Neste número da revista, ao voltarmos ao tema da Empírika, de que já
havíamos tratado em 2010 (ComCiência nº 124), mantivemos a resenha e
duas reportagens dessa edição anterior.
A inserção cada vez maior das ciências e tecnologias (C&T) nos mais diferentes espaços-tempos da vida caracteriza a chamada cultura científica, que se expressa nos modos como os conhecimentos científicos, as grandes descobertas, as invenções tecnológicas influem e ressoam nas formas como nos relacionamos com o mundo na contemporaneidade. Essa atmosfera criada pelas relações entre ciência, tecnologia e sociedade modula e apresenta densidades variáveis e um dinamismo que possibilitam a abertura de brechas para novas formas de pensar, inclusive, as próprias ciências, as culturas, o mundo.
Nesse sentido, a celebração da primeira edição da Feira Ibero-americana de Ciência, Tecnologia e Inovação - Empírika, em Salamanca (Espanha), em novembro de 2010, marcou o lançamento de uma iniciativa com objetivos de se tornar um fórum bienal para o intercâmbio de conhecimentos e experiências sobre C&T entre os países que compõem a Ibero-América. Idealizada e criada pelo Centro de Estudos da Ciência, Cultura Científica e Inovação (Fundação 3CIN), da Espanha, a Empírika 2010 contou com a participação de 32 instituições científicas provenientes de seis países da Ibero-América, e com a visita de mais de 33 mil pessoas, além das mais de 52 mil visitas em seu site durante os dez dias de realização do evento. Os 14 acordos de cooperação estabelecidos na ocasião também garantiram a continuidade do projeto que, através do envolvimento da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), por meio do Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor), acontecerá neste mês de outubro em território brasileiro. O Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia (Conacyt) do México já manifestou interesse na coordenação da futura edição de 2014 e, em 2018, a Empírika retorna para a Espanha, em comemoração aos 800 anos da Universidade de Salamanca.
Para propiciar aos visitantes o contato e a vivência dos assuntos relacionados à C&T, a Empírika 2012 acontecerá na forma de espaços expositivos, ou seja, de feiras, nas cidades de São Paulo e Vinhedo; virtualmente, através da Pólis Empírika – uma cidade virtual do conhecimento, cujos espaços serão multiplicados em diferentes regiões do estado, do país e da Ibero-América; e de um evento científico, com conferências, mesas redondas e seminários realizados na Unicamp.
O slogan da Empírika é: “Porque a ciência está em toda parte”. E por isso o conjunto de atividades que será oferecido pela Empírika 2012 foi pensado para romper fronteiras espaciais e atrair um grande número de pessoas, entre estudantes, professores, famílias e empresas de setores tecnológicos. A Empírika 2012 pretende, dessa forma:
- Ampliar as possibilidades de participação pública na C&T e democratização do conhecimento;
- Destacar o papel das universidades, centros de pesquisa e empresas na construção e disseminação do conhecimento e incentivar o contato entre estas instituições e a sociedade;
- Reunir diferentes realidades e culturas dos países participantes e promover o intercâmbio de experiências na produção e difusão de C&T.
Nos ambientes das feiras, o evento pretende explorar a capacidade da divulgação científica de produzir e colocar em circulação conhecimentos, sentidos, afetos e sensações relacionados à C&I mergulhados no tecido da cultura. Assim permitirá abordar os mais diversos temas relativos às ciências e tecnologias de forma integrada; proporcionará uma abordagem interdisciplinar desses temas, ou seja, privilegiando as conexões múltiplas entre diferentes linguagens e formas de conhecimento entre as diversas áreas das ciências (humanas, exatas, naturais), as artes e a filosofia; e criará, sobretudo, um espaço para um diálogo plural entre cientistas, artistas, filósofos e público. Estarão presentes estandes, materiais expositivos e atividades de instituições e centros de pesquisa, bem como de empresas tecnológicas de toda a Ibero-América. Em São Paulo, a feira acontecerá de 23 a 25 de outubro, na Expo Barra Funda, em conjunto com a Feira Tecnológica do Centro Paula Souza (Feteps). Nos dias 26 a 28 de outubro, a feira acontecerá em Vinhedo.
