioma brasileiro.
Por Ricardo Schinaider de Aguiar
10/06/2013
Explorar a Caatinga e todos os seus aspectos, desde o bioma at� suas características sociais e culturais, pode parecer uma missão quase impossível para qualquer documentário. Dirigido por Lao de Andrade e apresentado pelo cantor e compositor sertanejo Targino Gondim, Tom da Caatinga se propõe justamente a isso: fornecer aos espectadores uma visão ampla não apenas da natureza da Caatinga, mas também de seu povo e suas tradições. Entremeado com muita música e bom humor, o seriado de cinco episódios nos leva a uma viagem por meio de paisagens únicas e mostra a população sertaneja com sua arte, religião, alegrias e dificuldades no semiárido brasileiro.
O tema do primeiro episódio � ecologia. O próprio nome do bioma, Caatinga, faz referência � sua ecologia � em tupi-guarani significa “mata branca�. A explicação para isso est� em uma de suas principais características, a seca, que pode durar de 7 a 9 meses e faz com que o caule de diversas árvores fique esbranquiçado durante esse período. Se a Caatinga parece ser um grande deserto repleto de vegetação morta, ela na verdade apresenta uma flora e fauna de grande diversidade e adaptadas ao clima local. “O homem deve conhecer bem a natureza, que � rica e cheia de segredos�, ressalta Gondim. O umbuzeiro, por exemplo, � uma árvore que armazena água em sua raiz e pode saciar a fome e a sede de sertanejos que a encontram. A importância econômica da Caatinga também � destacada, j� que são naturais de l� alimentos importantes como a mandioca e o caju.
“Ser sertanejo � amar a Caatinga�, diz um morador local no segundo episódio, que traz a figura do sertanejo e algumas de suas artes e tradições. Ele se passa, em grande parte, em uma tradicional feira, que pode ser vista como “uma síntese do modo de vida sertanejo�, segundo Gondim. Nela encontramos uma grande diversidade de pessoas, alimentos e cultura. Os artesões que utilizam o couro e o barro para criar arte, os cozinheiros que preparam os pratos típicos da região, os músicos que tocam e cantam instrumentos e ritmos característicos da Caatinga são os protagonistas. Vemos a força, a resistência e a persistência de pessoas humildes que entrelaçam arte e natureza, conseguindo transformar em cultura as dificuldades da vida na região.
A seca e o fenômeno do êxodo rural são explorados no terceiro episódio. � justamente devido � seca que muitos decidem abandonar a Caatinga em busca de melhores condições de vida. O alvo �, geralmente, a região Sudeste. O sucesso, porém, não � uma garantia. Na favela da Rocinha, no Rio de Janeiro, por exemplo, encontramos uma grande concentração de nordestinos que tentam sobreviver transformando a arte e a música sertaneja em forma de trabalho. O episódio também aborda iniciativas e tecnologias que têm melhorado a qualidade de vida na seca do sertão nordestino e têm contribuído para a diminuição dessa migração. “Quando percebem que a vida na Caatinga � viável, os sertanejos preferem ficar�, afirma Gondim.
No quarto episódio, somos levados a uma viagem pelo rio São Francisco e suas margens. Com nascente na Serra da Canastra, em Minas Gerais, o rio tem mais de 50% de seu trajeto de 2800 quilômetros no polígono da seca at� desaguar no oceano Atlântico.
Muito mais que apenas um rio, o “velho Chico�, como � chamado pelos sertanejos, � tratado por muitos como um amigo e at� mesmo como um membro da família. Utilizado para lazer e como meio de sustento, visto como possibilidade para desenvolvimento econômico ou símbolo de esperança, o rio � peça fundamental no cotidiano de mais de 14 milhões de pessoas que vivem nas proximidades de suas margens. O documentário também discute a Barragem de Sobradinho e projetos de irrigação do governo. Se por um lado h� vantagens, como o bombeamento de água para o sertão e melhorias nas condições da agricultura, essas intervenções prejudicam populações ribeirinhas que dependem do rio para sobreviver.
A forte presença da religião na vida da população � o tema do quinto e último episódio, fazendo o telespectador acompanhar a maior romaria do nordeste brasileiro e uma das maiores do país. O destino da viagem � Juazeiro do Norte (Cear�) onde est� enterrada a principal figura religiosa do Nordeste, o padre Cícero. Independentemente do tempo da jornada, que pode ultrapassar 12 horas, e das condições precárias do transporte, conhecemos sertanejos que realizam a romaria anualmente h� décadas. Além disso, a religião também est� presente nas principais festas, que na verdade não deixam de ser homenagens a santos como Santo Antônio, São Pedro e São João.
Tom da Caatinga conclui nos mostrando a f� inabalável dos sertanejos, com a crença de que tudo dar� certo ao fim e de que as chuvas podem atrasar, porém sempre virão.