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Nerdologia e a divulgação científica pelo YouTube
Por Por Kátia Kishi
09/08/2015

Ainda é comum imaginar a figura solitária do “nerd”, com dificuldades em encontrar outras pessoas que compartilhem os mesmos interesses e curiosidades, como a paixão por histórias de ficção, tecnologia e conhecimento. Mas esse rótulo tem sido cada vez mais questionado, e até há uma certa popularização de elementos da “cultura nerd” ou “geek”.

Com o aumento desse público curioso, um canal brasileiro vem fazendo sucesso no YouTube e já conta com mais de um milhão de assinantes. Trata-se do Nerdologia, produzido pela Amazing Pixel, com direção de Alexandre Ottoni e Deive Pazos e apresentação do biólogo, pesquisador e divulgador científico Atila Iamarino.

O Nerdologia surgiu no fim de 2013 como uma ideia para aproximar a ciência dos jovens, seguindo uma temática definida e uma linguagem leve, por meio de vídeos de cinco minutos e muitos recursos visuais. Iamarino, que também é um dos fundadores do Scienceblog Brasil, explica que já escrevia sobre ciências em blogs e percebeu que a audiência poderia ser ampliada com a utilização de produtos visuais.

O biólogo relembra que o sucesso começou com uma participação no programa de áudio Nerdcast, em que começou a conversar sobre ciência. “Foi uma experiência muito legal. O público se engajou com o conteúdo, as pessoas participam. E é um contraste de conteúdo, pelo menos até 2010 e 2011, quando começaram a surgir podcasts de ciência. Vimos que podíamos fazer diferente. Fizemos um episódio de ciência dos super-heróis que foi o mais comentado e o mais baixado por muito tempo”, diz.

Com o sucesso, surgiu a proposta de desenvolver vídeos para o YouTube, após o pesquisador se voluntariar a gravar sobre um filme. “Na época, o filme que estava em alta era o World War Z, sobre zumbis, área que adoro pois meu trabalho é com epidemiologia e infecção. Fiz um vídeo de dez minutos sobre o filme e, no meio, aproveitei para falar sobre a ciência envolvida, como vírus, bactérias, venenos. Mandei e me perguntaram se não teria como cortar a parte do filme e falar só sobre a ciência”, lembra.

Entre as curiosidades, Iamarino descontrai ao lembrar que seu público gosta de discussões sobre disputas de personagens com base na ciência, e que religião é sempre um tema delicado. No episódio Quem tem mais poder? entre Hulk, Goku e Super Homem, se usada a fórmula E=MC² o personagem Goku perderia a briga. “Falei que se eles fossem brigar e medir poder, que brigassem com o Silas Malafaia para acabar com uma fonte de ódio no país, e não tinha nada a ver com religião. Mas chegamos ao fim do vídeo e havia dois comentários falando ‘Atila, você não devia falar assim do senhor Silas Malafaia’. Mas também tive 10 mil comentários falando que eu não podia falar que o Goku perderia do Superman e do Hulk. Aprendi, não falo de religião”, diz.

Iamarino também explica que o engajamento com o público é muito grande quando se utiliza a linguagem adequada, mas alerta que as universidades e pesquisadores não precisam, necessariamente, criar um canal no YouTube para divulgar ciência. Nem por isso, também, devem negligenciar a importância da divulgação científica para promoção de seus trabalhos, bastando procurar os centros ou pessoas que já fazem divulgação científica.

Como exemplo, ele narra o caso de uma pesquisadora que publicou, junto com seu artigo, um vídeo curto expondo seu experimento e que, por coincidência, estava relacionado a um dos episódios do Nerdologia. “O vídeo tinha aproximadamente 60 visualizações no YouTube, mas estava com uma licença que eu podia usar. Inseri no episódio do Capitão América, falando da pesquisa dela, do artigo, citando-a. Já são quase 400 mil visualizações até agora. O fato de ela ter produzido o material, e ter deixado disponível, me ajudou, dentro do que faço, a falar do trabalho dela”.

Além do grande público presente no YouTube, o pesquisador comemora que seus vídeos não se restringem ao ambiente online, e estão presentes no Hospital Emílio Ribas, como um episódio sobre vacinas, e também são transmitidos em salas de aula para introduzir discussões científicas. Ele ressalta que, inclusive, esse é um dos papéis do canal, de induzir a curiosidade e o debate.