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Artigo
Processo de criação de um perfume
Por Olivier Paget
10/09/2007
Várias vezes no nosso dia-dia, estamos estimulados pela sensação olfativa que os perfumes exalam ao nosso redor: quem não foi sensibilizado à fragrância de uma pessoa de sexo oposto, ou quem não reparou o cheiro da loja de lingerie do shopping? Bem, estamos convivendo num mundo repleto de cheiros aonde destacam-se os perfumes de marca, verdadeiras alquimias que realçam a própria personalidade do usuário.

Mas, já pensaram como esses perfumes são criados ?

Vamos primeiro definir o perfume, que é uma composição harmoniosa de diversas matérias-primas naturais e sintéticas. Cada uma dessas matérias-primas possui um ponto de evaporação específico. Algumas desaparecem em poucos minutos, outras permanecem por algumas horas, e há outras ainda que podem durar por um ou mais dias.

Para ilustrar esse fato, um óleo de laranja na mão some rapidinho, enquanto uma essência de lavanda vai ficar cheirando na pele umas duas ou três horas. O óleo de patchouly ficará até o dia seguinte!

No mundo da perfumaria, usamos o termo de “pirâmide olfativa” para concretizar essas fases de evaporação. No topo, encontram-se as matérias-primas de rápida evaporação representando entre 10 a 20 % da fórmula (essências cítricas e verdes em geral). Depois, vem o caráter do perfume com as notas típicas, do gênero floral, outras um pouco frutal, ou aromáticas (jasmim, rosa, muguet, osmanthus, pêssego, lavanda, armoise....). Elas representam uns 40% da formulação. Os últimos 40-50 % são representados pelas matérias-primas de peso molecular alto, tais como as madeiras (cedro, sândalo, vetiver e patchouly), os muscs, os pós (vanilina, cumarina...) e outros ambarados.

A pirâmide representada mostra as três fases: notas de saída, notas de corpo, notas de fundo.

Como a combinação das matérias-primas tem de ser harmoniosa, o senso artístico que possui o criador-perfumista, com experiência acumulada no decorrer dos anos de trabalho, vai influenciar a escolha e a concentração de cada um dos componentes no perfume. O perfumista vai compor uma fórmula contendo em média umas quarenta matérias-primas, formando assim uma estrutura olfativa harmoniosa.

Ilustramos a composição de um perfume pelo diagrama abaixo, onde uma arte similar à perfumaria, a literatura, baseia-se no mesmo princípio de combinação harmônica. As letras do alfabeto são as moléculas químicas básicas que o perfumista usa (ésteres, álcoois, aldeídos, éteres...). Misturando algumas, obtém-se acordes básicos: uma nota de limão combinando d’limoneno com citral e aldeído C-10. Isto equivale às palavras da literatura. Quando o perfumista agrega um acorde de limão com um de mandarina, acrescidos de um outro de bergamota, obtém-se um acorde cítrico. É a frase que você vai ler.
A obra de arte equivalente a um livro (de poucas páginas) seria então a conjunção de vários acordes provenientes das famílias cítricas, florais, frutais, spicy, amadeiradas, ambaradas, almiscaradas, entre outras.

Nós não podemos esquecer também o fator importante da maceração, período de descanso que está se perdendo como conseqüência da rapidez do nosso mundo globalizado.

Igual a um vinho de qualidade, quanto mais componentes naturais tiver o perfume, mais o tempo agirá como um bonificador que vai arredondar todas as notas. Isto é perceptível quando a mistura do perfume acaba de ser feita, e o perfumista cheira a fita olfativa impregnada da fragrância: ele percebe que as notas saem uma depois da outra, deixando a fragrância esticada, e com pontas (geralmente cítricas e verdes). Outras notas pesadas do tipo abaunilhadas (bálsamos) precisam de pelo menos uma semana para englobar as outras notas, e dar um “cachet” de nobreza ao perfume.

Nos dias de hoje, a perfumaria está seguindo as guinadas econômicas e virou uma indústria aonde os prazos de criação e o valor do quilo de essência estão pesando forte na balança da qualidade do produto final. O perfumista virou um hábil compositor, cujo trabalho pode sobressair dos lançamentos numerosos. Percebe-se isso pela colocação em 2006 no mercado internacional de um perfume por dia útil!
Conforme mostra a ilustração acima, os perfumistas trabalham no meio de um time (team work) onde cada um depende do outro: setor de avaliação, de marketing, pesquisa & desenvolvimento, gerente de conta. A idéia da criação do perfume vai sair de um brainstorming entre todas essas entidades, e ser concretizada pelos ensaios sucessivos. Quando se acredita que um ensaio atinge os parâmetros requisitados que agradam o cliente, então o perfume é apresentado a ele, que vai julgar a sua qualidade olfativa. Geralmente, a primeira avaliação de um projeto coloca na frente do cliente várias opções. Este habitualmente fica com duas a três fragrâncias que serão trabalhadas de novo nas semanas a seguir, e apresentadas novamente. Esse vai-e-vem procura acertar a expectativa do cliente graças à capacidade criativa do perfumista que domina a sua arte.

Como acaba de ser explicado, atualmente a criação de um perfume engloba vários fatores interdependentes que resultam, uma vez que o objetivo é atingido, numa fragrância que agrada a maioria das pessoas que a irão cheirar. Assim criará ligações entre o subconsciente e o momento, a imagem e os outros sentidos, que fixarão para sempre o perfume na memória de quem o sentiu.


Olivier Paget é perfumista da empresa Mane do Brasil há 15 anos.