Não há modo de obter avanços na ciência de um país sem que a cultura científica esteja cada vez mais fortalecida e enraizada em sua população. Para isso, é necessária a ação de diversos agentes, cada um cumprindo seu papel.
Por um lado, sabemos ser de extrema importância o trabalho já desenvolvido pelos cientistas, que fazem suas pesquisas contribuindo, em diversas áreas, para a elevação do patamar científico brasileiro.
No entanto, por mais dedicados, competentes e produtivos que possam ser nossos cientistas, é importante que haja um sistema forte que crie algum tipo de relação entre aquilo que eles fazem em seus laboratórios e a sociedade em geral, especialmente os mais jovens. Somente assim pode-se garantir a continuidade e o crescimento desse tipo de atividade. Diversos tipos de instituição devem compor essa cadeia de comunicação, incluindo, por exemplo, as escolas – que ensinam de maneira formal aos seus alunos conceitos importantes da ciência – e a própria imprensa – que noticia fatos e descobertas, ainda que nem sempre da forma mais adequada. O modelo de espiral científica, proposto por Carlos Vogt , resume bem esse conceito.
Nesse cenário, o papel dos centros e museus de ciências é crucial, pois ajuda a tornar mais concretos e lúdicos certos conceitos, mostrando aos jovens inclusive a aplicação da ciência no seu cotidiano.
É muito comum para qualquer pessoa escutar de seus filhos, netos, sobrinhos, alunos ou amigos certos clichês como “matemática é chata”, “física é difícil”, “biologia é complicada” etc. Ora, se qualquer pessoa faz esse tipo de afirmação, certamente está baseada em um desconhecimento do que realmente e efetivamente significam essas disciplinas, que afinal de contas estão por trás de tudo o que nos cerca, e até do nosso próprio corpo e da nossa vida. Os estudantes precisam perceber como a matemática está envolvida nos games que fazem tanto sucesso. Que a física explica muita coisa sobre carros, Fórmula 1 e esportes. Que a biologia nos faz entender mais sobre a nossa saúde, a dos nossos animais e o meio em que vivemos.
Para isso, existem basicamente duas grandes estratégias que vêm sendo adotadas pela Estação Ciência. A primeira delas é apostar em uma reformulação de seu espaço expositivo para, aos poucos, modernizar a forma de apresentação de seus temas. Menos painéis e textos formais – que podem ser substituídos por maior interação com material audiovisual –, e mais experiências sensoriais e interatividade total. Esse tipo de modernização é importante para que se consiga obter o encantamento do visitante e, desta forma, a garantia de sua atenção, com a mente aberta a conhecer temas e disciplinas para as quais, a priori, estaria fechado e desinteressado. O grande desafio é conseguir criar ambientações que justifiquem a ida desses visitantes até o museu, pois com a internet, que hoje já chega à maior parte dos brasileiros, e com a qual os mais jovens possuem total desembaraço, já é possível acessar, de qualquer local, textos, vídeos, imagens, jogos e aplicações interativas. Somente ambientes realmente imersivos, envolventes e com o diferencial de uma atuação competente e agradável de monitores contagiantes – ou seja, uma ação educativa moderna, proativa e informal – pode fazer a diferença e concorrer com as facilidades do mundo virtual. Esse é um trabalho que requer tempo e muitos recursos financeiros e humanos especializados e motivados permanentemente, pois é uma tarefa que não termina nunca.
A segunda estratégia, que passou a ser adotada mais recentemente pela Estação Ciência, é aprofundar e evidenciar melhor a relação das ciências com as profissões. Além de estimular o interesse e a descoberta de vocações para o encaminhamento dos jovens em carreiras da ciência, trata-se de uma eficiente forma de tornar concretos conceitos que muitas vezes são vistos ou aprendidos de forma superficial ou teórica. Assim, um visitante pode se encantar em uma exposição sobre determinado tema como, por exemplo, o coração, e ao final descobrir que talvez ele teria interesse em tornar-se, no futuro, um médico, um biólogo, um nutricionista ou um farmacêutico. Abre-se, assim, um leque de possibilidades que amplia a visão do jovem sobre o que de fato um cientista faz, quebrando estereótipos que costumam fazer com que o cientista seja visto como uma figura que passa o dia de jaleco branco dentro de um laboratório olhando em microscópios – mas nunca se sabe direito o que ele estaria olhando, de que forma e para quê.
É como se, de certa forma, a Estação Ciência passasse a ser uma vitrine da USP (Universidade de São Paulo), mostrando para a sociedade suas carreiras e suas pesquisas. Nada mais lógico para uma universidade que cresce, cada vez mais, firmando-se em diversos rankings e estudos como exemplo de qualidade e produtividade. Se uma u niversidade como esta mantém um centro de ciências para o público em geral, é de se esperar que neste local a população possa ter o contato direto com a produção desenvolvida dentro de seus espaços e laboratórios. Com isso, gera-se uma comunicação direta e uma interação entre a sociedade e os cientistas, na qual todos só têm a ganhar. Para chegar a este conceito o centro de ciências não pode atuar sozinho, sendo importante criar uma aproximação com os cientistas e professores da universidade, através de estratégias que os estimulem a participar não só da curadoria de exposições, mas também realizando palestras, oficinas e outras atividades que os tragam para junto do público não acadêmico.
A Estação Ciência é um centro de ciências pioneiro no Brasil, servindo constantemente como modelo para outras e mais recentes iniciativas, com as quais procura sempre colaborar. Afinal, para quem tem como objetivo popularizar a ciência, nada mais natural do que estimular a ampliação do alcance desse tipo de instituição. Porém, é importante ressaltar que pioneirismo não pode ser sinônimo de acomodação ou paralização no tempo. O público que visitava a Estação Ciência em sua inauguração, em 1987, hoje começa a trazer seus filhos. A sociedade foi se transformando, com uma ampliação brutal na quantidade de profissões, tecnologias e descobertas científicas. Tudo isso precisa ser mostrado de forma a atingir os corações e mentes dos brasileiros do presente e do futuro. Se antes o desafio do museu era concorrer com a televisão, hoje também existem os computadores, celulares, tablets, videogames e afins que, diga-se de passagem, não precisam ser concorrentes: podem ser até aliados, desde que sejam incorporados ao trabalho da divulgação científica. Eis aí um dos principais desafios dos profissionais da difusão da ciência para os próximos anos.
A Estação Ciência, em especial, procura acompanhar essa transformação ao entender seu papel de criar um verdadeiro espaço de interação entre população e cientistas, entre universidade e sociedade entre teoria e prática.
Michel Sitnik é analista de comunicação da Universidade de São Paulo (USP) e faz parte da Seção de Comunicação e Eventos da Estação Ciência
Patrícia Mourad é técnica em comunicação da Seção de Comunicação e Eventos da Estação Ciência
José Antonio Visintin é diretor da Estação Ciência
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