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Editores discutem desafios da divulgação científica em redes sociais
Por Katia Kishi
23/07/2015
“Uma boa divulgação precisa de estratégia”, apontou a pesquisadora do Labjor, Germana Barata, para dar início às discussões da mesa “A importância da divulgação científica brasileira através das mídias e redes sociais”, durante a 67ª Reunião Anual da SBPC. 

Para compreender as melhores estratégias, além de compartilhar a superação de dificuldades como linguagem das redes sociais, financiamento e profissionalização, foram convidados para debater Silvia Galleti, vice-presidente da Associação Brasileira de Editores Científicos (ABEC); Atila Iamarino, pesquisador com experiência em divulgação científica em blogs e YouTube; Roberta Cardoso Cerqueira, editora da revista História, Ciências, Saúde – Manguinhos (Fiocruz) e Solange Santana, editora da Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE), da USP. 

Galleti destacou que a divulgação passou a ser uma exigência de muitas bases de indexação, como a SciELO, que determinou que, a partir de julho, todos os periódicos da base tenham “um plano operacional de marketing e divulgação”. Assim, devem providenciar o envio de press releases, que serão publicados no blog SciELO e portal, a exemplo de periódicos internacionais que publicam em portais como EurekaAlert! e AlphaGalileo. Entre as exigências, há também o desenvolvimento de materiais para redes sociais como Twitter, Facebook, Academia.edu, Mendeley e ResearchGate, entre outros. 

Atila Iamarino explica que a tendência é a inserção das revistas nas mídias sociais e a mudança nas medições, pois os tradicionais índices de impacto, calculados principalmente pelo número de citações, não conseguem avaliar por completo um artigo. Com o Altimetrics (métricas alternativas) é possível avaliar aspectos como o número de downloads e visualizações, além de dados sobre comentários e compartilhamentos. As métricas alternativas também trazem vantagens para o autor, como o “rastreador” ImpactStory, que mapeia os acessos de toda a produção, como artigos (pesquisa), visualização de slides de aulas (ensino) e outras produções, como vídeos, blogs e reportagens (divulgação e extensão). 

Ainda que sejam muitos os benefícios da divulgação das redes sociais, Galleti adverte que não é aconselhável criar perfis apenas para cumprir exigências, ou publicar sem que a linha editorial da revista mantenha a ética dos conteúdos divulgados, pois o efeito pode ser contrário. 

Redes sociais e suas dificuldades 

Durante o encontro, as editoras Roberta Cerqueira, da revista História, Ciências e Saúde Manguinhos, e Solange Santana, da Revista Brasileira de Educação Física e Esporte (RBEFE), compartilharam os desafios da inserção nas redes sociais. 

A fim de promover melhorias com qualidade, Cerqueira destaca que foi necessário buscar financiamento, tanto na Fiocruz quanto em editais, como do IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Com os recursos disponíveis, puderam desenvolver dois portais (um em inglês e outro em português, com conteúdos não espelhados) e expandir a equipe, com a contratação de duas jornalistas. 

Já a editora Solange Santana teve mais dificuldade em implementar mudanças, pois a equipe editorial é composta por apenas dois funcionários. No entanto, a necessidade de expandir o público leitor do periódico fez com que persistissem na tarefa. “A revista não era nem conhecida dentro da própria Faculdade de Educação Física da USP, e hoje temos mais acessos que as redes institucionais”, comemora. 

As duas editoras concordam que, para o trabalho eficaz, é necessário estar constantemente conectado. No caso da RBEFE, com mais de seis mil fãs no Facebook, Santana calcula que cerca de 80% do público interage com a revista nas redes sociais, o que demanda tempo para responder aos questionamentos e monitorar polêmicas. 

Estratégias que deram certo 

Santana usa a disseminação para comparar as estratégias adotadas na divulgação em redes sociais, pois algumas sementes vão frutificar, e outras não. Para não perder toda colheita, diz, a equipe precisa medir, analisar e agir. Assim, como uma das primeiras ações, desenvolveram um questionário para identificar o perfil do público e adequar a linguagem. A associação da pesquisa, respondida por 40% dos assinantes, com outras métricas de acesso ao blog e redes sociais da RBEFE permitiu o desenvolvimento de manuais sobre o que e como publicar em diferentes canais. 

Uma das estratégias adotadas foi criação de um perfil com biblioteca na rede Mendeley, dicas de leituras e eventos relacionados com a área na página do Facebook e encaminhamento de conteúdo por e-mail. Santana conta que 21% dos acessos da revista vêm de dispositivos móveis (smartphone ou tablet), então foi desenvolvido um aplicativo, em uma plataforma gratuita, para que os leitores tenham mais comodidade e frequência em suas leituras. “Não temos jornalista nem muitos recursos, mas nada foi desculpa para não nos aventurarmos”, expõe Santana. 

Na revista de história de Manguinhos todos os autores são convidados a escrever um press release para divulgação nos blogs da revista e, segundo Roberta Cerqueira, de dez autores, oito retornam dentro do prazo, por entenderem a importância da divulgação. A editora também elenca outras táticas que estão funcionando: publicação de entrevistas com autores, matérias sobre temas relacionados aos artigos, envolvimento do autor na divulgação do paper, ligação de temas cotidianos com artigos de outras edições, além de contar com a colaboração de “pesquisadores referência” nas temáticas dos artigos divulgados, ou em divulgação científica, e que possam compartilhar e recomendar conteúdos. 

A revista informa o público nacional, em português, via blog, Facebook e Twitter, e tem outro blog com conteúdos em inglês e espanhol, com suas respectivas páginas no Facebook e Twitter. Nesse ambiente trilíngue, Cerqueira explica que os públicos possuem características específicas e, consequentemente, pedem conteúdos diferenciados. O leitor internacional interage mais via Twitter, enquanto os brasileiros preferem o Facebook. E o esforço tem recompensas, exemplifica ela, apontando um artigo que tinha 84 acessos, e, após a divulgação, passou a ter 650 visualizações na SciELO. 

Mesmo diante de desafios, principalmente de financiamento, Iamarino destaca que há alternativas, sem que seja preciso criar seus próprios canais, como o contato e o envio de sugestão de temas para os profissionais que já fazem divulgação científica. Outra saída, apresentada pela vice-presidente da ABEC, para as revistas que integram sua base, é a parceria e colaboração com a associação na divulgação de conteúdo. A associação pretende lançar em novembro um portal mais moderno para auxiliar suas revistas nessa nova fase de divulgação, visando ao aumento de visibilidade.