10/10/2016
O documentário “As Sementes” retrata com sensibilidade e
profundidade o que é a experiência de viver a partir da agroecologia. Esse tipo
de cultivo é menos agressivo ao meio ambiente, promove a inclusão social e oferece
melhores condições econômicas aos produtores. Além disso, desenvolve-se como área
de pesquisa multidisciplinar, abordando a transição do modelo de agricultura predominante
para a produção de base ecológica e sustentável. Os diretores do documentário, Beto
Novaes e Cleisson Vidal, apresentam esse universo a partir do olhar de
quatro mulheres de diferentes regiões brasileiras. Elas relatam a sua atuação como
produtoras de agroecológicos, como membros de organizações de mulheres, e
também como esposas e mães nesse contexto.
Como a agroecologia abrange o desenvolvimento social, os relatos
também dão uma ideia da transformação pela qual elas passaram à medida que
entenderam cada vez mais seus direitos e deveres como cidadãs. Nos depoimentos,
essas trabalhadoras contam como foi a inserção nesse sistema, os desafios que
enfrentaram, inclusive questionamentos que sofreram da família e da comunidade
que desconfiavam do modelo agroecológico e da independência que elas estavam
adquirindo.
Sobre a participação em organizações populares e feministas, elas
contam como passaram a refletir sobre gênero, geração de renda e divisão de
tarefas. Falam sobre a necessidade de conscientização sobre essas questões em
casa, na comunidade, sobre economia solidária, atuação política local e global.
Com a experiência agroecológica, elas passaram a buscar também
melhorias nos processos de trabalho, maneiras de agregar valor ao que produziam,
tecnologias ou alternativas de produção que fossem além dos produtos obtidos no
campo, em caso de seca ou outros obstáculos à produção.
Maria Andrelice Silva dos Santos, de Camumu (BA), recorda como
rompeu barreiras, já no início da jornada, em 1998: “Quando a gente começou a
trabalhar nessa atividade, muita gente dizia até que a gente era louco e que ia
morrer de fome”. Neneide Lima pensa em expandir a produção em seu quintal, em Mossoró
(RN), e afirma que “hoje quem mais se identifica com agroecologia são as
mulheres, por mais que isso não saia nas pesquisas”. O trabalho ao redor de
casa permite a elas renda extra e encanta por promover o cultivo ao mesmo tempo
em que preserva a diversidade do meio
ambiente.
“O que eu ganho deixando de gastar?”, orgulha-se a mineira
Efigênia Tereza Marco de Acaiaca (MG), porque tira do próprio terreno alimentos
de qualidade para a família, e ainda fornece produtos a escolas, restaurantes e
consumidores diretos. “Nosso supermercado é ao redor de casa, é chegar e colher”,
acrescenta Izanete Colla de Ibiaçá (RS).
Porém, a agroecologia é uma atividade socialmente invisível: os
alimentos suprem as famílias, trazem renda extra, mas não são vistos como uma
produção formal, segundo o depoimento de Neneide.
Outra questão relevante, e que intitula o documentário, é o uso
das sementes que para elas têm um valor econômico e também simbólico. As
sementes obtidas nas próprias produções agroecológicas são multiplicadas e
armazenadas. Os ângulos fechados escolhidos pelos documentaristas mostrando a grande
quantidade e qualidade das sementes nos ajudam a entender a dimensão do
empoderamento presente nessas práticas. Com sementes próprias, elas não dependem
do mercado e isso é fundamental para a manutenção de suas atividades e
crescimento da produção.
Izanete traz um dos depoimentos mais impressionantes do vídeo ao
refletir a respeito do modelo de produção agrícola que visa o lucro em
detrimento da natureza e também subjugando as mulheres. “Acreditamos que só nós
podemos mudar isso. Temos que desconstruir essa cultura, algo que poderá levar
gerações”, diz.
O filme é de 2015 e foi produzido com o apoio institucional do
Ministério do Desenvolvimento Agrário e da Fundação Universitária José
Bonifácio, com a realização da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
As
Sementes (2015)
Gênero: documentário
Duração: 30 minutos
Disponível
no Youtube
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