10/02/2015
Ao ler o livro Avaliação educacional: desatando e reatando nós, organizado por José Albertino Carvalho Lordêlo e Maria Virgínia Dazzani, compreendemos a escolha da palavra “nós” para o título. Os desafios para a educação brasileira são proporcionais ao tamanho e à complexidade do país: amplo, heterogêneo e desigual. Nesse cenário, os caminhos para a avaliação do sistema educacional não seriam menos sinuosos. E compreender esse caminho, ou pelo menos parte dele, é a tarefa a que o livro se propõe.
Como ressaltado pelos organizadores na introdução, os autores de cada capítulo abordam o tema sob diversos pontos de vista e metodologias, podendo convergir em suas reflexões ou se afastarem, ampliando a discussão. Nos dois primeiros capítulos, já podemos perceber que os desafios da avaliação começam nos seus pressupostos e fundamentos, que irão influenciar sua concepção e seus objetivos.
No primeiro capítulo, Lana Guimarães de Souza levanta questões sobre o papel político da avaliação, questionando a predominância de parâmetros econômicos e trazendo à tona as tensões entre mercado, regulação do Estado e participação social. No segundo, Robinson Moreira Tenório e Maria Antonia Brandão de Andrade descrevem a trajetória histórica da avaliação do ensino superior no país e analisam as mudanças políticas e econômicas que modificaram o sistema educacional, em especial o fortalecimento das políticas neoliberiais, que tornaram as universidades um lugar não só de produção do conhecimento, mas também de qualificação de mão de obra para o mercado.
Os autores também apontam o crescimento de Instituições de Ensino Superior (IES) privadas nos últimos anos, o que amplia a diversidade de perfis de instituições a serem avaliadas. Essa questão é abordada no capítulo seguinte por Jorge Luiz Lordêlo de Sales Ribeiro, em sua análise sobre o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Um dos problemas levantados é a configuração do sistema, composto por instituições públicas e privadas, com ou sem fins lucrativos, e de tamanhos diferentes. Para o autor, o Sinaes acaba tendo um impacto mais significativo nas instituições privadas de pequeno e médio porte, pois sua sobrevivência é mais suscetível a uma avaliação negativa. Nesse caso, essas IES se preocupam mais em ter um desempenho positivo na avaliação, o que as levariam a adotar medidas para oferecer um serviço de melhor qualidade.
O livro também traz análises empíricas dos sistemas de avaliação, como o capítulo cinco, que avalia a implantação e condução do Sinaes no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia (IFBA) a partir de relatos de membros da Comissão Própria de Avaliação da instituição. As considerações feitas a partir das experiências práticas, nesse e em outros capítulos, apontam na mesma direção das reflexões teóricas: apesar dos acertos, ainda há muito o que se ajustar nos modelos de avaliação. Uma das questões levantadas é a necessidade de uma sistematização dos dados recolhidos através do Sinaes (que engloba um grande número de variáveis) de forma mais eficiente e acessível, para que seja possível transformar os resultados das avaliações em mudanças nas instituições.
Por outro lado, o capítulo que analisa a experiência do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), que faz parte do Sinaes, sinaliza na direção contrária, argumentando que apenas dez questões não são suficientes para medir a competência e o conhecimento dos alunos. Outro aspecto relatado é a resistência dos alunos em participar do exame, pois se sentem forçados a se submeter a uma avaliação e não o compreendem como um instrumento para garantir a qualidade do curso. Esse ponto nos leva à questão da avaliação no plano individual, que também é abordada no livro.
No capítulo “Ameaça dos estereótipos no desempenho intelectual de estudantes universitários cotistas”, os autores apresentam os resultados de um experimento realizado com alunos cotistas e não cotistas para avaliar o seu desempenho em testes em três condições diferentes: com elogio à capacidade dos alunos cotistas, com referência a uma suposta superioridade de alunos não cotistas e uma terceira onde não se abordava a questão das cotas antes do início do teste. Os resultados apontaram uma diferença considerável entre a primeira e a segunda situação, sendo que os alunos cotistas tiveram desempenho melhor na primeira.
Diante de todas as análises, críticas, reflexões e dados que o livro traz em seus 14 capítulos, é possível vislumbrar o conjunto de fatores que fazem parte dos processos de avaliação educacional e os desafios que se colocam para aperfeiçoá-los. E, para isso, a obra se apresenta como um ponto de partida para se pensar as mudanças necessárias e possíveis para esses processos.
Avaliação educacional: desatando e reatando nós
Autores: José Albertino Carvalho Lordêlo e Maria Virgínia Dazzani (organização)
EDUFBA
Ano: 2009
349 p.
Download disponível em: http://books.scielo.org/id/wd
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