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Artigo
A doença da pressa
Por Lucia Novaes
10/11/2007

A “doença da pressa” parece acometer cada vez mais indivíduos no mundo atual. Não se sabe exatamente se as exigências da atualidade estão gerando esse padrão comportamental, ou se as pessoas que sofrem da pressa e afobação já nascem com essa tendência. Também existem estudiosos que acreditam que o modo de criação das crianças pode contribuir para o desenvolvimento dessa característica. Mas o que é a “doença da pressa”? Trata-se de um conjunto de ações e emoções que inclui ambição, agressividade, competitividade, impaciência, tensão muscular, estado de alerta, fala rápida e enfática e um ritmo de atividade acelerado. Essas características se constituem em um estilo de vida que inclui muitas demandas, na qual a pessoa está sempre pressionada pelo tempo que se torna curto para a realização de tantas tarefas. Muitas das pessoas acometidas pela “doença da pressa” passam toda a sua vida queixando-se de tanto trabalhar, de como precisam correr para dar conta de todas as suas atividades, reclamam da competitividade no trabalho, das exigências de produtividade, de prazos irreais, enfim, de como sua vida é difícil. No entanto, observa-se que, na maioria, das vezes, são elas próprias que transformam suas vidas nesse corre-corre sem fim. Essas pessoas, portanto, costumam ser vítimas de si mesmas e de um estilo de vida estressante auto-produzido. Normalmente, pessoas com a “doença da pressa” se sentem valorizadas por serem capazes de manter um ritmo cada vez mais rápido e uma intensidade cada vez maior nas atividades em que se engajam. Envolvem-se em lutar para alcançar metas, sendo super conscienciosas e dedicadas ao trabalho. Costumam se esforçar para sempre se superarem nas tarefas, até mesmo no lazer, ocupando todo o seu dia com alguma tarefa e experimentando sentimentos de culpa quando estão paradas.

A pessoa com a “doença da pressa” apresenta, comumente, irritabilidade, hostilidade, raiva e costuma ter interpretações para os eventos da vida que contribuem para a manutenção desse estilo comportamental. Por exemplo, uma pessoa que foi promovida em um emprego pode interpretar esse acontecimento como decorrente de ser rápido na realização das tarefas. Outro pode acreditar que o ritmo mais lento de um colega de trabalho o torna incompetente.

Pesquisas revelam que o estilo de vida estressante da pessoa com a “doença da pressa”, pode contribuir para o desenvolvimento de uma variedade de doenças, dentre estas as mais estudadas são as cardiológicas. Mas, acredita-se que outros tipos de doenças como úlceras, gastrite, doenças dermatológicas, também podem ocorrer. Na verdade, é o somatório das predisposições genéticas da pessoa, comportamentos de risco (como sedentarismo e alimentação inadequada, por exemplo), e estilo de vida estressante que vai determinar as possíveis doenças que podem se desenvolver.

Apesar de o mundo moderno estar exigindo do ser humano cada vez mais conhecimento, aprimoramento e dinamismo, nem todas as pessoas apresentam a “doença da pressa”. Algumas pessoas conseguem manter um ritmo mais lento, serem mais contemplativas e planejarem suas ações, vivendo a vida de modo bastante diferente dos super apressados. No entanto, se a pessoa não acompanhar o ritmo exigido pela sociedade contemporânea, pode ter sérias dificuldades de adaptação, observando-se a necessidade de um misto de comportamentos mais apressados e mais lentos que devem ser acionados dependendo da situação. Esse manejo é fundamental para uma boa qualidade de vida.

Como mudar?

Algumas sugestões podem ser bastante úteis se a pessoa deseja se prevenir ou tratar a “doença da pressa”. Primeiramente, é importante que a pessoa entenda o que a doença e como esse tipo de padrão de comportamento se desenvolvem. A seguir é fundamental que a pessoa tenha consciência de que apresenta esse estilo de viver e decida se quer mudar mesmo, buscando identificar seus objetivos de vida. A partir daí, mostram-se úteis a realização de técnicas de relaxamento diariamente, utilizando fitas ou CDs especializados ou apenas relaxando com uma música ou imaginando uma cena ou local que dê prazer. Outro ponto é procurar reinterpretar os eventos, buscando formas alternativas de pensar sobre as situações, o desempenho e as realizações. Além disso, a pessoa deve parar para pensar se está se estressando com situações imaginárias. Também pode ser útil que comece a prestar atenção no comportamento de pessoas que têm menos pressa buscando perceber suas realizações e sua qualidade de vida. É necessário que a pessoa comece a compreender seus limites, faça novas amizades, converse sobre assuntos não relacionados ao seu trabalho diariamente. Passe a delegar tarefas e invista no seu crescimento pessoal e não só em seu crescimento profissional. Boa sorte!

Lucia Novaes é psicóloga clínica, professora da graduação e da pós-graduação da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisadora do Centro Psicológico de Controle do Stress, doutora pela UERJ na área do stress e hipertensão e vice-presidente da Associação Brasileira de Stress

* Este artigo é baseado no capítulo “Correr, competir, produzir e se estressar” de autoria de Lucia Novaes, no livro “O stress está dentro de você”, organizado por Marilda Lipp, Ed. Contexto – SP, 2003.