O evento científico da Empírika 2012 acontecerá nos dias 26 e 27 de outubro, na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O II Seminário Internacional Empírika – Comunicação, Divulgação e Percepção de Ciência e Tecnologia foi pensado a partir das quatro linhas de pesquisa do Programa de Pós-Graduação Interdisciplinar em Divulgação Científica e Cultural do Labjor e IEL-Unicamp: 1. Cultura científica; 2. Literatura, artes e comunicação; 3. Informação, comunicação, tecnologia e sociedade; 4. Percepção pública da ciência e tecnologia. As conferências, mesas redondas e minicursos, bem como os trabalhos inscritos seguirão as linhas temáticas propostas.
A grande novidade, que será lançada na Empírika 2012 e deverá permanecer ativa até, pelo menos, 2018, é a Pólis Empírika - uma “cidade virtual do conhecimento”. Será uma cidade utópica, virtual, formada pela reprodução de partes de cidades reais, bem como por outras fictícias, disponível aos visitantes do mundo todo na plataforma web do projeto. Os visitantes poderão percorrer os diversos ambientes e dimensões da cidade, e participar de atividades propostas em alguns desses espaços. A proposta da Pólis Empírika é se tornar perene durante todo o desenvolvimento do projeto, dando continuidade e visibilidade internacional às atividades desenvolvidas em cada edição. Partes e atividades das feiras realizadas no âmbito da Empírika 2012, em São Paulo e Vinhedo, estarão inseridas na cidade virtual, de tal forma que os visitantes de outras cidades, estados e países poderão visitá-las. E, ao mesmo tempo, a Pólis Empírika estará presente no evento, permeando e se misturando com as atividades e exposições.
Croqui inicial da Pólis Empírika, em construção.
O Labjor/Unicamp, na qualidade de organizador e promotor da Empírika 2012, possui parceiros e é assistido por diversas instituições na realização do evento no Brasil: a Fundação 3CIN, no desenvolvimento, elaboração e implementação da plataforma web Empírika.org; a Fundação Espanhola para a Ciência e Tecnologia (Fecyt), como promotora da Agenda Cidadã Ibero-americana de Ciência e Inovação; o Centro Internacional de Tecnologias Avançadas da Fundação Germain Sanchez Ruipérez, fornecedor de grande parte da infraestrutura, equipamentos e recursos humanos para a plataforma web; a empresa Artculando, que atua como ponte com diferentes atores dos setores educacional e cultural que contribuam para a inclusão sociocultural no evento; e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), que oferece suporte no desenvolvimento e promoção do evento.
Além das instituições acima mencionadas, outras parcerias são essenciais para a realização dos eventos e atividades que farão parte da Empírika 2012. O Centro Paula Souza é um parceiro de peso do projeto, abrigando a feira da Empírika a ser realizada na cidade de São Paulo juntamente com a sua Feira Tecnológica (Feteps). A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo aderiu inteiramente ao projeto e se tornou parceira e apoiadora. O Banco Nacional de Desenvolvimento (BNDES) é outro grande patrocinador da Empírika 2012. A Prefeitura de Vinhedo é uma forte parceira do projeto, fornecendo os subsídios necessários para a realização da feira na cidade também. A Estação Ciência da USP é outra colaboradora importante, trazendo para as feiras um vasto acervo de conteúdos de qualidade. A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) também já manifestaram o seu apoio à Empírika 2012. Por último, e não menos importante, o Ministério de Relações Exteriores também tem dado apoio institucional ao projeto.
Como tive oportunidade de frizar anteriormente (“De feiras, ciências e futebol”, ComCiência, nº 124, de 10-12-2010), a Feira Empírika traz em si elementos que marcam todo o processo de desenvolvimento da cultura científica e aponta para a certeza de que, do ponto de vista ético, o compromisso da ciência, da tecnologia e da inovação não só se assina com o bem-estar social das populações, mas se firma também com o seu bem-estar cultural, essa espécie de conforto que diz respeito às relações da sociedade com as tecnociências, envolvendo valores e atitudes, hábitos e informações, com o pressuposto de uma participação ativamente crítica da sociedade no conjunto dessas relações.
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