Lá longe, longe, muito mais longe do que o longe que longe quer dizer, numa distância mais dura que a pedra dura do pensamento durante a longidão da pedra, que dura, resiste, como a luz, na velocidade, a ser menos que a luz movente, matéria e energia, luz distante, pedra longínqua, luz de pedra, pedra de luz.
Lá, pois, longiluz, pedraluzente, quando a estrela solar, o Sol que aquece e a vida renova em nosso planeta, daqui a bilhões, bilhões, bilhões, bilhões e bilhões de anos, estiver chegando, envelhecida, enfim, ao final de si própria para transformar-se, cumprindo seu destino cósmico, numa anã branca, lá nesse ponto de fuga, nessa dobradura do espaço-tempo, de nada valerá a memória de nossas perdas e das quedas sucessivas do homem em busca da afirmação, pelo conhecimento, de sua própria humanidade.
Ninguém já saberá de erros, de culpas, de arrependimentos e os mitos de criação, cumprindo seus presságios, terão percorrido, na série infinita de gerações, a saga de suas narrativas que os homens contam, sendo contados, como a chuva molha e aquece e o solo seca e o Sol esfria.
Quem mandou Galileu também chamar-se Galilei e repetir-se, assim, quase fechado, no nome arredondado, como a observação que lhe confirmou a suspeita de que o repouso era movimento e de que a Terra, como outros corpos semelhantes, andava em círculos, circulando o Sol, pelos espaços?
Como não ouvir estrelas se elas, mensageiras do universo, estiveram, sempre, desde que eles se deram conta, falando com os homens, traçando-lhes caminhos, indicando-lhes rotas, desenhando-lhes futuros, revelando-lhes passados, silentes como a eloquência do silêncio nas pausas da peroração?
Deu no que deu!
Nicolau Copérnico, Giordano Bruno, Hans Lippershey, René Descartes, Isaac Newton, Albert Einstein, John Wheeler, todos, outros mais e nós também, olhando juntos, de “perspicillium” para Galileu Galilei.
É o destino – a destinação, melhor talvez fosse dizer –, que permite enxergar, na longa distância cósmica, o futuro dos astros e estrelas que daqui já vemos, ou que não vemos, e admiramos: anã branca, como se tornará o Sol, supernova, buraco negro, buraco negro supermaciço, sem paradoxo de conceito, só o do dizer, com defeito.
Paradoxo mesmo é o da teoria, a da relatividade geral, que, de tanto prever tudo o que cabia e o que não cabia, acabou prevendo o buraco negro, ponto único, alef dos contos siderais, que em si concentra uma densidade infinita e no qual as leis da física não têm validade, nem mesmo as que o previram e explicam sem, contudo, serem de sua existência e funcionamento explicação.
Freud, cuja morte tem 70 anos, ao lado dos 150 da publicação de A origem das espécies, de Darwin, e dos 400 anos das observações telescópicas das estrelas por Galileu, havia anotado que o homem veio, ao longo de sua história e de sua vida mítica, sofrendo quedas traumáticas para a imagem narcísica de sua reputação senhorial. Cai do paraíso, deixa o centro do universo, cai do galho da divindade e segue a escala da evolução, é ejetado do centro da história e, enfim, do abrigo da consciência para as complicações do inconsciente, como tijolos de sua solidão.
Tudo isso também se junta num único ponto como uma estrela que colapsa, como uma singularidade de espaço-tempo, como um buraco negro, como o que já era previsto pelo que sabíamos, como o que sabemos o que tem sido a vida, que expande e resume nosso movimento para dar sentido ao que não compreendemos e velar de mistérios nossa compreensão.
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