* Este artigo é uma versão condensada do trabalho que será apresentado na 35ª reunião da Anpocs, no GT Ciberpolítica, ciberativismo e cibercultura
Há um conjunto heterogêneo de grupos que
vêm defendendo e postulando os benefícios de melhoramentos
científico-tecnológicos do corpo humano, reunidos sob o chapéu do
transhumanismo. Dentre eles, um em particular chama a atenção por dois motivos:
o espaço que vem conseguindo nos últimos tempos na mídia mundial; e as suas
conexões com as indústrias de tecnologia do Vale do Silício, que gozam, na
atualidade, de poder político, econômico e forte influência intelectual.
Os singularistas, representados
principalmente pelo inventor e futurista estadunidense Ray Kurzweil, parecem
ter tomado de assalto a mídia. Capa das revistas Time, Veja,
Kurzweil é presença constante em talk
shows dos Estados Unidos. Também foi personagem de um documentário, Transcendent
man, sendo ele próprio o homem transcendente. Foi Kurzweil quem levou a
ideia da singularidade aos ouvidos de quem desconhece o termo transhumanismo.
Desde o lançamento do documentário, ele tem viajado por todo os Estados Unidos
em um esforço de promoção. Algumas dessas exibições foram patrocinadas pela
gigante em tecnologia Google, que chegou ter uma sessão
em suas dependências.
A Google, em especial na figura de um dos
seus fundadores, Larry Page, é uma das empresas entusiastas da singularidade e
parceira de Kurzweil e do empreendedor e engenheiro aeroespacial Peter H.
Diamandis na Universidade da Singularidade.
Fundada em 2008 e operando nas instalações da Nasa, no Vale do Silício,
Califórnia, a instituição oferece cursos multidisciplinares de curta duração,
os quais buscam “reunir, educar e inspirar um grupo de líderes que se esforçam
para entender e facilitar o desenvolvimento de tecnologias que avançam
exponencialmente, a fim de resolver grandes desafios da humanidade”. Além da
Nasa e do Google, entre outros financiadores da Universidade da Singularidade
estão empresas do Vale do Silício como a Autodesk e a LinkedIN. Na universidade
e nos encontros singularistas, misturam-se personagens de renomadas instituições
acadêmicas – como a Universidade de Stanford e o Massachussets Institute of
Technology (MIT) –, com capitalistas especializados em investimentos de alto
risco (os venture capitalists) e executivos de alta patente das maiores
empresas de tecnologia da atualidade.
O interesse pelo transhumanismo em sua
vertente singularista vem dessa interconexão que parece produtiva, de um
entroncamento em que se articulam ideias e investimentos e se produz um
determinado futuro. As falas de Kurzweil têm essa característica, misturam
diagnóstico, visão de um futuro que se apresenta como inexorável em direção a
uma transformação do humano com impacto consequente em toda sociedade. Não há
escape da singularidade, ela é vendida como próximo passo evolutivo da
humanidade; porém, ao mesmo tempo, seria preciso preparar-se para ela e, assim,
prepará-la.
Não cabe, neste espaço, nos determos no
exame de todas as características do pensamento singularista, mas apenas
ressaltar como ele carrega, em si, uma determinada visão sobre o que seria o
humano e como esta se liga e se imiscui com uma visão sobre as máquinas em
rede, numa interconexão com a cibernética do matemático Norbert Wiener.
As
definições de singularidade
Originariamente, singularidade é um termo
utilizado pela matemática e pela cosmologia. Em 1993, o escritor de ficção
científica e matemático Vernor Vinge, no texto
intitulado “The coming technological singularity: how to survive in the
post-human era”, utilizou o termo em conexão com o transhumanismo pela primeira
vez. Segundo ele, “a aceleração do progresso tecnológico tem sido um fator
central deste século (XX). Argumento ... que estamos à beira de uma mudança
comparável ao surgimento da vida humana na Terra. A causa precisa dessa mudança
é a criação iminente, pela tecnologia, de entidades que expandirão a
inteligência humana”.
O texto já ecoava outras utopias
científicas da época e foi bastante discutido principalmente por cientistas da
computação, matemáticos, físicos e amantes de certas variedades da ficção
científica. Em 2000, o pesquisador em inteligência artificial Eliezer Yudkowsky
escreveu The
singularitan principles, em que define singularistas como aqueles
que acreditam que a criação tecnológica de uma inteligência maior que a humana
é desejável e que trabalham para esse fim: “O singularista é um advogado,
agente, defensor e amigo do futuro conhecido como singularidade”, afirma.
