I
Do outro lado da prisão de nós,
a liberdade espanta os pássaros da esperança;
com eles voa e sem pousar nos muros,
no mesmo ar em que deslisa solta
do cansaço de estar só, da solidão descansa.
II
A vontade de ser livre é tão grande e tanta
que a ela afeiçoado sinta-se seu prisioneiro;
por mais que iluda o conforto do abrigo,
que protege e defende de qualquer perigo,
não deixe de partir, pedindo para ficar, nas asas do desejo.
III
Por peso do passado e dívida na balança,
não importa o espaço, o tempo, a variedade,
não é fácil desprender-se da incerteza do futuro
e encontrar perdida, como em palheiro escuro,
a agulha que costura o fio da vida à liberdade
e ata, ponto a ponto, o que se esquece com a lembrança.
IV
Se a liberdade é quase sempre, exclusivamente,
a liberdade de quem discorda de nós, ou não
sendo um fim, mas uma consequência
da verdade que se busca insistente,
chegar a uma é alcançar a outra,
levando em conta a dessemelhança
na igualdade e na diferença da mesma e múltipla opinião.
V
Em seu nome não se cometam os crimes cometidos,
nem se a guarde sufocada no calabouço da eterna vigilância;
não sendo simples situar-se no equilíbrio entre o voo e o pássaro que o transporta,
entre o triunfo do indivíduo e a sociedade que o derrota,
ter da lei que afirma a liberdade e a restringe
a afirmação natural de que se nasce livre para ser livre.
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