Ainda é cedo para dizer que direção vai tomar a política do
presidente dos Estados Unidos Barack Obama para o Oriente Médio. Para Stephen
Walt, que ensina e pesquisa relações internacionais na Escola Kennedy da
Universidade Harvard, porém, uma coisa, é certa: os Estados Unidos continuarão
impopulares na região se derem prosseguimento às políticas adotadas nos últimos
30 anos ou mais. Outra quase certeza, segundo Robert Naiman, analista político
sênior e coordenador nacional da organização não-governamental norte-americana Just Foreign Policy,
está no fato de que ainda haverá aliados e inimigos na região no futuro
próximo. “E, quando se fala em direitos humanos, sempre houve padrões distintos
para aliados e inimigos”, pondera Naiman sobre uma ambivalência que deve se
manter.
Walt diz que há diversos sinais encorajadores da prontidão
do novo presidente para explorar novas maneiras de abordar a região. Naiman
afirma ser provável que a promoção da democracia e dos direitos humanos não
estará no topo da lista de prioridades dos Estados Unidos. “Mas isso é uma boa
coisa”, diz Naiman. “Os esforços passados no Oriente Médio sob essa bandeira
foram amplamente hipócritas, tinham motivações secretas e se mostraram
contraproducentes”, acrescenta o analista político, cuja organização pretende
mudar o mundo mudando a política externa do próprio país. Já para Walt, não há
por que não seguir estimulando os países da região a mudar políticas
consideradas erradas. “No entanto, não devemos usar a força militar para impor
esse tipo de mudança de fora para dentro”, afirma.
A invasão do Iraque tornou-se um grande obstáculo para os
movimentos democráticos na região. “A maior prioridade dos Estados Unidos no
Oriente Médio é promover a resolução pacífica e política dos conflitos. Quando
houver paz, o espaço político para movimentos dissidentes vai aumentar
dramaticamente”, completa Naiman. A redução do nível de confronto e o
engajamento numa diplomacia real poderiam surtir um impacto substancial,
aumentando o espaço para ações democráticas.
Naiman considera que os Estados Unidos atualmente se
encontram tão desacreditados para a opinião pública árabe, que acabam
prejudicando a causa dos direitos humanos nos países árabes quando tocam no
assunto. Antes de mudarem suas políticas na região de modo a angariar maior
apoio público, Naiman acredita que o discurso norte-americano não terá peso.
“Em relação aos árabes, a mudança mais importante deve ser o engajamento numa
diplomacia real com países como o Irã e a Síria e organizações como o Hizbollah
e o Hamas”, diz Naiman. “Isso vai reduzir substancialmente o nível de confronto
como uma desculpa para a repressão, aumentando o espaço para os movimentos
democráticos”, vaticina.
Segundo Walt, também é preciso que mude a relação dos
Estados Unidos com Israel, de uma “relação especial” para uma “relação normal”.
“Deveríamos tratar Israel da mesma maneira como tratamos outras democracias”,
afirma Walt, “o que significa apoiá-los quando fizerem coisas que aprovamos ou
que nos interessam, e pressioná-los a mudar de comportamento quando fizerem
coisas que não interessem aos Estados Unidos”.
Num livro recentemente lançado, Walt – juntamente com o
colega John Mearsheimer – defende que seu país não dê apoio incondicional a
Israel, ainda que existam valores em comum entre os dois países, e também que os
Estados Unidos ajudem Israel apenas no caso de sua sobrevivência se ver ameaçada. Primeiro,
porque os valores políticos podem ser afins, mas não são idênticos. “Em
particular, discutimos que a negação de direitos políticos – e de um Estado
próprio– aos palestinos é contrária aos interesses dos Estados Unidos e aos
valores norte-americanos”, completa Walt.
Na análise de Naiman, o principal foco norte-americano em
Israel deve ser “falar grosso” contra a expansão dos assentamentos na
Cisjordânia, o que poderia vir como uma insistência na suspensão real dos
assentamentos como condição para que o país continue recebendo ajuda. “Não está
claro em que medida isso vai mesmo acontecer, mas é possível. A imprensa
israelense tem estado cheia de especulações: Obama vai de fato insistir num
congelamento?”, conta. “Sem essa mudança, a diplomacia dos Estados Unidos numa
solução do conflito Israel x Palestina que resulte em dois Estados não
passará de uma charada e podemos assistir a mais explosões de violência”,
conclui.
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