Kurzweil adotou o termo singularidade mais
recentemente. The singularity is near: when humans transcend biology foi
publicado em 2005 e, desde lá, ele se tornou uma figura a ganhar centralidade.
O livro é uma revisão de duas obras anteriores, de 1990 e 1999 – na verdade, as
três obras parecem ser como versões atualizadas de um mesmo programa, como um
software que tem suas falhas identificadas, corrigidas e que ganha novas
funcionalidades. Quero trazer aqui alguns elementos que não estão somente em
seu último livro, mas são repetidos com insistência em entrevistas à imprensa.
A lei de retornos acelerados
A perspectiva de uma aceleração no
progresso tecnológico, que seria inexorável, deriva, em grande parte, de uma
extrapolação da conhecida Lei de Moore. O nome desta foi dado por ter sido o
co-fundador da Intel, Gordon Moore, quem descreveu a duplicação, a cada ano, do
número de componentes de um circuito integrado, ou seja, havendo um crescimento
exponencial na capacidade computacional disponível. Kurzweil, porém, afirma ser
essa tendência não somente algo relativo à computação, mas a toda inteligência
existente na Terra. Outros futuristas, como Hans Moravec e Vernon Vinge já
haviam feito comentários semelhantes sobre esse progresso exponencial. Mas
Kurzweil diz fazer suas afirmações a partir de dados empíricos por ele
coletados e checados, que mostrariam que a exponencialidade seria
característica de todos os sistemas evolutivos (o que inclui tanto seres
biológicos como a tecnologia e o conhecimento). Ao encontrar uma barreira – por
exemplo, o esgotamento das possibilidades de inovação de uma determinada
tecnologia –, haveria uma mudança de paradigma, com a adoção de uma outra
solução equivalente, mas já em outro patamar.
Evolução, progresso
A lei dos retornos acelerados deixa claro o
cenário para as transformações tecnológicas. A perspectiva é a da evolução,
inexorável e positiva, fazendo parte da história tanto de sistemas
tecnológicos, como das sociedades humanas. A velocidade crescente é um valor,
não importando o quão frenética seja. Há um direcionamento na evolução, num
sentido de melhoria quantitativa: mais capacidade de armazenamento de
informação em cada indivíduo; mais anos de vida, talvez infinitos; mais força;
mais velocidade – não só do progresso, mas velocidade mecânica dos seres.
“Tecnologia é a evolução por outros meios”, escreve Kurzweil. A evolução
torna-se um propósito, o sentido da vida. E esta, por ter uma característica
quantitativa (num contexto em que mais quantidade equivale a mais valor), é
capaz de produzir condições ainda mais favoráveis para mais desenvolvimento.
Informação
O que faz com que os seres biológicos e
tecnológicos se equivalham é que ambos são informação. A descrição de Kurzweil
para a evolução humana e do universo é a de componentes progressivamente mais
capazes de conter informação. Dividindo o mundo em eras, a primeira seria a da
química e da física, quando não haveria ainda seres vivos, apenas estruturas
físicas formadas por átomos (sendo o seu arranjo a informação). A era seguinte
seria a biológica e do DNA, capaz de conter ainda mais informação. E assim
progressivamente, surgindo a tecnologia e ampliando-se exponencialmente a
capacidade de armazenamento.
Fusão homem-máquina (nanotecnologia+biotecnologia+inteligência
artificial)
Tanto
homens quanto seus produtos, as máquinas, são tidos como equivalentes, um sendo
lido, de fato, como o sucessor natural do outro. Como dito, a tecnologia seria
a evolução por outros meios e, neste momento e no futuro, seria mais “natural”
por ser mais acelerada do que a evolução baseada no DNA. No horizonte evolutivo
da humanidade, não estariam mudanças tão a longo prazo como as que levaram ao
surgimento da nossa espécie, mas algo mais imediato, acelerado, como a construção
de ciborgues unindo homens e máquinas. A partir daí, dadas as leis de
aceleração, as alterações seriam difíceis de se prever, pois esse novo ser,
muito mais capaz de armazenar informação (portanto, mais inteligente),
conseguiria “engenheirar” seu próprio desenvolvimento, dando origem a uma
versão ainda mais melhorada dessa nova espécie.
