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Para médico obstetra, profissional tem direito de recusar cesárea a pedido
Por Cristiane Kampf
08/07/2015
O obstetra Jorge Khun, um dos maiores nomes do movimento pela humanização do parto no Brasil, participou da segunda edição do Simpósio Internacional de Assistência ao Parto (Siaparto), realizado entre 1 e 6 de junho, em São Paulo. O evento atraiu mais de 1.500 pessoas, entre profissionais da assistência obstétrica (médicos, educadores perinatais, psicólogos, enfermeiros, doulas etc) e interessados no tema.

O professor Khun, da Universidade Federal de São Paulo, ministrou a palestra "Estratégias para manutenção das taxas de cesariana entre 10 e 15%". Para ele, que foi ameaçado em 2012 pelo Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro por defender a possibilidade de escolha do parto domiciliar para gravidez de baixo risco, fazer uma operação cesariana apenas a pedido da mulher, ou seja, sem indicação obstétrica real, pode ser considerado uma violência, já que colocaria a vida da mãe e do bebê em risco.

"Alguém pode me perguntar se a mulher não tem o direito de fazer uma operação cesariana. Ela tem, mas eu também tenho o direito de recusar se sinto que vai contra os meus princípios. Afinal de contas, quem faz o parto é a mulher, mas quem faz a cesárea é o médico. Se houver complicação, ela pode se voltar contra mim. A responsabilidade pela cesárea é do médico, por isso não faço cesarianas a pedido", afirmou o obstetra durante sua palestra.

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O obstetra Jorge Khun ministra palestra no Simpósio Internacional de Assistência ao Parto (Siaparto)

O Brasil enfrenta hoje o que é considerada uma epidemia de cesarianas, já que, conforme a recente pesquisa Nascer no Brasil, feita pela Fiocruz, mais de 53% do total de nascimentos é por via cirúrgica. Em alguns estados, como Rio de Janeiro, o índice chega a mais de 90% na saúde suplementar. Ou seja, as mulheres brasileiras encontram dificuldades para conseguir um médico que as acompanhe no parto normal, natural ou domiciliar.

Por esta razão, para Melania Amorim, outro importante nome do movimento pela humanização do parto e do nascimento no Brasil, e que também participou do simpósio, a polêmica da cesariana a pedido é falsa. Como afirma a obstetra em seu blog, Estuda, Melania, estuda, "é óbvio que as mulheres que realmente querem uma cesárea no Brasil estão tendo o seu direito respeitado. E sim, eu entendo que é um direito, desde que a mulher esteja devidamente informada, consciente e esclarecida, e faça essa escolha depois de saber todos os efeitos e as consequências. Afinal, a mulher é senhora do seu corpo e do direito de escolha".

O evento contou ainda com palestrantes da Alemanha, Estados Unidos, Inglaterra e México. "Neste ano tivemos um grande aumento no número de participantes, e para 2016 a expectativa é ainda maior. Isso confirma que muitas pessoas estão preocupadas com a discussão sobre a humanização no parto. Nossa meta é levar este conhecimento a um número maior de pessoas, para que o direito ao parto digno e seguro seja acessível a todas as mulheres", afirmou Ana Cristina Duarte, obstetriz e organizadora do simpósio.