Um jovem fumante hoje tem mais risco de ter câncer de pulmão que seu avô nos anos 1960, mesmo consumindo a mesma quantidade de cigarros, segundo o relatório “Projetado para viciar”. Publicado pela iniciativa internacional Campanha para Crianças Livres de Cigarro, o documento enfoca como a indústria do tabaco tem reformulado seus produtos.
A organização defende a maior regulação sobre o design e o conteúdo dos cigarros para reduzir o impacto na saúde. A Food and Drug Administration (FDA), agência americana responsável por esse tipo de controle, deveria cobrar dos fabricantes a redução da toxicidade e da adição de ingredientes para atrair os jovens, segundo os autores, assim como controla a indústria de alimentos e de medicamentos. “Não há justificativa para se permitir que as companhias de tabaco façam alterações em seus produtos que provoquem mais mortes decorrentes de câncer e de outras doenças graves”, afirmam.
Com base em estudos americanos, o relatório traz informações sobre como os cigarros se tornaram mais viciantes e atraentes para jovens, mulheres e outros públicos e, consequentemente, ainda mais perigosos.
O aumento dos níveis de nicotina e a adição de açúcares, tornando a fumaça do tabaco mais fácil de ser inalada, são algumas das mudanças feitas ao longo dos anos. Aditivos também são usados para atrair novos consumidores como o ácido levulínico, que reduz a aspereza da nicotina e torna a fumaça mais suave e menos irritante, e broncodilatadores, que facilitam a passagem da fumaça pelos pulmões.
Quanto ao design, adotou-se o uso de filtros ventilados sob o argumento de diluir a fumaça e reduzir os teores de alcatrão e nicotina sendo, supostamente, menos nocivos. No entanto, esse recurso é perigoso por exigir inalação mais frequente e com mais vigor pelo fumante.
Os autores afirmam que, mesmo com as ações de combate ao tabagismo e a redução do número de fumantes, o cigarro continua sendo um problema de saúde pública. “Ao longo dos últimos 50 anos, os fabricantes de tabaco desenvolveram e comercializaram produtos ainda mais sofisticados, altamente eficazes para criar e manter a dependência à nicotina, mais atraentes para jovens novos fumantes e ainda mais nocivos. Eles transformaram um produto já letal e viciante em algo ainda pior”, afirmam os autores.
Substâncias adicionadas ao cigarro. Imagem: Campanha para Crianças Livres de Cigarro
Proibição está suspensa no Brasil
No Brasil, desde 2013 está suspensa por liminar do Supremo Tribunal Federal a resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que controlaria as substâncias usadas na fabricação de cigarros (RDC 14/2012).
O pedido partiu da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que argumentou sobre o impacto econômico a ser causado pela resolução, com demissões e fechamento de fábricas. Paula Johns, diretora-executiva da Aliança de Controle do Tabagismo, reforça a importância da proibição. “Trata-se de colocar limites numa atividade comercial. Eles não podem colocar o que eles querem para o cigarro ficar mais atrativo. É isso o que acontece na prática”.
Ela explica que a decisão da Anvisa partiu de um processo longo de consulta pública iniciado em 2010, envolveu um grupo de trabalho e, posteriormente, especialistas internacionais. A expectativa é que a medida reduza a iniciação de novos fumantes, já que os aditivos tornam os cigarros mais atrativos para crianças e adolescentes.
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