08/07/2015
Durante a década de 1940, o mundo presenciou a Segunda Grande Guerra Mundial. Sob os holofotes da imprensa que fazia a cobertura da guerra, que se tornara um evento midiático, as pessoas eram informadas sobre os avanços nazistas e contra-ataques dos aliados.
Entretanto, jornalistas pouco tinham acesso ao desenvolvimento da guerra dentro dos laboratórios. Era neles que os cientistas de diferentes nacionalidades trabalhavam para os governos dos diferentes países envolvidos, a fim de encontrar as melhores maneiras de vencer ou acabar com o conflito.
A ciência e a tecnologia tomavam corpo em armas de combate e em estratégias de guerra. Os alemães tinham a máquina Enigma, um instrumento eletromecânico que utilizavam para criptografar suas mensagens, tidas como indecifráveis pela multiplicidade de combinações. Era um trunfo nazista, e quebrar seus códigos era o objetivo dos exércitos aliados.
Na obra cinematográfica The imitation game (O jogo da imitação, no Brasil), o diretor Morten Tilden, apresenta a biografia do matemático Alan Turing. Ele foi um pioneiro no desenvolvimento da ciência computação e liderou o grupo de estudiosos no projeto Ultra, responsável por decifrar os códigos de guerra da Alemanha nazista vindos pela Enigma.
O ator inglês Benedict Cumberbatch interpreta o pesquisador nos 114 minutos do filme biográfico, que conta a história do líder do Hut8, seção responsável pela análise das mensagens da frota naval alemã. Turing criou também o que se considera o ancestral do computador.
A ideia central do filme, assim como de todo o trabalho de Turing, aproxima a matemática da linguagem por meio da criptografia, da construção algorítmica e de uma inteligência artificial capaz de traduzir palavras em códigos, e códigos em ações. O título do filme refere-se justamente a um teste com o mesmo nome, em que ele discutiu o seu papel na inteligência artificial e apresentou a proposição de que as máquinas podem pensar, apenas a partir de como definimos o significado dos termos máquina e pensar.
Os feitos do professor Alan Turing durante a guerra permaneceram secretos até recentemente, e ele não obteve o reconhecimento de seu trabalho em vida. Em 1952, foi processado criminalmente após um suposto assalto, quando a polícia descobriu sua homossexualidade, que era considerada ilegal no Reino Unido na época. Turing aceitou o devastador tratamento com hormônios e castração química como alternativa à prisão.
O filme destaca que a grande paixão da vida do cientista era o trabalho, e a escolha pela castração química talvez fosse um ato em favor do desenvolvimento do mesmo. Ele morreu em 1954 devido a um suposto auto administrado envenenamento por cianeto.
Somente 55 anos após sua morte, o governo inglês fez um pedido oficial de desculpas público pela forma como trataram Turing, que se configurou como um herói anônimo da vitória dos aliados na Segunda Guerra Mundial. Em 24 de dezembro de 2013, o professor recebeu o perdão real da rainha Elizabeth II da condenação por homossexualidade.
Turing é um exemplo dos diversos cientistas que, trabalhando longe dos campos de batalhas e dos holofotes da imprensa, participaram do desenrolar da guerra, e contribuíram para o rápido avanço tecnológico mundial. Além de ser responsável pela criação de um novo campo de pesquisas científicas, estima-se que ele possa ter salvo mais de 14 milhões de pessoas com a decifração da Enigma e com a consequente antecipação do fim da guerra.
O filme, de certa forma, mostra como a ciência se desenvolve, com um pequeno grupo de pessoas, independentemente de preconceitos, e longe do conhecimento geral. Cientistas que trabalham criando instrumentos e elaborando ideias que modificam para sempre a vida das pessoas. E, mesmo sem reconhecimento, deixam sua marca na história.
Filme: O jogo da imitação
Ano: 2014
Diretor: Morten Tilden
Trailer: https://www.youtube.com/watch?v=YIkKbMcJL_4
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