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Inovações em EaD na América Latina
Por Gilda Helena Bernardino de Campos
10/09/2012

Quantas vezes você já leu ou viu uma matéria sobre educação a distância no jornal e se perguntou: “Mas... Como acontece?”. A educação na modalidade a distância tem sido difundida e vem apresentando resultados não apenas no Brasil como no mundo. Este artigo comenta sobre as novidades e inovações na educação a distância na América Latina a partir de uma interessante experiência liderada pelo New Media Consortium (NMC),dos Estados Unidos,e pela Universitat Oberta de Catalunya,da Espanha.Trata-se do relatório “Perspectivas tecnológicas: educação superior na Ibero-América 2012-2017”, que será lançado em breve com versão em português.

O Projeto Horizón reflete um esforço de colaboração plurianual entre o NMC e o eLearn Center da Universitat Oberta de Catalunya, com o objetivo de orientar os responsáveis pela educação superior a respeito dos importantes avanços tecnológicos, a fim de apoiar o ensino, a aprendizagem e a investigação na educação superior. Pela segunda vez neste ano trabalharam em um relatório com a comunidade latino-americana e mais Portugal e Espanha.

A investigação foi desenvolvida com o intuito de elaborar um relatório baseado em uma adaptação do método Delphi e coordenada pelo NMC. Esta técnica permite trabalhar com grupos de especialistas, visando atingir um consenso entre os diversos pontos de vista de seus participantes. Nesse caso, a discussão centrou-se no impacto das novas tecnologias no ensino, na aprendizagem, na pesquisa e na gestão da informação na educação superior ibero-americana nos próximos cinco anos. O relatório sobre a educação superior na Ibero-América 2012-2017 foi elaborado com o objetivo de explorar as tecnologias emergentes e prever o seu impacto potencial no contexto ibero-americano. O trabalho foi realizado entre fevereiro e abril de 2012 e baseado no trabalho de um grupo de quarenta e cinco especialistas.

O grupo iniciou as suas reflexões em torno de uma série de perguntas, de modo a discutir tendências e desafios, além de identificar uma ampla gama de tecnologias com potencial uso educativo. As doze tecnologias emergentes apresentadas no relatório refletem, uma vez que os consultores pertencem às universidades latino-americanas, o estado da educação superior na Ibero-América. Cabe explicar que participam do estudo Portugal e Espanha, que liderou o proceso de discussão.

As tecnologias que ficaram em evidência para os próximos cinco anos foram: aplicações móveis, computação em nuvem, conteúdo aberto, ambientes colaborativos, análises de aprendizagem, aplicações semânticas, uso de tablets, cursos abertos on-line em massa, realidade aumentada, aprendizagem com base em jogos, ambientes pessoais de aprendizagem e geolocalização.

Mas, o que significa essa seleção de tecnologias aplicadas à educação pelos especialistas envolvidos na pesquisa?

Em primeiro lugar, o projeto parte do princípio de que todas as universidades participantes ― e são muitas distribuídas por países como Brasil, Colômbia, México, Uruguai, Venezuela, Argentina, entre outros ― utilizam a tecnologia em maior ou menor grau em seus cursos. Esses especialistas acreditam que existem desafios a serem superados, entre os quais citaram os seguintes pontos que apresentamos para nossa discussão:

  • A alfabetização digital é chave em todas as disciplinas e profissões, sendo necessário promovê-la a partir de qualquer programa educativo;
  • É necessário mudar as estruturas institucionais de acordo com modelos da sociedade do conhecimento;
  • As universidades, em especial seus professores, devem fazer um uso eficiente e apropriado das tecnologias para a facilitação da aprendizagem e da pesquisa.

Entendemos, portanto, que sem a alfabetização digital de nossos professores e alunos, ficaremos à margem do desenvolvimento científico provocado pela chamada sociedade e/ou economia do conhecimento, como propõem Gibbons et al. (1994). As tecnologias devem ser utilizadas não por si só, mas com o intuito da melhoria da aprendizagem. Reparem bem, falamos na melhoria da aprendizagem mudando o foco do professor para o aluno. Isso significa que as tecnologias podem e devem trazer modificações na estrutura do ensino superior, tornando as salas de aula mais cooperativas e utilizando as chamadas redes sociais on-line e buscadores para a pesquisa de conteúdos, resignificando a prática pedagógica em sala de aula.

