Com
o objetivo de melhorar o processo de ensino e aprendizagem de
ciências, o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia
do Amazonas (Ifam), campus Tabatinga, localizado no interior
da Amazônia brasileira, na fronteira com a Colômbia e o Peru, tem
incluído as principais olimpíadas científicas nacionais em seu
calendário acadêmico. Desde 2012, estudantes do ensino técnico e
integrado ao ensino médio, têm participado das etapas regionais e
nacionais das olimpíadas científicas de química, matemática,
língua portuguesa, física, computação, biologia e agropecuária.
O
Ifam campus Tabatinga ainda não revelou um medalhista em
olimpíadas de ciências. No entanto, essas participações têm sido
utilizadas para realizar avaliações mais amplas das disciplinas,
como de biologia e ciências naturais, oportunizando comparações
com outras regiões e diferentes realidades socioeducativas no país,
tentando, assim, ampliar localmente as discussões sobre as
estratégias de ensino e aprendizagem (Waldez et al., 2014).
De fato, os resultados obtidos nas olimpíadas de ciências, em
alguns casos, têm sido corroborados pelas observações feitas em
sala de aula. Por exemplo, os resultados obtidos na Olimpíada
Brasileira de Biologia (OBB) pelo Ifam campus Tabatinga
apontaram uma maior dificuldade dos estudantes nos anos iniciais do
ensino médio em interpretar conteúdos relacionados com os temas de
genética, bioquímica e biologia celular (por exemplo, processos de
divisão celular) (Waldez et al., 2014). Relacionamos os
resultados desse diagnóstico com a falta de acesso dos estudantes às
práticas de estudo de células, em função do elevado custo para
adquirir os instrumentos necessários (por exemplo, microscópios,
lâminas preparadas) e as dificuldades em lidar com problemas de
cálculos de probabilidade presentes no conteúdo de genética
(Lopes; Rosso, 2013).
No
Ifam, assim como em outras escolas públicas, as inscrições dos
alunos nas olimpíadas de ciências são feitas automaticamente pelos
professores e esses utilizam um sistema de bonificação de pontos
para motivar a participação dos discentes. Entretanto, o desempenho
dos estudantes na resolução das provas tem sido relativamente
baixo. Em geral, menor que 50%. O insucesso dos estudantes foi
justificado pelo elevado grau de dificuldade na resolução das
questões abordadas nas olimpíadas de ciências. Diferente do Exame
Nacional do Ensino Médio (Enem) que traz, em maior número, questões
contextualizadas com o cotidiano dos alunos, na Olimpíada Brasileira
de Matemática das Escolas Públicas (OBMEP), por exemplo, muitas das
questões tinham foco em demonstrações de matemática pura.
O
modelo adotado pelas principais olimpíadas de ciências realizadas
no Brasil estimula a competição. Rezende e Ostermann (2012)
discutem que a disseminação do espírito competitivo demonstra
diferenças socioculturais dos alunos e das escolas que participam
das olimpíadas de ciências e as desigualdades sociais pesam muito
nas desigualdades escolares. No entanto, Marques (2013) destaca que a
participação em olimpíadas de ciências durante o ensino de nível
médio pode proporcionar aos estudantes maior autonomia com relação
à aprendizagem de ciências. Através da motivação ao
autodidatismo e à participação em projetos de pesquisa, os
estudantes têm acesso a conhecimentos avançados que só seriam
explorados no ensino superior.
Essa
atitude proativa na aquisição do conhecimento contribui para
desenvolver um pensamento científico crítico. Dentre as estratégias
praticadas para aumento de significância do processo pedagógico de
ensino e aprendizagem de ciências, destacamos a “alfabetização
científica”, que busca desenvolver a capacidade de usar o
conhecimento científico para identificar questões e chegar a
conclusões baseadas em provas, de forma interligada com a formação
cidadã voltada para ação e atuação em sociedade (Sasseron;
Carvalho, 2011).
No
ensino de ciências em cursos técnicos destaca-se ainda a
importância do método científico e das tecnologias nas mais
diversas profissões e a relação positiva verificada entre o
desenvolvimento científico e os índices de produtividade econômica
dos países e, também, os índices de bem-estar material e social
(Guimarães, 2011). Dessa maneira, procura-se utilizar as olimpíadas
de ciências como uma ferramenta para desenvolver, nos alunos do
ensino técnico, competências voltadas para uma formação que
contemple o ensino, a pesquisa e a extensão, em consonância com os
objetivos dos institutos federais.
Fabiano
Waldez
(fw.ifam@gmail.com),
Manuel Ricardo dos Santos Rabelo
(manuel.ricardo@ifam.edu.br)
e Ronaldo Cardoso da Silva
(ronaldo.cardoso@ifam.edu.br)
são professores do Instituto Federal de
Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas (Ifam) campus Tabatinga
Referências
bibliográficas
Lopes,
S.; Rosso, S. Bio - volume único. 3. ed. São Paulo: Saraiva,
2013.
Guimarães,
S. K. “Produção do conhecimento científico e inovação:
desafios do novo padrão de desenvolvimento”. Cad. CRH online.
2011, vol.24, n.63, pp. 461-465.
Marques,
F. “Eles gostam de ciência e desafios”. In: Pesquisa Fapesp
n. 205. Março, 2013 (pp. 33-37).
Rezende,
F.; Ostermann, F. “Olimpíadas de ciências: uma prática em
questão”. Ciência & Educação. 2012, vol.18, n.1, pp.
245-256.
Sasseron,
L. H.; Carvalho, A. M. P. 2011. “Alfabetização científica: uma
revisão bibliográfica”. Investigação em Ensino de Ciências,
16(1), pp. 59-77.
Waldez,
F.; Silva, R. C.; Duarte, E. C.; Moraes, R. P.; Rabelo, M. R. S.;
Gonçalves, N. F.; Baima, A. P. S.; Rocha, J. M.; Bernhard, G. G. R.;
Alves, J. C. “Olimpíada de ciências biológicas como ferramenta
para o ensino de biologia no alto Solimões, Amazônia brasileira”.
Areté (Manaus), 2014, v. 7, pp.127-135.
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