Ideologia da Califórnia
Chama a
atenção o grande envolvimento financeiro e intelectual que empreendedores do
Vale do Silício – e seus funcionários, aspirantes a novos milionários – têm
tido com essa vertente do transhumanismo. “Algumas das pessoas mais
inteligentes e prósperas do Vale do Silício abraçaram a singularidade”, pontua
matéria do New York Times1. “A singularidade é sobre pessoas ricas
construindo um bote salva-vidas e pulando fora do barco”, comenta o jornalista
britânico Andrew Orlowski, do portal sobre tecnologia da informação The
Register. E essa é uma das razões pelas quais parece
ser interessante investigar e etnografar as ideias em torno da utopia singularista.
Não só por envolver e encantar – a ponto de obter financiamento – os novos
milionários, mas por estes se localizarem, em suas operações, em uma área
específica, polo atrator de competências similares e inteligências, grande
influenciador cultural e de novos investimentos. Esse conjunto de ideias,
práticas e mobilizações tecnoprodutivas, seria só uma excentricidade não fosse
sua imbricação com um modo de pensar, de ver o mundo com alto poder de
influência desde, pelo menos, a década de 1990, e que Richard Barbrook e Andy
Cameron chamaram de “ideologia da Califórnia”.
“Esta nova fé emergiu de uma bizarra fusão
da boemia cultural de São Francisco com as indústrias de alta tecnologia do
Vale do Silício. Promovida em revistas, livros, programas de televisão, páginas
da rede, grupos de notícias e conferências via internet, a ideologia da
Califórnia, promiscuamente, combina o espírito desgarrado dos hippies e o zelo
empreendedor dos yuppies. Este amálgama de opostos foi atingido através de uma
profunda fé no potencial emancipador das novas tecnologias da informação. Na
utopia digital, todos vão ser ligados e também ricos. Não surpreendentemente,
esta visão otimista do futuro foi entusiasticamente abraçada por nerds de
computador, estudantes desertores, capitalistas inovadores, ativistas sociais,
acadêmicos ligados às últimas tendências, burocratas futuristas e políticos
oportunistas por todos os Estados Unidos”, afirmam (Barbrook e Cameron, 1996).
Barbrook e Cameron seguem descrevendo esse
conjunto de ideias contraditórias que teriam origem nessa mescla incomum entre
a contracultura e seu exato oposto yuppie.
Sua ênfase está mais na apropriação de uma visão neoliberal do funcionamento da
economia, uma crença no poder criador de indivíduos isolados, somada com
profunda aversão a qualquer interferência do Estado, por herdeiros culturais de
uma tradição de costumes liberais. Apontam ainda a confluência de uma
inquietude do trabalho criativo e de ideias de liberdade –, que não se conforma
a regras burocráticas do emprego formal com horários rígidos de trabalho – com
a flexibilização do mercado de trabalho, em que o contrato é por tempo
determinado, as ligações entre empregado e empregador não são fixas, assim como
não o é o tempo de trabalho. Mas, pressionado pelas exigências, esse
trabalhador criativo dedica-se a muito mais horas em seu ofício, ficando com
escasso tempo livre; e, então, precisa fazer do trabalho seu “caminho de
autossatisfação” (Barbrook e Cameron, 1996). Uma intricada combinação entre uma
nova estrutura do mercado de trabalho e a adoção de ideias que ligam prazer,
diversão e dedicação obstinada ao trabalho, que é também uma construção de si
mesmo como ativo de valor para as empresas (Evangelista, 2010).
Já Matteo Pasquinelli (2008), coloca a
ideologia da Califórnia dentro do que chama de digitalismo, que seria “um tipo
de gnose moderna, igualitária e barata, em que a religião do conhecimento é
substituída pelo culto iluminista da rede digital e seus códigos”. Segundo ele,
o tecnoparadigma do digitalismo posicionaria o campo semiótico e biológico em
paralelo, e sua utopia seria uma digitalização universal “Google-like”, em que
o material e imaterial seriam intercambiáveis (Pasquinelli, 2008; 72). Vale
apontar aqui a crença dos singularistas em uma possível virtualização total da
vida, em que cada indivíduo assumiria, à sua escolha, a identidade que quisesse
(Kurzweil já fez apresentações com realidade virtual
em que assume a identidade de uma jovem roqueira de nome Ramona).
