Como arquitetar planos e não alturas, fazer a casa ir sem novidade embora, traçar a linha divisória da porta por-onde e da porta-contra, juntar vazios que prometem vidas, as ameaças em desconforto, fora?
É preciso no plano arquitetar o espaço como se feito de um xadrez de ausências, que rima oposições fora de compasso e escala o tempo como um conta-gotas, que pinga chuvas de concreto e aço.
Eu, sim, gosto da arquitetura nova, mesmo quando gosto do poeta sem novidade para dizer que tudo passa e tudo continua no traço-muro que, se divide os quartos, junta corredores para assombrar a lua.
A arquitetura do poema educa pela confissão da forma quem nele vive, neste texto-casa, vive à espreita, como em partitura, do livro aberto feito dos silêncios em que jaz a música para ser leitura.
Nada escapa à intenção do traço, que por contornos delimita áreas, que por extornos vão ficando aéreas, plantam no chão novas geografias, voam assentadas como doces feras. Como o pedreiro, ao ajustar o prumo, assenta as partes que farão do todo parte outra vez de uma divisão do espaço que ganha tempo pela permanência do periódico no que é ilimitado.
A casa em que morou a nossa infância, território desse país inexistente, plena de paredes, labirintos e janelas, revela sob a luz que as corta e queima a nova paginação de histórias velhas.
Para o arquiteto-pedreiro-engenheiro-construtor tornar o mundo justo, como lhe quer a poesia, não é questão de justiça, nem de alegoria, tampouco um compromisso retórico com a política; torná-lo justo, dando-lhe justeza, é considerar que o brutalismo, que expõe de dentro a sua indústria em manufatura, cozinha a forma como um depoimento de que o pesado é leve, o estendido é ponto, o ágil é lento.
E a casa que com casas é texto e faz cidade, não por acréscimo, soma, peças justapostas, mas por sintaxe de insubordinação, um dia, máquina de felicidade, é um signo feito de concreto que funde na matéria e na imagem a cidade de fato com o fato de sua imaginação.
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