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A cidade e o conhecimento - Carlos Vogt
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Experiências internacionais diversas mostram fluxo do conhecimento nas cidades
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Cidade do cérebro aglutina conhecimento e cidadania fora do eixo Rio-São Paulo
Márcio Derbli
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Cidade do Saber de Camaçari: inclusão social para amenizar a desigualdade
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Google maps no país do Tiririca
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Cidades e regiões: a espinha dorsal da inovação na Europa
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Reportagem
Cidade do cérebro aglutina conhecimento e cidadania fora do eixo Rio-São Paulo
Por Márcio Derbli
10/02/2011

Macaíba, uma cidade na região metropolitana de Natal, capital do Rio Grande do Norte. Um corpo docente com 25 pesquisadores da área de neurociências – do Brasil e do exterior – utilizando 25 laboratórios com equipamentos de última geração numa área de 13 mil m 2, e um supercomputador com capacidade para operar 46 trilhões de operações por segundo. Este será o “Campus do Cérebro”, um instituto de pesquisa idealizado pelo professor Miguel Nicolelis, pesquisador brasileiro da Duke University.

A inauguração do campus não será o último passo do projeto, iniciado em 2003. A proposta é a continuidade com novas iniciativas educacionais, culturais e científicas, culminando na construção de um parque tecnológico e científico, a “Cidade do Cérebro”. Na verdade, uma parte da “Cidade” pensada por Nicolelis já está em funcionamento, pois o projeto consiste de centros de pesquisa, de saúde e escolas, como pude conhecer durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), realizada em 2010, em Natal.

O princípio do projeto, segundo o site da Associação Alberto Santos Dumont para Apoio à Pesquisa, a AASDAP, Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) que administra os recursos das instituições, é “usar a ciência para transformar a realidade de uma comunidade, de tal sorte a criar um núcleo de autossustentabilidade”. Segundo o professor Sidarta Ribeiro, chefe de laboratório do Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (IINN-ELS), em Natal (RN), a escolha pela Oscip para o gerenciamento das atividades, se deve à agilidade na administração. “Isso nos beneficia para podermos manter o nível (de pesquisa), para comprar insumos, contratar pessoal. Possibilita-nos manter uma excelência”, conta Ribeiro.

Atualmente estão em funcionamento o IINN-ELS, um centro de pesquisa em neurociência, o Centro de Saúde Anita Garibaldi, em Macaíba, duas unidades da Escola Alfredo J. Monteverde (uma em Natal e a outra em Macaíba), além de um laboratório instalado no Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (SP).

Apesar dos atrasos, o centro de pesquisa em Macaíba, o “Campus do Cérebro”, deverá ser inaugurado em 2012, segundo declarações feitas à imprensa pelo professor Nicolelis, inclusive pelo seu microblog Twitter (@MiguelNicolelis). Até o momento, os investimentos em todo o projeto, incluindo o campus, superam os 100 milhões de reais e, atingindo todas as etapas previstas, estima-se que alcançarão um bilhão de reais.

Construídos fora do eixo Rio - São Paulo, numa região com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), a escolha do local se deu justamente pelo desejo de “contribuir com o processo de minimização das desigualdades sociais e econômicas entre o nordeste e as regiões mais desenvolvidas do sul do país, descentralizando a produção e a disseminação do conhecimento, e tornando a educação científica qualificada acessível às crianças das escolas públicas do Rio Grande do Norte”, conforme explica o site da instituição.

Em minha visita ao IINN-ELS e à Escola Alfredo J. Monteverde pude testemunhar a concretização desse desejo, principalmente na escola. A unidade atende cerca de 600 alunos do ensino fundamental das escolas públicas de Natal por semana, no turno contrário à aula. Os estudantes frequentam a escola duas vezes por semana e escolhem entre as oficinas oferecidas: Ciência e Tecnologia, Robótica, História, Química, Biologia, Física e Ciência e Arte. A atmosfera do local era de alegria. Quando cheguei à escola, alguns alunos tocavam instrumentos durante o intervalo entre as oficinas.

A ideia que norteia o funcionamento da escola segue os princípios de todo o projeto. “Nosso grande objetivo aqui é formar cidadãos por meio da educação científica”, resume Dora Montenegro, diretora de projetos e ações sociais. E conta uma experiência que presenciou para descrever o que pretende. Um dos alunos foi questionado por uma equipe de TV, que fazia uma reportagem na escola, sobre o que ele mais gostava ali. “É que aqui eu tenho voz, ninguém me manda calar a boca”, respondeu o aluno. A unidade da Escola em Macaíba atende mais de 400 alunos. Todos são escolhidos por sorteio.

A partir deste ano, dezoito alunos de ensino médio, selecionados entre os mais de 3 mil que já frequentaram a escola, iniciarão um programa de pré-iniciação científica no IINN-ELS, compartilhando suas experiências com os alunos que ainda frequentam a Alfredo J. Monteverde.

O projeto da “Cidade do Cérebro”, conta ainda com o Centro de Saúde Anita Garibaldi, que atende mulheres com gestação de alto risco e recém-nascidos em Macaíba. Não tive oportunidade de conhecer as instalações, mas é possível constatar a dimensão global que o projeto carrega: o cuidado e o desenvolvimento da cidadania do berço até a formação científica. Que venha o “Campus do Cérebro” e muitas outras conquistas.