As fundações de amparo à pesquisa (FAPs) têm ganhado muita
força nos últimos anos. Não só porque a maioria dos estados brasileiros já tem
a sua própria fundação – apenas Rondônia e Roraima não contam ainda com uma
fundação –, mas também porque essas agências recebem a cada ano mais recursos.
Com isso, têm aumentado o seu campo de ação. Em 2009, o orçamento executado
pelo conjunto das FAPs foi de aproximadamente R$ 1,72 bilhão, e em 2011 o
previsto é que seja de R$1,95 bilhão, de acordo com a estimativa do crescimento
do PIB (Produto Interno Bruto). O valor esperado para a arrecadação das FAPs
neste ano é superior ao que é previsto para o CNPq, de R$1,18 bilhão.
Dentre elas, a Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do
Estado de São Paulo) se destaca, não apenas por ser a primeira agência estadual
de apoio a pesquisa a surgir, em 1962 (Veja tabela abaixo),
mas também por ter seu orçamento vinculado à arrecadação do estado mais rico do
país (tem autonomia para gerir 1% da receita tributária estadual). Em 2009 a
Fapesp executou um total de R$ 726.657 milhões, segundo levantamento realizado
pelo Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa (Confap), que está
organizando uma série de indicadores relativos às fundações que representa.
Além disso, esse repasse tem sido feito regularmente, durante todos os anos, o
que garante a adoção de programas de mais longa duração e também a
diversificação de modalidades de apoio. Ano de criação
das Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa
Fundação
de Amparo à Pesquisa |
Ano
de Criação |
Fundação
de Amparo à Pesquisa |
Ano
de Criação |
Fapesp
(São Paulo) |
1960
|
Fundação
Araucária (Paraná) |
2000
|
Fapergs
(Rio Grande do Sul) |
1964
|
Fapesb
(Bahia) |
2001
|
Fapemig
(Minas Gerais) |
1985
|
Faperj
(Rio de Janeiro) |
2002
|
Funcap
(Ceará) |
1990
|
Fapema
(Maranhão) |
2003
|
Fapeal
(Alagoas) |
1990
|
Fapern
(Rio Grande do Norte) |
2004
|
Fapesq
(Paraíba) |
1992
|
Fapes
(Espírito Santo) |
2004
|
Fapese
(Sergipe) |
1993
|
Fapeg
(Goiás) |
2005
|
Fapepi
(Piauí) |
1993
|
Fapesc
(Santa Catarina) |
2005
|
Fap
DF (Distrito Federal) |
1993
|
Fapespa
(Pará) |
2007
|
Fapemat
(Mato Grosso) |
1994
|
Fapeam
(Amazonas) |
2007
|
Fapepe
(Pernambuco) |
1996
|
Fundação
Tumucumaque (Amapá) |
2010
|
Fundect
(Mato Grosso do Sul) |
1997
|
Fapt
(Tocantins) |
2011
|
Fundape
(Acre) |
1998
|
|
|
Cerca de 30% dos recursos da fundação paulista são
investidos em bolsas, para a formação de pesquisadores; outros 55%,
aproximadamente, são distribuídos no financiamento de projetos de pesquisa
acadêmica, e o restante em projetos de pesquisa aplicada, muitos
desenvolvidos em pequenas empresas ou em parceria entre grupos de pesquisa de
instituições de ensino e pesquisa no estado de São Paulo e pesquisadores ligados
a empresas. A Fapesp foi também a pioneira no lançamento de propostas de
indução de projetos de relevância social e econômica. Desde os primeiros anos
de sua existência oferece linhas de apoio a projetos temáticos para serem
desenvolvidos apenas por pesquisadores ligados a instituições de ensino e
pesquisa, e mais recentemente, voltados a parcerias entre universidades e
empresas.
Além da arrecadação tributária do estado, a Fapesp foi
dotada, em 1962, de um fundo de capitalização equivalente a US$ 2,6 milhões, um
fundo criado para que fosse gerador de recursos e que permitisse à fundação aumentar sua
capacidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento. E foi o que fez. A
Fapesp mantém esse fundo desde então, e hoje, deve ter algo em torno de R$ 1 bilhão investido nesse
fundo, que gera, portanto, anualmente, recursos da ordem de R$ 100 milhões, que
são somados ao 1% da arrecadação tributária
(em 1962 era 0,5%). Isso faz com que tenha 660 milhões,
aproximadamente, de capacidade
orçamentária anual da Fapesp, como explica Carlos Vogt, que presidiu o conselho diretor da instituição no período de 2002 a 2007.
