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Editorial
Economia digital
Por Carlos Vogt
10/10/2006

Desde sua invenção, há cerca de 60 anos atrás, a televisão não pára de crescer em uso e audiência e não pára de inovar, tecnologicamente falando, para maior conforto, prazer e sedução do prezado telespectador, que é também o dileto consumidor das marcas e produtos dos anunciantes.

O Brasil hoje está entre os países que se destacam entre os de maiores mercados de TV aberta em todo o mundo, com cerca de 100 milhões de aparelhos e com uma distribuição que faz com que 96% dos lares brasileiros tenham ao menos 1 aparelho de TV.

É um mercado poderoso com um grande potencial de crescimento e expansão em termos de movimentação econômica e financeira.

Não é, pois, de espantar toda a disputa que tem cercado o processo de escolha e definição do padrão de TV digital a ser adotado no país e que deve começar a operar a partir do ano que vem, com um prazo de implantação total de 15 anos.

Depois de muito vai-e-vem, de muita peleja e jogo de influências, o governo brasileiro encaminhou a escolha para o padrão japonês, em detrimento do europeu e do norte-americano.

Mas a partida parece não ter ainda terminado. Há recursos na justiça e contestações legais que poderão esticar o assunto além do tempo regulamentar, entendido como o tempo dos interesses daqueles que estão do lado de quem ganhou e que estão ansiosos para ganhar mais.

Sem entrar nos merecimentos tecnológicos dos padrões em litígio e considerando que há uma decisão formal a favor dos japoneses, a estimativa é que, iniciando-se o processo efetivo de conversão do analógico para o digital, o mercado de TVs no Brasil, para adequar o sistema de emissão, transmissão e recebimento de imagens deverá movimentar algo em torno de 7 bilhões de dólares, dos quais 5 bilhões para a compra pela população dos aparelhos conversores (set-top boxes) ou de TVs digitais, e o restante no atendimento das demais necessidades de infra-estrutura tecnológica adequada ao funcionamento do sistema.

Se considerado mundialmente, é um mercado que mostra números espetaculares e em ascensão. Hoje são cerca de 29 milhões de residências com TV de alta definição que deverão superar os 100 milhões em 2010, contando apenas os aparelhos já capazes de receber o sinal digital sem conversores. Somem-se estes àqueles e tem-se uma idéia do tamanho desse mercado global e de sua capacidade de movimentação financeira nos mercados do mundo.

É aí que o Brasil está ingressando, e é no limiar desse novo admirável mundo novo da imagem e do simulacro que é preciso procurar entender as vantagens e desvantagens do digital versus o analógico. O que é que ganhamos e o que é que perdemos na escolha de um padrão ao invés de um outro, se há espaços para a participação ativa das tecnologias de informação e de comunicação brasileiras no sistema adotado e se, de fato, tal adoção amplia a possibilidade da tão decantada inclusão digital, que todos propalamos também como via virtual da efetiva inclusão social na chamada economia do conhecimento, que tão bem caracteriza as relações de trabalho e a dinâmica da produção no mundo contemporâneo.