Nesse sentido, a análise que Breton (1995)
faz dos escritos de Norbert Wiener, conhecido como fundador da cibernética, nos
ajuda a inter-relacionar as visões sobre o humano da ideologia da Califórnia e
do singularismo. Segundo Breton, o projeto utópico de Wiener se articula em
torno da comunicação e desenvolve-se em três níveis: uma sociedade ideal, uma
outra definição antropológica do homem e uma promoção da comunicação como
valor. Os três níveis se concentram em torno do homem novo, que Breton chama de
Homo communicans. “O Homo communicanschip,atingindo, assim, a imortalidade. é um ser sem interior e sem
corpo, que vive em uma sociedade sem segredo; um ser totalmente voltado para o
social, que só existe através da troca e da informação, em uma sociedade
tornada transparente graças às novas 'máquinas de comunicação'.” (Breton,
1995). O corpo humano da singularidade pode ser tornado máquina, pois não está
nele o humano. Este está na informação, na memória que singularistas como Hans
Moravec (Haraway, 2009) querem passar para um chip,atingindo,
assim, a imortalidade.
Da
contracultura à cibercultura
Fred Turner (2006) analisa uma das
publicações pioneiras e mais influentes da Califórnia, o Whole earth catalog.
Editada em forma de catálogo, tinha uma estrutura que, mais tarde, Steve Jobs,
da Apple, iria comparar a um mecanismo de busca offline. Um de seus
editores era Kevin Kelly, que depois seria cofundador da Wired,
reputadamente a revista símbolo do Vale do Silício. Mas Turner não se detém a
um escrutínio da publicação; ao contrário, refaz toda uma trajetória histórica
que busca entender que tipo de confluências políticas, culturais e de atores
levaram do movimento da contracultura à cibercultura.
Um dos pontos de apoio seria uma recusa
comum a um mundo da Guerra Fria associado à burocracia. Esta era ligada ao
militarismo, ao mundo corporativo tradicional ou mesmo acadêmico, como espelhos
que se refletem, em que as pessoas eram ensinadas a “desempenhar um papel
específico em uma estrutura organizacional” (Turner, 2006: 12). Esse treinamento
domaria a natureza complexa e criativa dos indivíduos, transformando-os na
chatice unidimensional de um cartão de um computador IBM. Por sua vez,
desumanizados, dessensibilizados, os indivíduos formariam as peças autômatas da
máquina de guerra que jogou a bomba em Hiroshima e levava a cabo a Guerra do
Vietnã.
Esse imaginário, porém, é repleto de
contradições. Ver o mundo como um sistema de troca e feedback entre
humanos, a sociedade a partir da metáfora de um sistema computacional
interligado, ecoa, como dito, a cibernética de que Norbert Wiener é um dos
principais contribuidores. Este foi um dos pensadores importantes no
desenvolvimento dos sistemas de defesa da Guerra Fria, na construção de
equipamentos de mira automática para alvos móveis. Foi também integrante das
Macy Conferences, eventos interdisciplinares que, embora fossem promovidos por
uma instituição filantrópica dedicada a problemas médicos, reuniram
intelectuais envolvidos no esforço da Segunda Guerra, como Margaret Mead e John
von Neumann. Segundo Streeter (2003), o acesso de figuras como Kevin Kelly e
Stewart Brand, os editores do Whole earth catalog, à cibernética de
Wiener veio por intermédio da antropologia de Gregory Bateson, também
participante das Macy Conferences. Nos anos 1970, Brand elevou Bateson ao status de guru.
Entretanto, entre os computadores mainframe da IBM – rejeitados pela
contracultura como símbolo de hierarquia e burocracia – e a rede de pontos
independentes da glorificada internet, há uma passagem importante. No mundo
IBM, haveria o planejamento no sentido top down; na internet, haveria nós de um sistema que seria como o da
natureza e tenderia ao equilíbrio. Turner (2006) cita como Kelly explica o
universo como um computador, o pensamento como um tipo de computação, o DNA
como software e a evolução como um processo algorítmico. O fundador da
Eletronic Frontier Fountation, John Perry Barlow, escreve que, na rede, os
corpos sem identidade e sem coerção física, terão uma governança que emergirá
“da ética, auto-interesse iluminado e do bem da comunidade”. Barbrook (1996)
afirma que Kelly, em seu livro Out of control, repete o darwinismo
social.
