esumo: O que cabe à construção de epistemologias senão fazer f
Tudo
o que surge no mundo, luta para nele permanecer, e o sucesso nessa
empreitada depende da capacidade de produzir continuidade. Imerso na
atividades de garantir a sua sobrevivência, o corpo humano, uma
mistura de determinismos e aleatoriedades, não pode ser
concebido fora do tempo, como se fosse algo em si mesmo.
Quando James Watson e Francis Crick
descobriram, em 1953, a estrutura em dupla hélice do DNA, nos
ensinaram que o mistério da vida era habitado por reações
químicas. No entanto, a existência dos pares das
moléculas adenina-timina e citosina-guanina não
soterrou as pseudoexplicações a respeito da vida que
não levam em conta a química que regula o corpo.
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O
desejo de permanecer leva à necessidade de fazer outro a
partir de si mesmo, e só pode se realizar porque no mundo onde
vivemos, as informações tendem a operar dentro de um
processo permanente de comunicação. As informações
encostam-se, umas nas outras, e assim se modificam e também ao
meio onde estão. Vale destacar a singularidade desse processo,
pois transforma todos os nele envolvidos, seja a própria
informação, o corpo onde ela encostou e do qual passou
a fazer parte, as outras informações que constituíam
o corpo até o momento específico do contato com a nova
informação, e também o ambiente onde esse corpo
(agora transformado) continua a atuar. E, estando já
transformado, tende a se relacionar com a nova coleção
de informações que passou a o constituir. Então,
também altera o seu relacionamento com o ambiente,
transformando-o. Contágios simultâneos em todas as
direções, agindo em tempo real.
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Resumo: O que cabe à construção de epistemologias senão fazer f
Caso
a vida funcione, de fato, em uma estrutura como essa, com o passar do
tempo, as trocas permanentes tenderiam, quase como uma conseqüência
natural, a borrar os limites de todos os participantes do fluxo,
produzindo, então, uma plasticidade não congelada de
suas fronteiras. O fato dos territórios epistemológicos
estarem muito mais móveis hoje, tanto na ciência quanto
na arte, não passa, portanto, de um traço evolutivo.
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Os
modos de armazenar, tansmitir e interpretar informação
não param de se transformar, e a vida torna-se cada vez mais
complexa. A certa altura, os processos evolutivos produziram o corpo
humano para que a evolução pudesse continuar a se
processar. Desde então, esse corpo vem mudando, pois resulta
da coleção de informações que o
constituem a cada momento. Se as trocas não estancam, pois
pertencem ao fluxo permanente, cada corpo está sempre sendo um
corpo processual e em co-dependência com as trocas que realiza
com os outros corpos e com o ambiente. Por isso, pode-se pensar o
corpo como sendo sempre um resultado provisório de acordos
contínuos entre os mecanismos que promovem as trocas de
informação.
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A
compreensão da vida como produto e produtora de um mundo em
rede dessa natureza marca uma diferença básica. E nela,
a hipótese de que os corpos são sempre corposmídia
de si mesmos ocupa uma posição central.
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Há um fluxo de
transformação inestancável e permanente em curso
na vida, e ele se chama evolução. Não é
direcional e tampouco cumulativo (o que o impede de ser associado à
noção de progresso) e apoia-se no movimento para
promover as suas ações. O movimento, presente como
padrão já no embrião, precisa da relação
com o espaço para acontecer como movimento, para se atualizar.
Ou seja, é o movimento quem favorece a existência da
comunicação.
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A
noção do corpo como uma construção onde
discurso e poder se inscrevem tornou-se moeda forte depois de
Foucault. Tratar o corpo como corpomídia tem conseqüências
políticas. E a primeira delas pode ser identificada na
proposta que tal entendimento de corpo traz: o
corpo não é, o corpo está. Não se trata
de uma substituição meramente retórica de
verbos. A troca do verbo ser pelo verbo estar instaura a
transitividade no lugar anteriormente ocupado pela noção
de identidade.
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A
proposta de que todo corpo é corpomídia de si mesmo,
isto é, um corpomídia do estado momentâneo da
coleção de informações que o constitui,
mexe também com o entendimento habitual de mídia.
Aqui, mídia não é tratada como sendo um meio de
transmissão. Na mídia que o corpomídia emprega,
a informação fica no corpo, se torna corpo.
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Não
se trata da noção de corpo-máquina, onde adentra
uma informação que estava fora (no ambiente), a máquina
processa e, em seguida, a devolve ao ambiente, em uma seqüência
fora-dentro-fora. Ou seja, a teoria corpomídia rejeita o
modelo computacional de comunicação.
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A
mídia do corpomídia, então, identifica um estado
do corpo. O corpo é mídia desse seu estado, por isso é
sempre mídia de si mesmo, de cada momento dos seus estados.
Porque um corpo sempre mostra a si mesmo, o que equivale dizer que
ele sempre se apresenta com a coleção de informações
que o constituem naquele exato momento.
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Por
isso, o corpo não é, o corpo está
sendo corpo. Melhor dizendo, está sempre sendo corpomídia
da evolução.
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Helena
Katz é professora no programa
de pós-graduação em comunicação e
semiótica, da Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo.
Resumo: O que cabe à construção de epistemologias senão fazer f
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