Algumas tecnologias que foram listadas, como a computação em nuvem, a geolocalização, as aplicações semânticas e a realidade aumentada, referem-se mais precisamente aos desenvolvedores, ao passo que os conteúdos abertos, uso de ambientes de aprendizagem colaborativos, cursos abertos oferecidos massivamente e o uso de tablets referem-se aos professores.

Afirmo isto porque a computação em nuvem trata do armazenamento de arquivos e do acesso a atualizações de software que ficam guardados fora dos servidores e das máquinas das instituições. Com o crescente número de dados a serem armazenados, essa parece ser uma excelente solução, desde que o suporte técnico atenda a contento o usuário.

A geolocalização trabalha com a localização em superfície terrestre, podendo expressar-se com duas coordenadas que podem ser lidas nos dispositivos móveis, tais como o celular, o GPS (que vemos nos táxis, atualmente) e que permite localizar a nossa posição. Podemos gravar as nossas coordenadas ao mesmo tempo em que tiramos fotografias, falamos com amigos ou publicamos atualizações nas redes sociais.

As aplicações semânticas inferem o significado ou a semântica da informação na internet para estabelecer ligações e proporcionar respostas que, de outro modo, implicariam dedicar uma grande quantidade de tempo e esforço. As aplicações semânticas facilitam a investigação, ao permitir ao usuário encontrar, partilhar, combinar e relacionar informação na internet, como já fazemos hoje em diferentes buscadores, tais como o Google, o Bing, o Yahoo, entre outros.

Os sistemas de realidade aumentada (RA) baseiam-se na geração de imagens novas a partir da combinação de informação digital em tempo real e do campo de visão de uma pessoa. Encontramos utilizações da realidade aumentada em cursos técnicos e, atualmente, há possibilidade de grande crescimento, uma vez que alunos podem conhecer detalhes do funcionamento técnico de um problema dado.

A adoção de conteúdos abertos está relacionada com uma mudança cultural, e não tecnológica. O conteúdo aberto envolve não apenas o intercâmbio de informação, mas também o intercâmbio de práticas pedagógicas e experiências. Parte do atrativo do conteúdo aberto também constitui uma resposta aos crescentes custos de publicação e à falta de recursos educativos em algumas regiões, bem como uma alternativa rentável aos livros de texto e outros materiais. No Brasil, uma iniciativa do Ministério da Educação (MEC) pode ser encontrada no site da PUC-RJ ou no Portal do Professor, um programa do MEC. Nesse portal, os professores podem encontrar, em português, metodologias e práticas pedagógicas inovadoras na área de ciência e tecnologia, além de materiais didáticos sob diversos formatos digitais em outras línguas, tais como espanhol, inglês e francês.

Os ambientes colaborativos são espaços on-line (habitualmente alojados na “nuvem”), que facilitam o intercâmbio e o trabalho em grupo, independentemente de onde se encontrem os participantes. O atributo essencial das tecnologias nessa categoria consiste em tornar mais simples para as pessoas que partilham interesses e ideias trabalhar em projetos conjuntos e supervisionar o progresso coletivo.

Os tablets chegaram a ser considerados não apenas uma nova categoria de dispositivos móveis, mas uma nova tecnologia que combina características de portáteis e telefones inteligentes com internet sempre ligada e com milhares de aplicações para personalizar a experiência. Já estão sendo disseminados entre professores e alunos nas universidades.

Enfim, há uma tendência à inovação na educação superior em toda a América Latina, como vimos ao longo deste artigo, mas para que essa inovação se cumpra é necessário romper com velhos paradigmas do ensino, a fim de tornarmos nosso aluno um indivíduo participante e interessado em sua própria aprendizagem.

Gilda Helena Bernardino de Campos é professora do Departamento de Educação e coordenadora central de educação a distância da PUC-Rio.

Referências bibliográficas

Durall Gazulla, E. et al. Perspectivas tecnológicas: educación superior en Iberoamérica 2012-2017 . Austin, Texas: The New Media Consortium, 2012.
Gibbons, Michael et al. The new production of knowledge: dynamics of science and research in contemporary societies. Sage Publications, 1994.