Depois desse primeiro passo foram sendo criadas outras
agências, seguindo o mesmo modelo de atuação da Fapesp, embora todas elas
tenham um orçamento menor. Em termos de execução dos recursos a Faperj
(Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro) é a segunda maior e executou em 2009, R$ 290.300 milhões. Diferentemente das
demais, o percentual de repasse da tributação do estado é de 2%, descontadas as
transferências realizadas aos municípios. Segundo Ruy Marques, diretor
presidente da instituição, os recursos disponibilizados para os programas têm
sido maiores nos últimos anos. Os repasses governamentais passaram de uma média
anual de R$ 91 milhões, entre 2000 e 2006, para R$ 235 milhões entre 2007 e
2010.
Além disso, os recursos financeiros advindos de convênios
com instituições federais saltaram de uma média anual de R$ 9 milhões para R$
35 milhões, nesse segundo quadriênio. Esse aumento se deve ao aumento dos
valores dos próprios convênios que a Faperj mantém com o CNPq (Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e Capes (Coordenação de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), principalmente. Outra fonte
importante nesses últimos anos foram os INCTs
(Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia), que reúnem o maior volume de
recursos já disponibilizados no Brasil para apoio a C,T&I. Só para o estado
do Rio de Janeiro foram R$ 36 milhões. “Um ponto importante desse aumento foi a
recuperação da credibilidade em nossa fundação”, admite Marques.
A FAP que tem a 3ª maior arrecadação é a Fapemig (Fundação
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais) que em 2009 foi responsável
pela execução de R$ 232 milhões. Essas
três FAPs da região Sudeste têm se caracterizado pela oferta de bolsas de
formação (leia reportagem nesta edição) e
programas de pesquisa nas diferentes áreas do conhecimento (exatas, humanas,
biológicas) e também voltados à inovação tecnológica (veja artigo nesta edição). Entretanto, nem toda a região dispõe da mesma situação
privilegiada. A Fapes (Fundação de Amparo à Pesquisa do Espírito Santo) lida
com orçamento bastante inferior. Em 2009, os recursos empenhados foram da ordem
de R$ 5.369 milhões. Maria Tereza Lima, diretora administrativa financeira da
Fapes, explica que a arrecadação provém de 0,5% da receita do estado, mas que é
muito importante a captação através de convênios com outras agências. Além
disso, ela explica que, como a fundação é ainda muito nova, fundada em 2004, a
maioria dos programas são de concessão de bolsas de mestrado, doutorado e
iniciação científica.
Conforme mostra o quadro abaixo,
sobre o orçamento executado pelas FAPs em 2009 é possível observar que os
recursos se distribuem de maneira diferente entre os estados da federação. A região Sudeste é responsável por um total de R$1.254.326.000, maior
que a soma de todas as demais regiões (R$ 470.847.000). Ou seja, um valor 2,6
vezes maior. As diferenças são bastante acentuadas mesmo entre fundações de uma
mesma região, por exemplo, em 2009, a Fapesc (Fundação de Amparo à Pesquisa e
Inovação do Estado de Santa Catarina) teve um orçamento anual executado de R$
44,21 milhões, enquanto a Fapergs (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do
Rio Grande do Sul) teve orçamento de apenas R$ 11,98 milhões.
Orçamento executado
pelas FAPs em 2009
Fonte: Confap Além das diferenças de arrecadação, o que por
si justificaria o orçamento de cada FAP, alguns estados não repassam às
fundações aquilo o que foi estabelecido por lei. Por exemplo, a Fapesc
deveria receber 2% da receita tributária estadual, mas nunca recebeu, como explica o presidente da fundação, Sérgio Gargioni: “nunca
recebemos o valor estabelecido pela Constituição de Santa Catarina, que
determinava 2%. Quando muito, nos foi passado 0,5% das receitas do estado”. Na
mesma situação se encontra a Fapergs, que por lei deveria receber 1,5% da
tributação, o que não é cumprido. Isso prejudica sobremaneira o andamento da
fundação, torna difícil a execução dos programas, uma vez que eles são
planejados de acordo com o repasse previsto e precisam ser programados com
antecedência para garantir que os recursos possam apoiar as ações do
começo ao fim. Como explica o diretor presidente da Fapergs, Rodrigo Costa
Mattos, “nós só pudemos lançar editais próprios há três anos, mas eles são
ainda muito poucos. A maioria dos nossos editais é feito em parcerias com
outras agências, pois não temos como suportá-los com recursos próprios”.