A pista para entender como o esquerdismo
hippie dos anos 1960 desemboca em uma visão de mundo muito mais sem compaixão
como a do darwinismo social está na diferenciação que Turner faz entre a “nova
esquerda” e o que ele chama de “novo comunalismo”, ambos formados durante o
mesmo período, por uma geração herdeira da fase mais dura da Guerra Fria, que
compartilha a aversão ao autoritarismo e, principalmente, à guerra. A “nova
esquerda” teria nascido ao sul profundo dos Estados Unidos, abraçado o
ativismo, participado da luta política e estaria ligada ao movimento pela
liberdade de expressão. Já os “novos comunalistas” teriam surgidos de
movimentos de construção de comunidades alternativas, marcadas pela poesia e
ficção beat, zen-budismo e, a partir dos anos 1960, experimentação com
drogas psicodélicas. As mais notórias comunidades da época foram fundadas no
norte da Califórnia, Colorado, Novo México e Tenesee, em áreas rurais, mas
também em comunidades urbanas. Os “novos comunalistas”, “mesmo quando se
estabeleceram em zonas rurais, quando retornaram pra casa, frequentemente,
adotaram práticas colaborativas, a celebração da tecnologia e a retórica
cibernética da pesquisa academico-militar-industrial do mainstream”
(Turner, 2006: 33). Os dois grupos foram confundidos sob o mesmo nome
contracultura, porém, enquanto para a “nova esquerda” a “verdadeira comunidade
e o fim da alienação eram geralmente pensados como resultado da atividade
política”, para o “novo comunalismo”, a política era, na melhor das hipóteses,
um ponto supérfluo e, na pior, parte do problema (Turner, 2006: 35-36).
Utopias tecnológicas
As trajetórias e conexões que se pode
observar a partir do transhumanismo, permitem entender como utopias
tecnológicas como a da singularidade se inter-relacionam com outros conjuntos
de ideias sobre o digital, a rede e a internet. A singularidade, como uma das
facetas do transhumanismo, empresta metáforas sobre o universo e a humanidade
que os postulam como aproximados das máquinas em rede, em relações de troca de
informações e de estabilidade. Ao mesmo tempo, as máquinas em rede são
aproximadas de um certo imaginário sobre o biológico, seja em sua estrutura
como sistema que tenderia à estabilidade, seja em seu direcionamento evolutivo.
Máquinas em rede que formam sistemas tendendo à estabilidade, seres biológicos
em competição evolutiva num cenário econômico de livre mercado naturalizado.
Igualadas aos sistemas biológicos, as máquinas surgem como nova fronteira, novo
feature evolutivo da humanidade.
O conjunto de pessoas e instituições como
as aqui elencadas formam a elite do capitalismo tecnológico, pois são eles que
têm melhores condições de mobilizarem o trabalho em direção à construção das
tecnologias da singularidade – notadamente, a inteligência artificial, a
nanotecnologia e a biotecnologia – e de construírem consensos em torno de que
direção está apontando o futuro.
Rafael
Evangelista é doutor em antropologia social pela Unicamp e mestre em linguística
pela mesma universidade. É pesquisador do Labjor/Unicamp e professor no curso
de mestrado em divulgação científica e cultural da Unicamp.
Referências
bibliográficas
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em: http://www.alamut.com/subj/ideologies/pessimism/califIdeo_I.html.
Acesso em 20/08/2011.
Barbrook, Richard. “The Pinocchio theory”. Em
Science as culture, volume 5, número 3, 1996.
Breton, Phillipe. “Norbert Wiener e a
emergência de uma nova utopia”, 1995. Disponível em http://members.fortunecity.com/cibercultura/vol1/breton.html.
Acesso em 20/08/2011
Evangelista, Rafael de Almeida. “Traidores do movimento: política, cultura,
ideologia e trabalho no software livre”. Tese de doutorado.
IFCH/Unicamp, 2010.
Haraway, Donna. “Se nós nunca fomos
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Pasquinelli, Matteo. Animal spirits: a bestiary of
the commons. Rotterdam: NAi
Publishers / Institute of Network Cultures, dezembro de 2008.
Streeter, Thomas. “‘That deep romantic chasm’: libertarianism,
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Terranova, Tiziana. “Posthuman unbounded: artificial
evolution and high-tech subcultures”. Em G. Robertson, M. Mash, et al., FutureNatural: nature,
science, culture. Routledge; 1 edition (April 26, 1996).
Turner, Fred. From counterculture to cyberculture.
Stwart Brand, the whole earth catalog and the rise of the digital utopianism.
The
University of Chicago Press, 2006 1 Vance, Ashlee. “Merely human? That's so yesterday”. The New York Times, 12 de janeiro de 2011
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