No último
dia 31 de março, o Tocantins foi a 25ª unidade da federação a criar uma
fundação dedicada a financiar pesquisas científicas. Lançado em 1960, com a
criação da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), esse
modelo institucional mostrou-se importante impulsionador do desenvolvimento
econômico e científico, bem como uma valiosa ferramenta de gestão estratégica
dos estados. Não por acaso, com exceção de Rondônia e Roraima, todos os estados
brasileiros agora contam com uma fundação estadual de amparo à pesquisa (FAP).
A
despeito de tamanha importância que essas instituições têm para o país, elas
ainda são ilustres desconhecidas para boa parte da população brasileira. Essa
situação tem mudado aos poucos, graças aos investimentos que as FAPs têm feito
na área de comunicação.
Rio Pesquisa, Pesquisa Fapesp,
Minas faz Ciência e Amazonas faz Ciência são revistas produzidas
pelas fundações fluminense, paulista, mineira e amazonense, respectivamente.
Não são periódicos técnico-científicos, são veículos de comunicação voltados ao
público leigo e que divulgam a ciência apoiada pelos agentes financiadores.
Há duas
décadas, não seria fácil prever que as agências financiadoras de ciência
poderiam se tornar também editoras de periódicos de divulgação científica
populares. A pioneira entre as FAPs lançou sua revista às vésperas de completar
40 anos de idade. Evolução de um periódico mais simples, a revista Pesquisa Fapesp teve início em 1999 e
hoje apresenta uma tiragem de quase 37 mil exemplares mensais.
Além de
ser distribuída a bolsistas e pesquisadores apoiados pela fundação paulista, a
revista também possui assinantes e disputa espaço com outras revistas em bancas
por todo o Brasil.
A
equipe da revista ainda mantém um portal na internet e produz o programa de rádio
Pesquisa Brasil, na Eldorado AM de
São Paulo. Só a Pesquisa Fapesp envolve
cerca de 30 colaboradores com dedicação exclusiva, muitos deles vindos de
grandes redações de jornais e revistas.
A
revista paulista inspirou outras FAPs a lançar periódicos semelhantes. Foi o
caso da Minas Faz Ciência, da
fundação mineira, a Fapemig, e da trimestral Rio Pesquisa, da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa
do Estado do Rio de Janeiro, a Faperj.
A
Fapesp ainda mantém uma pequena redação com quatro profissionais que alimentam
uma agência de notícias. Eles são responsáveis por manter um boletim diário, de
segunda a sexta-feira, com matérias relacionadas a pesquisas apoiadas pela
fundação e também alguns tópicos internacionais.
A Agência Fapesp encerrou 2010 com pouco
mais de 88 mil assinantes, entre eles um público multiplicador, o de
jornalistas de vários veículos de comunicação que se baseiam nas matérias da
agência (ou mesmo as reproduzem) para alimentar suas publicações. Os
jornalistas da agência fazem um trabalho que os colegas das grandes redações
não têm tempo de fazer, o de ler os índices de periódicos científicos em busca
de pesquisas de interesse público. Com isso, poupam tempo das grandes redações
que usam as matérias da Agência Fapesp
para pautar suas editorias de ciência.
Como
resultado, das 6.398 reportagens que mencionaram a Fapesp em mais de mil
veículos de imprensa durante o ano de 2010, 53,5% foram reproduções de matérias
da agência. Os outros 46,5% foram pautas espontâneas ou estimuladas pela
assessoria de comunicação da fundação.
Além
disso, 13 reportagens sobre a fundação paulista foram publicadas em 10 veículos
internacionais, entre elas, quatro na Science
e duas na Nature. O que demonstra que
a visibilidade obtida com investimentos em comunicação voltada ao público em
geral alcança também as publicações científicas. Com mais holofotes no
exterior, a pesquisa brasileira encontra mais parceiros estrangeiros em
trabalhos de ciência avançada, o que retroalimenta com alta qualidade o sistema
nacional de pesquisa.
Outro
efeito da comunicação popular das FAPs é promover a interação entre cientistas
de áreas distintas. Ao ler matérias jornalísticas sobre pesquisas de áreas
diferentes da sua, não é incomum que um cientista vislumbre a solução para os
problemas que ele está investigando ou encontre uma nova aplicação para uma de
suas descobertas. Por esse motivo, após ter o seu trabalho divulgado na
imprensa, muitas vezes o pesquisador recebe contatos de colegas de outras áreas
oferecendo colaboração ou parcerias.
É
importante ressaltar que como são especialistas de áreas distintas, eles muitas
vezes não frequentam os mesmos congressos e não lêem os mesmos periódicos. Se
não fosse, portanto, a divulgação popular da ciência, a chance de seus
conhecimentos se cruzarem seria muito menor.
Por
fim, divulgar o andamento e os resultados de pesquisas financiadas com recursos
públicos é uma atividade de prestação de contas ao cidadão, que pode, assim,
perceber os efeitos que os investimentos em ciência promovem na sociedade.
Desnecessário
dizer que todos esses resultados obtidos pela comunicação fortalecem o trabalho
das próprias FAPs, uma vez que facilitam a formação de novas redes, permitem
parcerias internacionais e tornam as fundações de amparo à pesquisa conhecidas pela
população.
Fábio Reynol de Carvalho é jornalista, foi
colaborador da Agência Fapesp e é mestrando em divulgação científica e cultural
pela Unicamp.
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