A situação apresentada pelas fundações do Rio Grande do Sul
e Santa Catarina mostra que a vinculação do orçamento com a receita tributária
do estado, é fundamental, no entanto não é suficiente para garantir a boa
administração de uma FAP. Outros fatores podem ser determinantes, tais como:
convênios com outras agências de fomento tais como CNPq, Finep (Financiadora de
Estudos e Projetos), Capes, as próprias fundações estaduais, e também
parcerias com empresas privadas.
A diferença regional
entre as FAPs
As FAPS foram criadas por leis estaduais específicas e
embora tenham um objetivo geral comum, o fomento da ciência, tecnologia e
inovação nos estados, elas também atendem às particularidades de cada região.
Algumas ainda investem primordialmente na formação de recursos humanos, e assim
dão preferência a editais que se destinem à iniciação científica, à formação de
mestres e doutores e à difusão das ciências.
Como é o caso, por exemplo, da Fapesb (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado da Bahia) que trabalha com um grande programa de
pós-graduação, como explica Ana Oliveira, assessora-chefe da fundação, “Nossas
universidades são ainda muito novas, com exceção da UFBA (Universidade Federal
da Bahia), então nós temos que investir na formação de mestres e doutores. E
nos últimos anos, nós temos observado uma crescente qualificação dos docentes,
principalmente das universidades públicas”. Sendo assim, o maior programa da Fapesb é o de
bolsas a doutores e mestres, para o qual destinou em 2009 R$ 23 milhões de seu
orçamento, praticamente metade de tudo o que foi arrecadado naquele ano (R$
42.122.000). A expectativa é que em 2011, R$ 30 milhões sejam destinados a
essas bolsas.
Além disso, cada fundação lança programas e editais que
estejam ligados ao quadro socioeconômico e político de sua região, como por exemplo, a
Fapesb, que tem um projeto em parceria com várias secretarias do estado, o
“Programa de Políticas Públicas”, que lança editais de pesquisas para responder
às necessidades estaduais como segurança pública, saúde e educação.
As FAPs também adotam projetos que atendam às necessidades
geográficas de sua região, como é o caso da Fapeam (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas) que por ser uma área entrecortada por rios,
apresentando dificuldades de comunicação e locomoção, precisa não apenas
desenvolver ciência e tecnologia na capital, mas também criar polos de
desenvolvimento. Maria Olívia Simão, presidente da FAP do Amazonas, explica que
devido a essa situação foram criadas recentemente universidades estaduais no
interior do estado e há um grande desenvolvimento do ensino a distância, para
que toda a região seja atendida.
Congregando
interesses
Diante desse quadro de grandes diferenças regionais e, por
que não dizer, entre um estado e outro, foi criado o Conselho Nacional das
Fundações Estaduais de Amparo à Pesquisa (Confap), em 2007, uma organização que
tem por objetivo melhorar a articulação dos interesses das agências estaduais
de fomento à pesquisa. O objetivo desse órgão é que, trabalhando de
forma integrada
e em parceria com órgãos federais,
os representantes das Faps
possam desenvolver ações
articuladas,
somando recursos e promovendo trabalhos
que tragam resultados
efetivos e garantam
o desenvolvimento para
o país. A atuação do Conselho tem sido
muito bem vista pelas fundações estaduais, como explica Ana Oliveira, da
Fapesb: “o Confap facilitou o diálogo entre as próprias fundações e entre elas
e o governo federal, permitindo a troca de experiências e ampliando a captação
de recursos para as FAPs”.
Essa maior captação de recursos tem ocorrido, conforme era
esperado, pois o Confap ampliou as parcerias entre
as FAPs e as agências federais, tais como CNPq, Finep e Capes, como aponta
Maria Olívia Simão, presidente da Fapeam, “até a criação do Confap, nós não
tínhamos muitas parcerias, não havia editais entre as FAPs e as agências
federais. Mas a partir de 2007, nós passamos a ter muitos editais, inclusive
com o próprio estado podendo determinar quais sãos as áreas prioritárias”.
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